por Roberto Kaz e Leila Salim
Anúncio de “plataforma complementar” à UNFCCC lotou coletiva e teve duras críticas ao rascunho de decisão de Belém, que por ora não cita o tema
DO OC – “As crianças do ensino primário estão lendo textos que têm mais base na ciência e na realidade do que os textos que estão sendo produzidos nesta COP. Um texto sobre clima que não consegue mencionar combustíveis fósseis é um texto sem compromisso com a verdade.”
A declaração, do panamenho Juan Carlos Monterrey-Gómez, foi dita nesta manhã, durante a coletiva de imprensa convocada pela Colômbia para anunciar a realização de um encontro, no próximo ano, com mais de 80 países frustrados com o fracasso em incluir um roteiro pelo fim gradual dos combustíveis fósseis nos textos da COP30 (a prévia dos textos, publicados nesta manhã, não faz nenhuma referência ao assunto – mas eles ainda sofrerão alterações até o fim da conferência).
A coletiva, realizada nesta manhã na Blue Zone da COP30, foi comandada pela ministra do Meio Ambiente da Colômbia, Irene Velez-Torres, e contou com falas de representantes da Holanda, Panamá, Chile, Espanha, Tuvalu, Luxemburgo, Ilhas Marshall, Vanuatu e Eslovênia. A lista completa de países que integram a coalizão ainda conta com economias fortes como Alemanha, Reino Unido, França, México e Coreia do Sul, entre outros.
“Essa COP não pode terminar sem um roadmap claro, justo e equitativo para a eliminação gradual global dos combustíveis fósseis. Não estamos pedindo um documento vazio, ou um anúncio vazio. Acreditamos que há um consenso emergindo das pessoas ao redor do mundo. E nós, líderes, como os responsáveis pelas decisões que irão impactar as gerações futuras, temos a responsabilidade moral de ecoar as demandas por justiça climática e pela eliminação dos combustíveis fósseis”, disse Velez-Torres.
O encontro, organizado em conjunto por Colômbia e Holanda, acontecerá nos dias 28 e 29 de abril, na cidade de Santa Marta, na Colômbia. Será a primeira conferência internacional de grande porte para a construção de um caminho de transição justa para longe dos combustíveis fósseis. “A Colômbia convoca todos os países a estarem conosco em Santa Marta. O fim dos combustíveis fósseis é inevitável O que precisamos decidir é como e quão rápido ele acontecerá”, complementou.
Ainda segundo a ministra colombiana, a conferência lançará uma coalizão complementar à UNFCCC, composta por governos e outros setores da sociedade, para analisar os caminhos legais, econômicos e sociais para a eliminação dos fósseis. “Vamos discutir mecanismos financeiros, de comércio, desafios macroeconômicos, o fim dos subsídios aos fósseis, as salvaguardas para o extrativismo, a aceleração das energias renováveis, a diversificação econômica e muitos outros temas”, anunciou.
“Existe um momentum para dar o fim gradual ao uso de combustíveis fósseis. E agora é hora de capitalizar em cima disso”, disse Sophie Hermans, ministra do Clima da Holanda. “Quando nos reunirmos, na Colômbia, faremos um inventário das alavancas que poderemos puxar para transformar palavras em projetos.” Também da Europa falou Serge Wilmes, ministro do Meio Ambiente, Clima e Biodiversidade de Luxemburgo, país minúsculo, com o maior PIB per capita do mundo: “Sem mitigação das emissões, estaremos presos numa roda sempre crescente dos custos de adaptação.”
Maina Talia, ministro das Mudanças Climáticas de Tuvalu, avisou que o segundo encontro da coalizão tem chances de ocorrer em seu país – decisão que pode vir a ter forte simbolismo, já que o arquipélago corre risco de desaparecer em função do aumento do nível do mar (aumento esse causado pelo degelo no Ártico, que é causado pelo aumento do calor, que decorre do aumento de gases de efeito estufa na atmosfera, que tem 75% das emissões vindas da queima de combustíveis fósseis). “Após 30 anos de negociações, esse processo está falhando. Não iremos esperar. Atuar é uma obrigação legal”, falou.
Ralph Regenvanu, ministro das Mudanças Climáticas de Vanuatu, reforçou a mensagem das ilhas do pacífico e destacou que a crise do clima impede que essas populações possam autodeterminar seus futuros. “Nós sabemos que a principal causa disso são os combustíveis fósseis. Nós viemos a Belém para ver a Convenção do Clima da ONU propor um mapa claro para a transição para a eliminação gradual dos fósseis. E hoje, no último dia, infelizmente ainda não temos isso”, disse. “Por isso, precisamos construir esse grupo de países que vai fazer isso acontecer, e também para fortalecer o processo na UNFCCC na próxima vez que nos encontramos, no ano que vem na Turquia”, completou.