Via Esquerda.net
Por entre um mar de bandeiras arco-íris, uma multidão enorme saiu à rua na capital húngara para a 30ª edição da Marcha do Orgulho LGBTQI+, a maior de sempre apesar de proibida pelo governo. “Isto é pelos direitos de todas as pessoas na Hungria e em todo o lado”, sublinha a eurodeputada Catarina Martins, presente nesta marcha.
O primeiro-ministro húngaro não se cansou de repetir apelos à população para cumprir a lei, o que neste caso significaria obedecer à proibição da realização do Budapest Pride, a Marcha do Orgulho LGBTI+ que todos os anos se realiza na capital da Hungria. A lei aprovada este ano pela maioria de extrema-direita, sob o pretexto de proteger as crianças, proíbe a realização de eventos públicos destinados à comunidade LGBT em todo o país.
Apesar da ameaça de multas pesadas e penas de prisão até um ano, e da instalação esta semana de dezenas de câmaras de videovigilância com reconhecimento facial nas ruas do percurso da marcha, os húngaros decidiram desafiar essa proibição e compareceram em massa ao que já é apontado como o Pride mais participado da história. A imprensa internacional destaca a presença de pessoas de todas as idades e do ambiente de festa.
Os sinais de repressão fizeram-se sentir também pouco depois do arranque da marcha, quando a polícia formou uma barreira para impedir o trajeto definido pela organização, obrigando-a a mudar para outras ruas.
“Foi um sentimento fantástico de solidariedade entre vários grupos aqui na Hungria, não apenas os da comunidade LGBTQI+ mas também entre todos os que se opõem a este sistema e querem levantar a sua voz contra ele”, disse ao Esquerda.net a ativista LGBTQI+ Könnyü Hella.
Entre as dezenas de eurodeputados de vários grupos políticos que se deslocaram a Budapeste para participar nesta marcha esteve a ex-coordenadora bloquista Catarina Martins. Em declarações ao Esquerda.net durante a marcha, disse que “esta é provavelmente a maior manifestação em que já estive na minha vida”.
“O Pride foi proibido pelo Orbán, mas autorizou ao mesmo tempo várias organizações neonazis e de extrema-direita, desviou o percurso do Pride e deu prioridade ao percurso dos fascistas”, prosseguiu a eurodeputada do Bloco.
O aspeto mais importante a reter desta iniciativa, sublinhou Catarina, é que “isto não é apenas pelos direitos das pessoas LGBT - e se fosse já era preciso e tinha de ser feito. Isto é pelos direitos de todas as pessoas na Hungria e em todo o lado, porque se permitimos este tipo de ação, então não termos nenhuma liberdade”.
“Quando pensarem na Hungria não pensem em Orbán, mas neste povo que saiu hoje à rua”
Para Rutz Tamás, dirigente do partido Szikra (Centelha), “o povo húngaro enviou uma mensagem forte ao mundo de que não quer opressão e que não apoia Orbán. Apelo às pessoas de todo o mundo que quando pensem na Hungria não pensem em Orbán, mas neste povo que saiu hoje à rua”.
Criado em 2020 por ativistas que apoiaram no ano anterior campanhas municipais de candidatos da esquerda e verdes, o Skira tem sido alvo do aumento da repressão por parte de Orbán. “O governo já tentou colar o nosso partido a grupos violentos e até a grupos pedófilos, espalham notícias falsas sobre nós e dizem que somos uma ameaça à segurança das crianças agora com esta nova lei. A nova lei contra as ONG e o financiamento externo também nos afetou, ao deixarmos de poder receber donativos de organizações solidárias da esquerda de outros países”, afirmou Rutz. Quanto ao objetivo imediato deste movimento, disse que passa por continuar a “construir uma nova esquerda, com novas políticas e novas caras” que protagonizem a oposição mais combativa ao regime de Orbán.