Reunida nesta segunda-feira (30), a Executiva Nacional do PSOL aprovou uma resolução sobre a conjuntura política internacional, com a posição do partido sobre diversos temas, como pelo fim do genocídio contra o povo palestino e a devida responsabilização de Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, o combate à escalada de violência no Oriente Médio e o apoio a alternativas políticas de enfrentamento à extrema-direita na América Latina, na Europa e nos EUA.
O documento se foca primeiramente no mais urgente tema da política internacional no momento: o genocídio cometido contra o povo palestino, que teve no conflito de duas semanas entre Israel e Irã seu novo fato mais recente.
“O PSOL esteve a todo tempo contra a escalada da guerra no Oriente Médio. Estamos ao lado de todas as vozes que buscam transformar o atual cessar-fogo em um acordo de paz duradouro”, diz trecho da resolução.
Em seguida, o partido aponta a importância da “unidade para barrar, nas eleições e nas ruas, o crescimento de alternativas de extrema direita”, assim como da construção de alternativas políticas socialistas que respondam às “demandas concretas, atuais e históricas da classe trabalhadora em cada país”.
Dentre as novidades apontadas pelo PSOL estão a criação da Aliança da Esquerda Europeia (ELA), novo partido da esquerda europeia que une diversos partidos que são parceiros de longa data do PSOL, e a vitória do jovem socialista e muçulmano Zohran Mamdani nas prévias do partido Democrata para concorrer à Prefeitura de Nova York, nos EUA.
A massiva mobilização LGBTQIA+ nas ruas da Hungria em resposta à perseguição do governo de extrema-direita de Viktor Orbán à comunidade, assim como o combate nas ruas da Argentina às medidas de austeridade de Javier Milei e às políticas de lawfare contra a ex-presidenta do país Cristina Kirchner também contam com o apoio do PSOL.
O partido também acompanha vitórias políticas da esquerda na América Latina, como a aprovação de uma reforma trabalhista progressista na Colômbia governada por Gustavo Petro e diversos avanços recentes aprovados no México governado por Claudia Sheinbaum. Manifestações de ambientalistas e povos indígenas no Equador e de trabalhadores no Panamá também são acompanhadas de perto pelos dirigentes do PSOL.
Leia a resolução na íntegra abaixo:
- O mundo assistiu com horror à guerra que durou doze dias desencadeada pela agressão injusta de Israel contra o Irã iniciada no último 13 de junho. A estratégia de dominação imperialista israelense na região tem seu ponto mais grave no genocídio contra o povo palestino, mas já culminou em ataques ao Líbano, à Síria, ao Iêmen e à fronteira do Egito. Em relação ao próprio Irã, Israel já havia bombardeado a embaixada do país em Damasco há cerca de um ano. Em 12 dias de confronto, ao menos 638 pessoas morreram e mais de 8 mil ficaram feridas. A justificativa de Benjamin Netanyahu para agredir o Irã e desencadear a guerra foi desonesta, pois a propaganda de um tipo de guerra “preventiva” para evitar o avanço do programa nuclear do país não encontra fundamento em provas. Aliás, Israel é o único país do Oriente Médio que não assinou o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP).
- Donald Trump tem responsabilidade ativa pelas mortes ocorridas nos doze dias. Além dos Estados Unidos ter fornecido armas e apoio diplomático à Israel desde o início do genocídio do povo palestino e das primeiras declarações a favor da “rendição total do Irã”, no dia 21 de junho o país jogou suas bombas diretamente neste país. Mais do que isso: os Estados Unidos lançaram mão da maior bomba não nuclear já conhecida pelo mundo, de sua propriedade exclusiva. Para piorar, isto ocorreu depois que o governo iraniano já tinha buscado ajuda internacional para um possível cessar-fogo.
- Após doze dias de confronto, um cessar-fogo finalmente entrou em vigor. Publicamente, cada um dos três países envolvidos reivindica para si o balanço da vitória. O Irã mostrou capacidade de resistência ao objetivo declarado de Israel da derrubada de seu governo. Também mostrou que o “domo de ferro” de Israel não é infalível. Já Israel não obteve seus objetivos estratégicos, mas Netanyahu mostrou mais uma vez seu interesse e capacidade de ampliar a guerra por diferentes meios e frentes. Também fez isso em um momento onde crescia a pressão internacional contra o genocídio cometido contra o povo palestino que, aliás, seguiu ininterrupto durante os doze dias de guerra contra o Irã. Donald Trump já está fazendo propaganda do seu papel no confronto em favor do aumento da sua popularidade no país. O PSOL esteve a todo tempo contra a escalada da guerra no Oriente Médio. Estamos ao lado de todas as vozes que buscam transformar o atual cessar-fogo em um acordo de paz duradouro.
- A questão palestina está situada em meio a essas dinâmicas geopolíticas de disputa de poder na região. São 80 anos de colonização do território palestino, mas desde outubro de 2023, o que assistimos é a um dos maiores crimes cometidos contra a humanidade da história contemporânea. Um genocídio televisionado. Está em debate portanto a solidariedade ao povo palestino como uma questão humanitária e civilizatória. Mas além disso, está em questão a necessidade de defesa da soberania e da autodeterminação de povos ainda colonizados, como é o caso palestino, ou que adquiriram sua independência nas últimas décadas. A defesa da autodeterminação dos povos da periferia do capitalismo diante do imperialismo é uma questão programática para o PSOL.
- Lamentavelmente, Netanyahu desfruta de impunidade porque as principais potências do mundo têm fechado os olhos ou não têm tomado iniciativas contundentes para impor um freio à agressão à soberania dos países do Oriente Médio, para as sucessivas violações do direito internacional e os repetidos crimes contra a humanidade cometidos por Israel. Por essa razão, é tão urgente cobrar de governos para que rompam relações comerciais e diplomáticas com Israel. O Itamaraty e o governo Lula já condenaram o genocídio do povo palestino, mas é muito importante ir além e romper acordos comerciais e relações diplomáticas com esse país. O PSOL tem participado de mobilizações a favor dessa agenda, pois é necessário isolar e deter Israel a nível internacional, lutar para colocar Netanyahu no banco dos réus. As decisões do Tribunal Internacional de Justiça e do Tribunal Penal precisam ser cumpridas para acabar com o genocídio, a guerra e a impunidade.
- Ainda, sabemos que o mundo é hoje mais perigoso porque figuras da extrema direita, como Trump e Netanyahu, cresceram em todos os continentes. É um contexto de crise do próprio capitalismo, do modelo de governança e do sistema de Estados construído após a segunda guerra mundial. Vemos com enorme preocupação o crescimento do investimento em armamento na Europa, do discurso em torno da autonomia estratégica e a construção do que já tem se chamado de “novas economias de guerra” na região. No mesmo sentido, o papel da OTAN tem sido de ampliar as provocações e as tensões geopolíticas. Por essa razão, também é uma questão programática para o PSOL defender o fim da OTAN em um contexto de ampliação das agressões imperialistas e ofensivas neocoloniais.
- Por essa razão, a disputa de um projeto da esquerda socialista está conectado com duas tarefas fundamentais. A primeira é a construção da unidade para barrar, nas eleições e nas ruas, o crescimento de alternativas de extrema direita. A segunda é a construção de alternativa política à barbárie, de disputa de um projeto socialista à altura de responder às demandas concretas, atuais e históricas da classe trabalhadora em cada país.
- Por isso, valorizamos a criação do novo partido da esquerda europeia e a vitória de Zohran Mamdani nas prévias do partido democrata para a disputa da prefeitura em Nova York. A Aliança da Esquerda Europeia (ELA) é formada pela França Insubmissa, Podemos da Espanha, Bloco de Esquerda de Portugal, entre outros partidos da região. O lançamento da ELA acompanha a apresentação de um programa para enfrentar o crescimento da extrema direita, defender a paz contra as propostas de rearmamento dos países da União Europeia e busca recolocar no centro da política demandas da esquerda como a taxação das grandes fortunas. Já em Nova York, há outro sopro de esperança com Zohan, um jovem socialista de 33 anos, nascido em Uganda e de ascendência indiana, que venceu as prévias apresentando a necessidade de transporte público gratuito, creches municipais, congelamento do aluguel social e taxação dos bilionários. O resultado positivo das prévias em Nova York pode ser explicado também pela importância das mobilizações antifascistas e anti oligarquia lideradas por Bernie Sanders e Ocasio Cortez e pelos corajosos protestos realizados no mês de junho de 2025 em Los Angeles contra a política do governo Trump contra os imigrantes.
- Também valorizamos a mobilização das LGBT+ que tomou as ruas de Budapeste no último final de semana, desafiando a proibição do governo de extrema direita de Orbán à realização da parada do orgulho na Hungria. A coragem dos mais de cem mil que foram às ruas para celebrar Stonewall é um exemplo da importância das mobilizações sociais para enfrentar a extrema direita.
- Na América Latina, olhamos com preocupação para o que vem se passando na Argentina. Javier Milei segue na ofensiva com a aplicação de medidas antipopulares. A política da motosserra e o discurso em torno da “Liberdade avança” tem resultado em forte política de austeridade e privatização. A sucessiva aplicação de ajuste fiscal nos investimentos de saúde e educação, o fim de mais de 50 mil empregos públicos e o recente veto à possibilidade de ajuda do Estado na reconstrução de Bahia Blanca, cidade argentina devastada por inundações, vem junto com um discurso de “cruzada contra um culto ao estatismo”.
- Os elogios do FMI e da imprensa liberal à diminuição da inflação no país não refletem a realidade. A economia argentina está na UTI, em dinâmica recessiva e com índices de pobreza elevados. No primeiro trimestre de 2025, o desemprego voltou a subir para 7,9% e há nítida redução do poder de compra da população argentina, especialmente entre funcionários públicos e aposentados. Frente ao anúncio recente de que novos cortes nos investimentos públicos estão sendo planejados, protestos de servidores da saúde e em defesa da educação ocorreram nesta semana. Assim, o PSOL declara seu apoio às mobilizações populares na Argentina contra Javier Milei e o ajuste fiscal.
- Para agravar o quadro no país, a Corte argentina confirmou uma pena de seis anos e a inabilitação para o exercício de cargos públicos de Cristina Fernández Kirchner. Uma decisão sumária que interfere em próximos processos eleitorais. Não é uma novidade o uso do judiciário como arma de perseguição política. Essa é uma das marcas de um tipo de autoritarismo que nós já vimos ser aplicado no contexto da Lava Jato e do golpe contra Dilma Rousseff no Brasil. Longe de representar um sinal republicano de combate à corrupção, o que vemos no caso contra Cristina Kirchner é parcialidade, seletividade e conexão entre setores judiciais e empresariais. Esse caso de lawfare contra Kirchner se situa em uma mesma estratégia discursiva da extrema direita supostamente “anti-corrupção” mas que não tem nada a ver com ética institucional e sim com a estigmatização de adversários políticos, defesa de um modelo autoritário de regime e combate ao Estado. Por essa razão, a ampla maioria da esquerda argentina, não só a peronista, condenou a decisão da Corte e saiu às ruas para denunciar o caso. Nesse sentido, o PSOL se posiciona categoricamente contrário a essa medida de Lawfare contra Cristina Kirchner.
- Em sentido oposto, na Colômbia o governo Gustavo Petro acaba de obter uma vitória significativa que beneficia os trabalhadores do país. A reforma trabalhista foi um dos projetos de reforma estrutural apresentados pelo governo desde o início do mandato há dois anos e acabou de ser aprovada no Senado com 57 votos a favor e 37 votos contrários. O projeto conta com medidas que garantem mais estabilidade no trabalho, dão prioridade a contratos permanentes, reduzem a jornada, ampliam o valor das horas extras, ampliam a segurança social de informais, entre outros. Mas essa vitória só pode ser explicada porque Petro não cedeu às chantagens e barreiras impostas pelo Congresso Nacional e recorreu à mobilização popular para furar o bloqueio. Foi depois que o governo convocou milhares às ruas e disse que assinaria um decreto para convocar uma consulta popular para que o povo decidisse sobre o tema que o Congresso recuou e aprovou o texto.
- Na América Latina, ainda, é importante visibilizar os protestos massivos no Panamá que, desde maio, cobram a revogação de uma reforma do sistema previdenciário defendida pela presidência do país. Lamentavelmente, houve uma escalada repressiva contra os protestos e os ativistas, tendo como saldo um civil morto, 300 detidos, dezenas de feridos, denúncias de desaparecimentos forçados e cerceamento à liberdade de imprensa. Assim, o PSOL reafirma a sua solidariedade com o povo panamenho.
- No Equador, depois de um processo eleitoral em abril deste ano manchado por abusos e da questionada legitimidade da recondução de Daniel Noboa à presidência, ambientalistas e povos indígenas estão contra o anúncio da reabertura e ampliação das concessões à mineração no país, que certamente vai impor novos riscos à sua biodiversidade. O novo anúncio do Equador se soma a um quadro que reforça a preocupação e a necessidade da luta ambiental em nossa região. O despreparo da capital peruana em lidar com abalos sísmicos, como se viu no recente terremoto que levou uma pessoa à morte, e a recorrência das enchentes que afetam novamente cidades do Rio Grande do Sul no Brasil e na Argentina são provas disso. O PSOL participará da COP 30 e cúpula dos povos com o objetivo de defender as medidas necessárias e urgentes para defender a justiça climática e a transição energética, a natureza e os povos tradicionais e originários.
- No México, Cláudia Scheinbaum vem dando continuidade à chamada Quarta transformação mexicana, iniciada pelo seu antecessor López Obrador, ambos pelo partido Morena. A proposta de encerrar o período neoliberal no México tem se mostrado eficaz no desmantelamento da oposição de direita protagonizada pelos partidos tradicionais PRI e PAN. Apesar dos limites do Morena, o governo, que tem maioria no parlamento do país, conseguiu aprovar medidas ousadas e avançadas tal como a proibição do cultivo de milho transgênico no país e a reforma judicial que levou os mexicanos a escolherem membros do Poder Judiciário pelas urnas pela primeira vez. As mobilizações dos professores, que ocuparam diversas praças nas principais cidades do país contra a retirada dos direitos de pensões, e contra a construção de megaempreendimentos como o Trem Maya mostram como é possível aliar mobilizações populares apontando os limites do governo e ao mesmo tempo apoiá-lo em seus avanços.