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Vitória de Kast no Chile reflete ‘onda de extrema direita’ na América Latina pressionada por Trump, diz analista

16 de dezembro de 2025

Por Lucas Krupacz, Nara Lacerda e Thabita Ramalho.

Discursos anti-imigração e de guerra às drogas, alinhados aos EUA, podem desestabilizar região.

A eleição de José Antonio Kast para a presidência do Chile, neste domingo (14), demonstra fôlego no avanço da extrema direita na América Latina. A onda conservadora, segundo a analista internacional Amanda Harumy, é fruto da política dos Estados Unidos em tentar restabelecer a Doutrina Monroe. Proclamada sob o lema “a América para os americanos”, a política rejeitava formalmente a colonização europeia, mas acabou por legitimar a hegemonia dos EUA no continente e servir de base para sucessivas intervenções na região.

“Tivemos derrotas importantes nesses últimos processos eleitorais na Argentina, Honduras e agora no Chile. Os resultados estão sendo impactados por declarações do presidente Trump, inclusive promessas de intervenção direta, tanto financeira quanto militar, na região, o que tem impacto no senso comum da população de como será o futuro, como também pode influenciar o voto. É um momento de chantagem do governo republicano”, avalia.

Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, Harumy analisa que essa é uma extrema direita antiglobalista, contra os espaços multilaterais e, que por consequência, travam espaços políticos dentro da capacidade de cooperação em outras áreas. “Agora, com a derrota do campo progressista no Chile, vai se somar a esse campo de resistência e perderemos um voto nesses espaços”, pontua.


“O que mais preocupa é uma agenda comum dos EUA que vai ser imposta e que terá impacto nos países vizinhos. A primeira sendo de anti-imigração de latinos, principalmente, que já começa no próprio debate eleitoral do Trump e, no Chile, se tornou um discurso forte, contra a imigração venezuelana”, destaca.

Harumy acrescenta que outro tema que pode afetar os próximos pleitos na região é o narcotráfico, utilizado pelos EUA como pretexto para intervenções.

“Apesar de ser um problema na América Latina, os EUA utilizam dessa questão para propor e pressionar intervenções militares na região, como é o caso da Venezuela. Esses são os discursos mais perigosos que podem desestabilizar e afetar as próximas eleições, como a da Colômbia e do Brasil”, conclui.

O Chile será comandado pela extrema direita pela primeira vez desde o final da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). Kast assume o cargo em 11 de março de 2026 com mandato até 2030.

Para ouvir e assistir

O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira: a primeira às 9h e a segunda às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.

Editado por: Geisa Marques