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Voto feminino: barreira à maré ultradireitista

17 de novembro de 2023

Por José Eustáquio Diniz Alves, no EcoDebate

Levantamento mostra que, em 12 eleições recentes ao redor do mundo, as mulheres foram cruciais para conter a escalada do autoritarismo. No Brasil, elas rechaçaram Bolsonaro – e, na Argentina, também podem ser decisivas nesta eleição

Na maioria dos países, as mulheres conquistaram o direito de voto no século XX, mas continuaram excluídas dos espaços de poder e permaneceram minoria do eleitorado. Mas o quadro mudou no século XXI. De modo geral, as mulheres avançaram na educação, no mercado de trabalho e na política, conquistando maiores graus de empoderamento em grande parte do mundo.

Diante da onda de extrema direita que atinge diversos países, as mulheres têm sido uma barreira à maré ultraconservadora. O gráfico abaixo, do jornal El País (Andrino, 27/10/2023), apresenta os dados de intenção de voto, por sexo, em 12 eleições recentes ao redor do mundo e mostra que as mulheres foram decisivas para impedir a chegada da ultradireita ao poder ou impediram a reeleição de candidatos ultradireitistas.

O caso do Brasil é exemplar. As mulheres brasileiras são maioria da população desde a década de 1940, mas continuaram minoria do eleitorado até o final do século XX. Somente no século XXI as mulheres passaram a ser maioria do eleitorado e ampliaram a vantagem rapidamente e, em 2022, já havia mais de 8 milhões de mulheres a mais do que homens no eleitorado, conforme mostra o gráfico abaixo.

As intenções de voto indicaram que os homens eram maioria entre os eleitores do candidato Jair Bolsonaro e as mulheres eram maioria entre os eleitores do candidato Luiz Inácio Lula da Silva. Como a diferença final das urnas no segundo turno foi em torno de 2 milhões de votos, não resta dúvidas de que as mulheres brasileiras foram fundamentais para barrar a reeleição do candidato ultraconservador no Brasil em 2022.

Tudo indica que as mulheres serão decisivas no segundo turno das eleições presidenciais argentinas em 19 de novembro de 2023. O eleitorado argentino consta com 18,2 milhões de mulheres aptas a votar e 17,6 milhões de homens. As mulheres são maioria, mas com uma diferença bem menor do que no Brasil.

As pesquisas eleitorais da Argentina indicam resultados contraditórios e uma pequena diferença na intenção de voto entre Javier Milei e Sérgio Massa. As mulheres argentinas podem ser decisivas, uma vez que estão se mobilizando em defesa dos direitos sexuais e reprodutivos e pela ampliação dos direitos de cidadania e a favor de maior equidade de gênero.

Neste sentido, as argentinas colocaram um freio às propostas conservadoras e super neoliberais do candidato autodenominado anarcocapitalista no primeiro turno das eleições presidenciais ocorridas em outubro. Apesar da falta de alternativas e de uma situação de crise econômica severa, pode ser que as mulheres consigam barrar os avanços da onda de ultradireita em 19 de novembro na Argentina.

Como disse o pensador francês da linha do socialismo utópico, Charles Fourier (1772-1837), há mais de 200 anos: “O grau de emancipação das mulheres é o termômetro através do qual se mede a emancipação de toda a sociedade”.

Referências:

ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século XXI (com a colaboração de GALIZA, F), ENS, maio de 2022
https://ens.edu.br:81/arquivos/Livro%20Demografia%20e%20Economia_digital_2.pdf

ALVES, JED. Retrocessos na Argentina: empobrecimento de um país que já foi rico, Ecodebate, 18/10/2023 https://www.ecodebate.com.br/2023/10/18/retrocessos-na-argentina-empobrecimento-de-um-pais-que-ja-foi-rico/

Borja Andrino. La ola de la extrema derecha solo encuentra un dique: el voto feminino, El País, 27/10/2023 https://elpais.com/internacional/2023-10-27/datos-la-ola-de-la-extrema-derecha-solo-encuentra-un-dique-el-voto-femenino.html