Por José Eustáquio Diniz Alves, no EcoDebate
Levantamento mostra que, em 12 eleições recentes ao redor do mundo, as mulheres foram cruciais para conter a escalada do autoritarismo. No Brasil, elas rechaçaram Bolsonaro – e, na Argentina, também podem ser decisivas nesta eleição
Na maioria dos países, as mulheres conquistaram o direito de voto no século XX, mas continuaram excluídas dos espaços de poder e permaneceram minoria do eleitorado. Mas o quadro mudou no século XXI. De modo geral, as mulheres avançaram na educação, no mercado de trabalho e na política, conquistando maiores graus de empoderamento em grande parte do mundo.
Diante da onda de extrema direita que atinge diversos países, as mulheres têm sido uma barreira à maré ultraconservadora. O gráfico abaixo, do jornal El País (Andrino, 27/10/2023), apresenta os dados de intenção de voto, por sexo, em 12 eleições recentes ao redor do mundo e mostra que as mulheres foram decisivas para impedir a chegada da ultradireita ao poder ou impediram a reeleição de candidatos ultradireitistas.
O caso do Brasil é exemplar. As mulheres brasileiras são maioria da população desde a década de 1940, mas continuaram minoria do eleitorado até o final do século XX. Somente no século XXI as mulheres passaram a ser maioria do eleitorado e ampliaram a vantagem rapidamente e, em 2022, já havia mais de 8 milhões de mulheres a mais do que homens no eleitorado, conforme mostra o gráfico abaixo.
As intenções de voto indicaram que os homens eram maioria entre os eleitores do candidato Jair Bolsonaro e as mulheres eram maioria entre os eleitores do candidato Luiz Inácio Lula da Silva. Como a diferença final das urnas no segundo turno foi em torno de 2 milhões de votos, não resta dúvidas de que as mulheres brasileiras foram fundamentais para barrar a reeleição do candidato ultraconservador no Brasil em 2022.
Tudo indica que as mulheres serão decisivas no segundo turno das eleições presidenciais argentinas em 19 de novembro de 2023. O eleitorado argentino consta com 18,2 milhões de mulheres aptas a votar e 17,6 milhões de homens. As mulheres são maioria, mas com uma diferença bem menor do que no Brasil.
As pesquisas eleitorais da Argentina indicam resultados contraditórios e uma pequena diferença na intenção de voto entre Javier Milei e Sérgio Massa. As mulheres argentinas podem ser decisivas, uma vez que estão se mobilizando em defesa dos direitos sexuais e reprodutivos e pela ampliação dos direitos de cidadania e a favor de maior equidade de gênero.
Neste sentido, as argentinas colocaram um freio às propostas conservadoras e super neoliberais do candidato autodenominado anarcocapitalista no primeiro turno das eleições presidenciais ocorridas em outubro. Apesar da falta de alternativas e de uma situação de crise econômica severa, pode ser que as mulheres consigam barrar os avanços da onda de ultradireita em 19 de novembro na Argentina.
Como disse o pensador francês da linha do socialismo utópico, Charles Fourier (1772-1837), há mais de 200 anos: “O grau de emancipação das mulheres é o termômetro através do qual se mede a emancipação de toda a sociedade”.
Referências:
ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século XXI (com a colaboração de GALIZA, F), ENS, maio de 2022
https://ens.edu.br:81/arquivos/Livro%20Demografia%20e%20Economia_digital_2.pdf
ALVES, JED. Retrocessos na Argentina: empobrecimento de um país que já foi rico, Ecodebate, 18/10/2023 https://www.ecodebate.com.br/2023/10/18/retrocessos-na-argentina-empobrecimento-de-um-pais-que-ja-foi-rico/
Borja Andrino. La ola de la extrema derecha solo encuentra un dique: el voto feminino, El País, 27/10/2023 https://elpais.com/internacional/2023-10-27/datos-la-ola-de-la-extrema-derecha-solo-encuentra-un-dique-el-voto-femenino.html