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PERU: Primeiro-Ministro pretende reativar projetos de mineração com grande rejeição social

14 de março de 2024

Por Jair Sarmiento

Publicado originalmente em Wayka.pe

Tradução André Freire

 

Durante uma entrevista para uma mídia local, o novo Primeiro-Ministro, Gustavo Adrianzén Olaya, expressou seu interesse em promover os projetos de mineração Conga e Tía María, apesar de sua grande rejeição social, quando foi questionado se tinha uma estratégia no setor de mineração para recuperar a confiança e o investimento das associações empresariais.

"A carteira de mineração possui 51 projetos que somam quase US$ 54 milhões. Para este ano, 2024, vamos crescer em US$ 1,5 bilhão a mais, com os investimentos que já estão definidos: Conga, US$ 4,8 bilhões (ouro); El Galeno, US$ 3.500 milhões (cobre); Chancas, US$ 2.600 milhões (cobre), o que temos que fazer? Seguir promovendo estes projetos", respondeu.

Adrianzén observou que o projeto de mineração de Conga está em um "processo de viabilidade". Da mesma forma, mencionou que é necessário mais diálogo com o projeto Tía María. "Tia Maria não é um investimento tão grande. São US$ 1,4 bilhão. (que são necessários)... a participação dos cidadãos, o compromisso do governo regional, a intermediação do Estado", disse.

As declarações do primeiro-ministro coincidem com as do ministro da Energia e Minas, Rômulo Mucho, que também tem sido favorável a esses questionáveis projetos de mineração.

É preciso lembrar que nos últimos meses de 2023 houve um aumento sustentado dos conflitos sociais. Isso foi relatado pelo Observatório de Conflitos de Mineração no Peru. Segundo a Defensoria, em outubro do ano passado foram mais de 220 casos de conflito social, o maior número dos últimos 7 anos.

Por meio de seus relatórios, a Ouvidoria também aponta que os conflitos de maior incidência são os conflitos socioambientais, que em janeiro de 2024 representavam 59,3% do total de casos.

 

Conflitos em Conga e Tia Maria

Conga é um projeto que foi autorizado durante o governo de Alan García e depois foi promovido pelo de Ollanta Humala (2011-2016). Depois disso, em 2011, protestos massivos foram realizados em Cajamarca, que duraram semanas, e foram respondidos com uma brutal repressão policial que terminou com 5 mortos, 40 feridos e dezenas de prisões arbitrárias.

O então governador regional, Gregório Santos, juntou-se à rejeição de milhares de cidadãos contra o projeto de mineração. Diante desse contexto, a empresa e o governo de Humala decidiram interromper o projeto de mineração, em novembro de 2011.

Acrescente-se que a rejeição também se deveu ao péssimo histórico ecológico da empresa Yanacocha, na região de Cajamarca, bem como às irregularidades apresentadas no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) da empresa.

O projeto de mineração Conga é responsável pelo projeto de mineração Yanacocha, que é composto pelas seguintes empresas: Newmont Mining Corporation, Buenaventura Mining Company e International Finance Corporation.

O mesmo vale para Tia Maria. Os protestos contra esse projeto ocorreram no Vale do Tambo e começaram em 2009 e continuaram até junho de 2015. Foram realizadas quatro greves por tempo indeterminado: duas em 2010 (abril e novembro), uma em março de 2011 e a última em março-junho de 2015. A repressão policial resultou em sete mortos e centenas de feridos.

Recorde-se que, em 2015, Adrianzén foi ministro da Justiça e descreveu como "violentos" e "hordas terroristas" os protestos dos cidadãos do Vale do Tambo, que rejeitaram o projeto mineiro em Arequipa. A empresa responsável por este projeto é a Southern Copper Corporation (Grupo México).