PERU: Primeiro-Ministro pretende reativar projetos de mineração com grande rejeição social

Por Jair Sarmiento

Publicado originalmente em Wayka.pe

Tradução André Freire

 

Durante uma entrevista para uma mídia local, o novo Primeiro-Ministro, Gustavo Adrianzén Olaya, expressou seu interesse em promover os projetos de mineração Conga e Tía María, apesar de sua grande rejeição social, quando foi questionado se tinha uma estratégia no setor de mineração para recuperar a confiança e o investimento das associações empresariais.

"A carteira de mineração possui 51 projetos que somam quase US$ 54 milhões. Para este ano, 2024, vamos crescer em US$ 1,5 bilhão a mais, com os investimentos que já estão definidos: Conga, US$ 4,8 bilhões (ouro); El Galeno, US$ 3.500 milhões (cobre); Chancas, US$ 2.600 milhões (cobre), o que temos que fazer? Seguir promovendo estes projetos", respondeu.

Adrianzén observou que o projeto de mineração de Conga está em um "processo de viabilidade". Da mesma forma, mencionou que é necessário mais diálogo com o projeto Tía María. "Tia Maria não é um investimento tão grande. São US$ 1,4 bilhão. (que são necessários)... a participação dos cidadãos, o compromisso do governo regional, a intermediação do Estado", disse.

As declarações do primeiro-ministro coincidem com as do ministro da Energia e Minas, Rômulo Mucho, que também tem sido favorável a esses questionáveis projetos de mineração.

É preciso lembrar que nos últimos meses de 2023 houve um aumento sustentado dos conflitos sociais. Isso foi relatado pelo Observatório de Conflitos de Mineração no Peru. Segundo a Defensoria, em outubro do ano passado foram mais de 220 casos de conflito social, o maior número dos últimos 7 anos.

Por meio de seus relatórios, a Ouvidoria também aponta que os conflitos de maior incidência são os conflitos socioambientais, que em janeiro de 2024 representavam 59,3% do total de casos.

 

Conflitos em Conga e Tia Maria

Conga é um projeto que foi autorizado durante o governo de Alan García e depois foi promovido pelo de Ollanta Humala (2011-2016). Depois disso, em 2011, protestos massivos foram realizados em Cajamarca, que duraram semanas, e foram respondidos com uma brutal repressão policial que terminou com 5 mortos, 40 feridos e dezenas de prisões arbitrárias.

O então governador regional, Gregório Santos, juntou-se à rejeição de milhares de cidadãos contra o projeto de mineração. Diante desse contexto, a empresa e o governo de Humala decidiram interromper o projeto de mineração, em novembro de 2011.

Acrescente-se que a rejeição também se deveu ao péssimo histórico ecológico da empresa Yanacocha, na região de Cajamarca, bem como às irregularidades apresentadas no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) da empresa.

O projeto de mineração Conga é responsável pelo projeto de mineração Yanacocha, que é composto pelas seguintes empresas: Newmont Mining Corporation, Buenaventura Mining Company e International Finance Corporation.

O mesmo vale para Tia Maria. Os protestos contra esse projeto ocorreram no Vale do Tambo e começaram em 2009 e continuaram até junho de 2015. Foram realizadas quatro greves por tempo indeterminado: duas em 2010 (abril e novembro), uma em março de 2011 e a última em março-junho de 2015. A repressão policial resultou em sete mortos e centenas de feridos.

Recorde-se que, em 2015, Adrianzén foi ministro da Justiça e descreveu como "violentos" e "hordas terroristas" os protestos dos cidadãos do Vale do Tambo, que rejeitaram o projeto mineiro em Arequipa. A empresa responsável por este projeto é a Southern Copper Corporation (Grupo México).