A ‘paz eterna’ no Oriente Médio durou menos de uma semana?

Frágil trégua entre Israel e Hamas está à beira do colapso após retomada dos bombardeios israelenses; ministro da Segurança de Israel já pede a Netanyahu guerra ‘com força total’

A promessa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de “paz eterna no Oriente Médio” desapareceu em menos de uma semana. Em uma troca de acusações, Israel e o movimento Hamas, culpam um ao outro por violar o cessar-fogo, enquanto os combates e a destruição persistem na Faixa de Gaza.

Novo bombardeio israelense em Rafah

A Força Aérea israelense bombardeou a cidade de Rafah, no sul do enclave palestino, no sul, no domingo (19/10), relata o The Times of Israel. Do ponto de vista israelense, o ataque foi uma resposta a uma ofensiva anterior realizada por elementos armados do Hamas, um ataque que Tel Aviv interpreta como uma violação do cessar-fogo pelo grupo palestino.

Citando fontes militares, a mídia israelense detalhou que “elementos terroristas na Faixa de Gaza lançaram um ataque contra as forças israelenses em Rafah, no sul de Gaza, levando as IDF [Forças de Defesa de Israel] a lançar ataques aéreos na área”.

O ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, falou hoje a favor da retomada imediata das operações militares em larga escala na Faixa de Gaza.

“Peço ao primeiro-ministro que ordene que as IDF retomem totalmente as operações de combate na Faixa com força total.”

“As falsas ilusões de que o Hamas mudará sua natureza, ou mesmo que cumprirá o acordo que assinou, estão se mostrando, sem surpresa, perigosas para nossa segurança. A organização terrorista nazista deve ser completamente aniquilada e, quanto mais cedo melhor”, escreveu ele no Telegram.

Troca de acusações sobre trégua

A frágil trégua tem sido acompanhada por uma constante troca de intimidação. Na quinta-feira (16/10) passada, Trump ameaçou o Hamas, dizendo que se violasse o acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, o grupo seria eliminado. Na véspera, ele garantiu à CNN que permitirá que o governo israelense retome sua ofensiva em Gaza se o acordo não for cumprido. “Israel voltará a essas ruas assim que eu disser. Se Israel pudesse entrar e espancá-los, o faria”, disse ele.

As ameaças foram reiteradas no sábado (18/10), quando autoridades dos EUA alertaram os países mediadores do acordo de paz para a Faixa de Gaza sobre “relatórios confiáveis indicando uma violação iminente do cessar-fogo pelo Hamas contra a população de Gaza”. Washington ameaçou tomar “medidas” de acordo.

Diante dessas acusações, o Hamas respondeu com uma declaração exigindo que os EUA cessassem o que chamou de “falsas alegações que estão completamente alinhadas com a propaganda enganosa israelense”. O grupo disse que os fatos no terreno revelam “o contrário” e enfatizou: “A ocupação admitiu publicamente seus crimes por meio da mídia e de gravações de vídeo, confirmando a dificuldade da ocupação em espalhar o caos e minar a segurança”.

Uma paz frágil desde o início

Essa rápida deterioração do cessar-fogo contrasta fortemente com o otimismo inicial e as declarações triunfalistas de Trump, que chegou a se gabar de seu papel de promotor da paz mundial por causa desse acordo.

O frágil processo, que começou com o cessar-fogo em 10 de outubro e uma subsequente troca de reféns israelenses por prisioneiros palestinos, mostrou suas primeiras rachaduras quase imediatamente, quando Israel limitou a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, permitindo apenas metade dos caminhões acordados e atrasando a reabertura da passagem de Rafah. O governo israelense alegou que o Hamas estava atrasando a entrega dos corpos dos reféns falecidos.

Deve-se notar também que nem o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu nem representantes do Hamas compareceram à cerimônia internacional de assinatura da declaração sobre o fim das hostilidades, realizada na cidade egípcia de Sharm el-Sheikh.