Com informações de Poder360
Genocídio que já dura 6 meses pode reduzir o apoio de eleitores progressistas ao atual presidente estadunidense.
Depois do ataque do Hamas em 7 de outubro, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, prometeu apoio total a Israel. Mas a postura em relação ao conflito no Oriente Médio, que chegou a 6 meses no último domingo (7.abr.2024), e ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, pode ter prejudicado a imagem do democrata e sua campanha de reeleição para o pleito de novembro.
Em seu 1º pronunciamento oficial depois do ataque do Hamas, Biden afirmou que o “terrorismo nunca é justificado” e que Israel tem o “direito de se defender e proteger seu povo”. Na ocasião, o democrata também afirmou que os EUA estariam “ao lado de Israel”.
Mas esse apoio outrora “incondicional” a Tel Aviv, em meio ao crescente número de civis palestinos mortos na Faixa de Gaza, tem impactos significativos na política externa e interna dos EUA, argumenta Vitelio Brustolin, professor de Relações Internacionais da UFF (Universidade Federal Fluminense) e pesquisador de Harvard.
“Desde o ataque do Hamas em 7 de outubro, Biden passou a dizer que o apoio dos Estados Unidos à segurança de Israel seria sólido e inabalável”, diz. “Mas o apoio norte-americano não ficou apenas na parte financeira e militar”.
Uma pesquisa realizada pelo Pew Research Center em fevereiro revelou que 22% dos norte-americanos acreditam que Biden favorece Israel em relação a conflito em Gaza. Entre os democratas, o percentual é de 34%, em comparação com 11% entre os republicanos. A maioria dos muçulmanos (60%) também concordam que o presidente demonstra um “favoritismo excessivo” a Tel Aviv.
A pesquisa foi feita por meio de formulário online com 12.693 adultos norte-americanos de 13 de fevereiro até 25 de fevereiro de 2024. A margem de erro é de 1,5 ponto percentual.
O especialista relembra que os EUA são historicamente apoiadores de Israel no Conselho de Segurança da ONU, usando “repetidamente” o seu poder de veto para barrar sanções contra Tel Aviv. “Na história do Conselho, os Estados Unidos usaram esse poder de veto mais de 90 vezes”, diz.
Assim, o apoio financeiro e militar a Israel, somado às negativas de um cessar-fogo em Gaza, na avaliação de Brustolin, prejudicou a popularidade do presidente entre seus eleitores, especialmente os mais jovens e alas mais progressistas, que são contrárias à ocupação israelense na Palestina. “No início, o mundo inteiro se compadeceu com o ataque sofrido por Israel, só que a resposta do Netanyahu acabou beneficiando o Hamas por ser desproporcional”, diz.
O professor observa que os norte-americanos, especialmente os mais velhos, têm um forte apego por Israel por causa da percepção deles como um povo perseguido que estabeleceu seu próprio Estado depois de séculos de exílio. No entanto, essa conexão está diminuindo entre os mais novos.
“A visão das novas gerações sobre Israel está em declínio, especialmente por conta das crescentes políticas israelenses consideradas autoritárias”, explica. Essa percepção se torna mais intensa, segundo Brustolin, em governos como de Netanyahu, em que existe um avanço continuo da construção de assentamentos sobre território palestino.
Os ataques de Israel a civis, como o contra palestinos que aguardavam ajuda humanitária no início de março, e a ofensiva que matou 7 funcionários da ONG World Central Kitchen em 2 de abril, também afetam a percepção dos eleitores quanto à extensão do apoio estadunidense ao conflito.
“O próprio Biden passa a dizer que o Netanyahu prejudica mais do que ajuda Israel em relação às vítimas de Gaza. E por quê? Porque Israel não consegue limitar as vítimas civis”, afirma Brustolin.
A decisão da administração Biden, em 25 de março, de não vetar uma resolução do Conselho de Segurança da ONU pedindo um cessar-fogo em Gaza aumentou a tensão entre o presidente e Netanyahu. Como resposta, o premiê israelense cancelou a viagem de uma delegação a Washington D.C.
Mas o que desagradou o líder israelense pode, segundo o especialista, ter um impacto positivo nas eleições de 2024 para o democrata. “Ainda não podemos medir o efeito do afastamento de Biden e Netanyahu. No entanto, é possível que isso, de fato, afete positivamente sua campanha”, avalia.