Arquivos sobre escravatura de Cabo Verde, Angola e Moçambique reconhecidos pela Unesco

Duas candidaturas com documentos sobre a escravatura portuguesa em África passaram a constar do Registo Memória do Mundo da Unesco.

Documentos sobre a escravatura a cargo do Arquivo Nacional de Cabo Verde e outros de uma candidatura conjunta entre Cabo Verde, Angola e Moçambique, que inclui 79 livros de registo de escravos, passaram a estar inscritos no Registo Memória do Mundo da Unesco reconhecendo-se assim a sua importância histórica mundial. Na mesma altura foram reconhecidas mais 74 outros conjuntos documentais.

No caso da candidatura conjunta, em causa estavam 79 livros de registo de escravos, criados pela coroa portuguesa, sobretudo entre 1856 e 1875. Trata-se de listas detalhadas com nomes, sexo, local de nascimento, idade, traços físicos, profissões e de pessoas escravizadas e libertadas. Também está incluída a identificação dos esclavistas”. De acordo com a Unesco, estes documentos “oferecem uma visão privilegiada da situação da escravatura, sendo que uma grande parte dos escravos africanos eram expatriados à força”.

Os outros manuscritos agora reconhecidos constavam do Fundo de Arquivos do Secretariado Geral do Governo e datam do período entre 1674 a 1954, sendo o grosso da documentação de entre 1803 a 1927. Este acervo consta de quatro caixas, 21 moedas, 702 folhas de documentos avulsos, um livro manuscrito datado de 1858 referente às Cartas de Liberdade concedidas pelo Governo Geral da Província de Cabo Verde e um livro de Autos de Juramento e atas das sessões da Comissão Luso-Britânica. Estes foram fisicamente organizados e digitalizados pelo Arquivo Nacional de Cabo Verde é, refere a Unesco, “é importante para a preservação da memória da escravatura, incentivando a investigação sobre este fenómeno nas suas diferentes vertentes”.

Em conferência de imprensa, citada pelo Expresso das Ilhas, o secretário Executivo da Comissão Nacional Cabo-verdiano Memória do Mundo, José Évora, salientou a importância de “documentos interessantes acerca da abolição do tráfico negreiro, da Comissão Mista Luso-Britânica, que foi instalada na Ilha da Boa Vista em 1842, numa altura em que fazia-se força para a abolição da escravidão”. Trata-se de uma instituição criada por um tratado entre as coroas portuguesa e britânica que regulamentava a abolição do tráfico de escravos.

Para ele, este reconhecimento “é um privilégio, mas também uma grande responsabilidade, tendo em conta que a Unesco certamente estará ciente como é que essas instituições de custódia vão agora lidar com este património em matéria da sua melhor preservação e, sobretudo, da sua maior divulgação para facilitar o seu acesso, não apenas em Cabo Verde, não apenas em África, mas que o seu acesso seja garantido a nível mundial”.