Por Victor Farinelli
Via Opera Mundi
Jeanine Áñez e Luis Fernando Camacho são acusados pela Procuradoria Geral do país por crimes de terrorismo, sedição e conspiração.
O Primeiro Tribunal Anticorrupção de La Paz deu início, nesta segunda-feira (14/10) ao julgamento da ex-ditadora Jeanine Áñez (2019-2020) e do líder de extrema direita Luis Fernando Camacho.
A Procuradoria Geral boliviana apresentou à Justiça do país um informe acusando os dois políticos pelos crimes de terrorismo, sedição e conspiração, devido a participação de ambos no golpe de Estado perpetrado em novembro de 2019, no qual se derrubou o governo democraticamente eleito de Evo Morales (2006-2019).
O golpe foi colocado em prática no dia 10 de novembro de 2019, a partir de uma acusação feita por partidos da oposição de direita sobre uma suposta fraude nas eleições realizadas um mês antes, na qual Evo venceu e conquistou seu quarto mandato presidencial.
A ação teve início com movimentações das Forças Armadas e de policiais, que tomaram as sedes do Poder Executivo e do Legislativo, além de atacar as residências do presidente Evo Morales, do então vice-presidente Álvaro García Linera, da então presidente do Senado Adriana Salvatierra e do então presidente da Câmara dos Deputados, Víctor Borda, todos forçados a renunciar.
Aquela jornada do dia 10 de novembro terminou com Camacho, líder da extrema direita no departamento (província) de Santa Cruz de la Sierra, invadindo o Palácio Presidencial com uma bíblia na mão e realizando um culto evangélico improvisado, alegando que “Deus voltou ao governo da Bolívia”.
Dois dias depois, em 12 de novembro de 2019, os militares deram posse a Jeanine Áñez como nova presidente, alegando que ela, por ser vice-presidente do Senado, era a primeira na linha de sucessão depois dos quatro políticos previamente forçados a renunciar.
Além de Áñez e Camacho, também serão julgados Arturo Murillo (ministro do Interior durante a ditadura de Áñez), Fernando López (ministro da Defesa de Áñez) e Marco Pumari (então governador do departamento de Potosí, que também apoiou o golpe).
Este, na verdade, é o segundo processo judicial referente aos acontecimentos de novembro e dezembro de 2019, na Bolívia. A ex-ditadora Áñez já cumpre uma pena de 10 anos de prisão imposta pela Justiça em junho de 2022, por sua responsabilidade em ações policiais realizadas após o golpe e que resultaram na morte de dezenas de pessoas que se manifestaram no país em protesto contra a crise política.
Dias após receber aquela sentença, o então presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (2019-2022) chegou a oferecer asilo político à ex-ditadora, mas sua sugestão foi ignorada pelas autoridades bolivianas.