8 de Março de 2024
Aos feminismos do Sul Global
Desde a Ação Global Feminista, fazemos proprio o clamor de uma maré internacional implacável que ruge pelos povos oprimidos do mundo e chamamos a multiplicá-lo.
A cada 8 de março, colocamos séculos de luta no centro e recordamos a todas as companheiras e companheires que resistiram e resistimos aos projetos de colonização, à escravidão, à exploração econômica e sexual, aos centros de detenção, à hetereossexualidade como regime, às violências patriarcais organizadas, às guerras, às ditaduras, às ocupações, aos saques, aos Estados transfeminicidas.
Hoje as/nos honramos defendendo na linha de frente o povo da Palestina, sua liberdade e autonomia.
Companheiras, companheires, o norte colonial declarou guerra e nossos corpos-territórios estão na linha de frente!
Uma guerra sobre nossos corpos: as alianças internacionais da ultradireita avançam sobre nossas vidas e aplicam como método a fome, o ajuste, a despossessão, a desvalorização dos nossos conhecimentos e práticas, e a desarticulação das lutas, perseguindo inclusive nosso legítimo direito a ter memória histórica das violências estruturais que nos afligem, assim como também pretendem infrutuosamente apagar nosso perseverante desejo de transformar as injustiças do mundo.
Mediante políticas expressamente supremacistas e xenófobas, tentam reforçar seus projetos de enclave e colonização. Esse plano sistemático de espoliação implica o sequestro de liberdades e direitos conquistados por nossos movimentos. A militarização da vida, a repressão planejada, a criminalização do protesto, o empobrecimento e a perseguição política são instrumentos com os quais tentam disciplinar nossos corpos, atomizar o povo que se organiza em defesa da vida, assegurando o negócio internacional de armas (letais e não letais) e a indústria militar em seu conjunto. A fome e o ajuste econômico, em muitos lugares orquestrado pelo FMI, persistem como uma arma de desgaste cotidiano e violência estrutural contra nossas vidas.
Uma guerra contra nossos territórios: O capitalismo na sua etapa mais avariada tenta avançar sobre nossos territórios para converter cada canto do mundo em uma zona de sacrifício. As grandes potências em complicidade com todos os governos, profundamente extrativistas, vem pela água e pelo lítio, e são os povos originários e afrodescendentes quem estão na linha de frente da defesa. Assim como dizemos que as armas que matam palestines são exportadas para nossos territórios para a repressão e a espionagem, também empresas como Mekorot, participantes do genocidio em Gaza, hoje tentam avançar sobre a água na Argentina e em outros países.
Uma guerra contra a vida: representada hoje de maneira mais brutal na Palestina. Já dissemos: Gaza é o futuro que querem para nossos povos. Não é causalidade que o genocidio que Israel está cometendo esteja motorizado através não só das bombas e da destruição de todos os centros de organização da vida (hospitais, mesquitas, escolas etc), como tambem atraves da seca, fome e das doenças planejadas que atentam contra o coração da vida. É uma guerra contra a reproduçao da vida: é uma tarefa feminista defende-la.
Há uma linha direta que liga todas as investidas e violências extrativistas sobre nossos corpos e territorios com o genocidio e apartheid na Palestina. A política de colonização e expansão israelense ameaça também os territórios de Abya Yala através da massiva venda de armas de guerra que são utilizadas contra manifestantes de toda a América Latina e através da instalação de empresas que destroem nossos ecossistemas e espoliam nossos territórios, como a empresa nacional israelense Mekorot. Também, os governos de ultradireita, como o de Milei na Argentina ou o de Noboa no Equador, estreitam laços e avançam no regime de guerra e militarização que percorre todo o mundo. O trabalho ideológico do lobby sionista para espoliar o povo palestino de toda humanidade alcançou um nivel insuportável para qualquer um que hoje conserve um pouco de dignidade. Nossos contextos locais se entrelaçam com os internacionais. As mesmas alianças que aplicam políticas de ajuste e nos reprimem de um lado, financiam e garantem um genocidio do outro. Nós, os povos organizados em solidariedade internacional, enfrentamos essa aliança imperialista.
O genocidio perpetrado por Israel é uma guerra contra toda a humanidade. Para defender a vida, construir um futuro livre para todos os nossos povos e frear a investida repressiva e genocida sobre nossos territorios e nossos corpos: a causa palestina é uma causa feminista!
É urgente e é agora: se os feminismos do sul global queremos seguir sendo tecedores de vida e organização frente ao capitalismo e ao colonialismo, devemos fazer da causa palestina nossa própria causa porque é a luta pela sobrevivência de todos os povos oprimidos do mundo. Os feminismos nunca pedimos licença, estivemos e estaremos sempre à frente com a implacável convicção de um mundo mais justo. Só um feminismo profundamente internacionalista, anticapitalista e anticolonial pode dar resposta a esses tempos de genocidio, espoliação e desastre.
Fazemos um chamado a todo o movimento transfeminista do mundo para que se mobilize ativamente pela Palestina, especialmente este 8 de março. Convocamos as e es trabalhadorxs a organizar açoes de denuncia e atos que impeçam o comércio com Israel, que sustenta o etnocidio e o apartheid contra o povo palestino. Finalmente, aos povos do mundo, convocamos a impulsionar em seus territórios o reclamo pelo cessar-fogo imediato em Gaza e contra todas as violências exercidas em todo o território palestino.
Chamamos para a construção de uma grande greve transfeminista contra o genocidio. Temos que parar esta guerra JÁ! Com todos os meios, com todas as estretégias, em todos os lugares: devemos nos organizar em cada espaço, em cada territorio; tomar em cada assembleia feminista e em cada mobilização a defesa do povo palestino contra seu apagamento étnico. Chamamos para a criação de um Boicot feminista contundente contra Israel e exigimos por todos os meios que nossos governam rompam relaçoes diplomaticas, comericiais e militares. Contra a guerra na Palestina e contra a guerra financiada e assistida por Israel e Estados Unidos na América Latina!
Mais uma vez, abraçamos a liberdade e a dignidade dos povos oprimidos do mundo e acompanhamos a resistência transfeminista anticolonial e anti-imperialista em cada canto do sul global. Somos séculos de memórias de resistências!
Feministas do mundo, rumo à greve geral!
Vamos por um 8M internacionalista, transfeminista, anti-imperialista e antirracista contra todas as formas de disciplinamento.
Estamos aqui contra a guerra, o genocidio, terricidio, a militarização, o extrativismo e a repressão. Não passarão!
Boicote feminista a Israel!