Corbyn formalmente proibido de se candidatar a deputado pelos Trabalhistas

O órgão dirigente do partido retirou a possibilidade de reeleição do ex-líder. A ala esquerda diz tratar-se de um atropelo à democracia que só beneficia os Conservadores.

 

Keir Starmer, o atual líder do Partido Trabalhista britânico, já o tinha anunciado em meados do mês passado. Agora chegou a decisão formal do Comité Executivo Nacional, o órgão dirigente do partido: Jeremy Corbyn, antigo dirigente e atual deputado por Islington North, não poderá candidatar-se a este lugar pelo seu partido de sempre nas próximas eleições legislativas.

Corbyn, que aderiu ao Labour aos 16 anos, é deputado por este círculo há 40 anos, sendo vencedor de dez eleições consecutivas.

A decisão foi tomada com dois anos de antecedência face à ida às urnas por 22 votos a favor e 12 contra e marca o culminar de um ataque à ala esquerda do partido e ao próprio Corbyn, que chegou a estar suspenso devido a uma campanha política contra o “antisemitismo” instrumentalizada pelo aparelho do partido. Apesar de readmitido no partido, não foi permitido ao ex-líder dos trabalhistas voltar a fazer parte grupo parlamentar, sendo atualmente considerado um deputado independente.

À esquerda a reação é de indignação. O Momentum considerou tratar-se “um dia sombrio para a democracia” e uma “decisão injusta” que “cria uma divisão enorme dentro do Partido Trabalhista e corre o risco de alienar milhões de pessoas, especialmente os jovens, que foram dinamizados pela política socialista de Jeremy”.

Jon Lansman, um dos seus fundadores, mostra o Independent, diz que Keir Starmer se comporta como “um Putin do Partido Trabalhista”, o que não é próprio de um partido democrático.

E o Politico dá conta da oposição dos deputados da ala esquerda, Bell Ribeiro-Addy e Jon Trickett, que lembram que em 2020 Starmer declarava com todas as letras que “os membros do partido ao nível local devem escolher os seus candidatos em cada eleição”. Ribeiro-Addy diz que os militantes e sindicalistas de Islington North “merecem um voto livre e justo sobre quem os deve representar”.

E esta secção reforça essa mensagem, declarando condenar a “interferência indevida” da direção partidária na escolha do candidato que deveria ser feita localmente. Para além do mais, isso “mina o nosso objetivo de derrotar os conservadores”, alertam.

Corbyn emitiu um comunicado em que afirma: “a nossa mensagem é clara: não vamos a lado nenhum. Nem a nossa determinação em defender um mundo melhor”.

Para ele, Starmer “rompeu o seu compromisso de respeitar os direitos dos militantes Trabalhistas e denegriu as fundações democráticas do partido”. E a sua direção “está cada vez mais indisponível para apresentar soluções que esteja à altura dos desafios que enfrentamos. No momento em que o Governo afunda milhões na pobreza e demoniza os refugiados, Keir Starmer foca a sua oposição naqueles que exigem uma alternativa mais progressista e humana”.