David Brooks | La Jornada, especial para Diálogos do Sul
Tradução: Beatriz Cannabrava
“Investir em nova infraestrutura de combustíveis fósseis é uma loucura moral e econômica”, advertiu António Guterres, secretário geral da Organização de Nações Unidas ao apresentar o informe mais recente do painel intergovernamental sobre mudança climática há pouco mais de um ano. Agora, a sede da ONU em Nova York, como o resto da cidade, está recebendo alertas de que respirar o ar é perigoso à saúde.
Durante os últimos dias, milhões de habitantes entre Chicago, Nova York e Washington uma vez mais foram alertados de que estavam vivendo com uma qualidade do ar perigosa para a saúde. Há um par de semanas apenas, as imagens do perfil de Nova York e outras cidades cobertas com um ambiente alaranjado deram a volta ao mundo. Foram detectados alguns dos piores níveis de qualidade do ar jamais registrados – e por um tempo essas cidades e mais a própria capital lograram ser líderes no ar mais contaminado do mundo.
Salas de emergência receberam os doentes com problemas respiratórios, aulas foram canceladas, os habitantes de novo passaram a usar máscaras que haviam usado na pandemia, suspenderam-se voos. Aos cidadãos foi aconselhado permanecer dentro de suas casas com as janelas fechadas. Esta segunda volta não foi tão extrema, e tudo indica que melhorará por agora, mas a origem da fumaça – centenas de incêndios florestais no Canadá – ainda não foram controlados, muito menos sufocados.
Enquanto isso, uma onda de calor incessante assou com temperaturas muito mais elevadas do que o normal pessoas no Sudeste, desde Texas à Florida, causando pelo menos uma dezena de mortes. Cientistas indicam que estes tipos de fenômenos, diretamente vinculados à mudança climática, serão “a nova anormalidade” – ou seja, estes são apenas prelúdios do futuro.
Estes fenômenos consequentes à continuação com um mundo dependente dos combustíveis fósseis foram prognosticados há décadas, e embora alguns de seus piores impactos são em países em desenvolvimento ou pobres, nem os mais ricos do planeta podem escapar das consequências (afinal de contas, até os multimilionários têm que respirar, até onde se sabe).
E fica claro que as fronteiras são inúteis diante deste fenômeno – se o vizinho maneja bem, mal, ou regular suas políticas energéticas, as consequências afetarão a todos, a contaminação, calor, secas e tormentas não requerem vistos, não passam por aduanas nem são obstaculizados por muros.
Ignorância proposital
Tudo isto são só algumas das consequências de décadas de políticas econômicas baseadas em combustíveis fósseis, e durante décadas já se sabia onde levaria a continuação delas. Mas isso foi enterrado, disfarçado, ignorado de propósito pelas cúpulas econômicas e políticas.
Guterres afirmou há um ano e repetiu desde então que, segundo o consenso científico mundial, “estamos sobre uma via rápida em direção ao desastre climático. Cidades maiores debaixo d’água. Ondas de calor sem precedentes. Tormentas espantosas. Falta água por todo lado. A extinção de um milhão de espécies e animais. Isto não é ficção ou exagero. É o que a ciência diz que resultará de nossas políticas de energia atuais... Esta é uma emergência climática”.
Hoje já não há maneira de ocultar nem pretender disfarçar as consequências deste tipo de desenvolvimento, e muito menos pretender que sem ações valentes, honestas, que se requerem já, neste instante, haverá futuro para as próximas gerações.
Os políticos continuarão usando seu grande talento de falar a verdade e mentir ao mesmo tempo sobre a mudança climática. Já tiveram muita prática nestes últimos anos, muitos governos e seus políticos, incluindo os estadunidenses, anunciaram grandes iniciativas e acordos mundiais, mas não têm cumprido com sua palavra.
Diante disso, é cada vez mais urgente a demanda dos jovens ao direito de respirar o futuro.