Por Gabriel Vera Lopes
Via Brasil de Fato
Ex-militares criticam governo de Xiomara Castro; EUA ameaçam intervir diante de qualquer 'irregularidade'.
Em apenas duas semanas, Honduras enfrentará um dos processos eleitorais mais cruciais e turbulentos de sua história recente. No dia 30 de novembro, mais de 6,5 milhões de hondurenhos são esperados nas urnas para uma eleição que não apenas escolherá o próximo presidente do país, mas que, devido ao funcionamento do sistema eleitoral, também renovará a quase totalidade dos cargos eletivos: desde todas as cadeiras do Congresso até a totalidade das prefeituras do país.
Serão as primeiras eleições gerais desde a chegada ao poder do partido Liberdade e Refundação (Libre), liderado pela presidente Xiomara Castro, que pôs fim à alternância entre os tradicionais Partido Nacional e Partido Liberal, que governaram o país durante a maior parte de sua história, exceto nos períodos marcados por intervenções militares.
Enquanto o atual governo do Libre busca dar continuidade ao seu projeto de “socialismo democrático”, aprofundando a renovação política e as mudanças econômicas do país, por meio de sua candidata presidencial, Rixi Moncada, o tradicional bipartidarismo tenta retornar ao Palácio José Cecilio del Valle, a Casa Presidencial de Honduras, com o objetivo de pôr fim a essas transformações. Eles acusam o atual governo de Castro de ser “comunista” e de querer “venezuelanizar” o país.
O Partido Nacional apoia a candidatura de Nasry Asfura, empresário da construção civil e ex-prefeito de Tegucigalpa, que nas eleições de 2021 obteve quase 37% dos votos. Por sua vez, o Partido Liberal concorre com Salvador Nasralla, ex-apresentador de televisão conhecido como “o homem da TV”, que manteve uma aliança com o atual governo durante boa parte de seu mandato e chegou a ocupar o cargo de designado presidencial, equivalente à vice-presidência.
As tensões políticas no país parecem se intensificar à medida que a data das eleições se aproxima. Em meio a acusações de ambos os lados, no último 29 de outubro, o procurador-geral de Honduras, Johel Zelaya, afirmou publicamente que membros da oposição estariam conspirando para cometer uma fraude eleitoral. Ele disse que integrantes de destaque do Partido Nacional formaram uma “associação ilícita para alterar a vontade popular com o objetivo de impor um resultado na eleição presidencial”.
Como suposta prova, o procurador-geral divulgou quase 26 áudios nos quais supostamente se ouve Cossette López, membro do Conselho Eleitoral pelo Partido Nacional, conversando com Tomás Zambrano, líder da bancada do mesmo partido, e um alto oficial militar não identificado planejando um esquema para alterar os resultados eleitorais.
As acusações da direita
Diante das graves acusações, e sem oferecer maiores explicações, a oposição sustenta que os áudios seriam falsos e que se trataria apenas de uma campanha “suja” do governo de Xiomara Castro, que eles acusam de estar preparando uma fraude eleitoral.
Neste cenário delicado, na última terça-feira (11), os candidatos de oposição do Partido Nacional e do Partido Liberal, juntamente com um terceiro partido, o Partido Democrata Cristão, assinaram um “acordo” para “defender o voto”.
A assinatura simbólica foi impulsionada pela Plataforma Cidadã Defensores de Honduras, um espaço político opositor ao governo, descrito como uma “ampla plataforma cidadã” e coordenado por Mario Hung Pacheco, ex-chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, já na reserva.
A plataforma foi apresentada em meados de junho com o objetivo de “defender o direito a eleições livres, transparentes e corretamente realizadas” frente a “toda ingerência do socialismo do século 21, que busca impor seu modelo de miséria, controle e fracasso”.
Declarações de Washington
A partir das diversas denúncias, a Secretaria-Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) emitiu um comunicado no qual voltou a expressar sua “preocupação” com as eleições em Honduras.
A mensagem, divulgada nas redes sociais, foi compartilhada pelo subsecretário de Estado dos Estados Unidos para a América Latina, Christopher Landau, que também é embaixador de Washington no México, que afirmou que o país reagirá “com rapidez e firmeza” a qualquer tentativa de perturbar o processo eleitoral em Honduras.
Através de uma mensagem em sua conta no X (antigo Twitter), Landau assegurou que Washington “compartilha a preocupação expressa pela OEA” sobre o andamento das eleições e que agirá de imediato perante qualquer eventual “atentado contra a integridade” do processo.
Nesse sentido, ele afirmou que o governo do presidente americano Donald Trump acompanha de perto a situação e pediu tanto às autoridades eleitorais quanto às forças militares que “respeitem escrupulosamente as leis e a Constituição de Honduras”.
“O presidente Donald Trump, o secretário [Marco] Rubio e eu nos preocupamos profundamente com o hemisfério ocidental e responderemos com rapidez e firmeza a qualquer atentado contra a integridade do processo democrático em Honduras”, declarou Landau.
Editado por: Maria Teresa Cruz
