Encontro Internacional Contra a Guerra reúne 4 mil pessoas em Paris

Ativistas, parlamentares e sindicalistas de 18 nações rechaçaram guerras em curso e exigiram fim do genocídio em Gaza.

Neste domingo (05/10), Paris sediou uma ampla mobilização internacional contra o genocídio na Palestina e a Guerra na Ucrânia, reunindo 4 mil pessoas, entre ativistas, parlamentares e sindicalistas de 18 países.

O Encontro Internacional Contra a Guerra aconteceu no Dôme de Paris e foi convocado pelos signatários do apelo europeu “Nenhum centavo, nenhum arma, nenhuma vida humana pela guerra!”, com apoio de várias organizações como o Stop The War e de parlamentares, como Jerome Legrave do partido socialista La France Insoumise (LFI).

Abrindo o evento, a sindicalista palestina e membro da associação árabe e judaica Standing Together, Mahaseen Ned El Hadi, destacou a repressão de Israel e os movimentos de resistência dentro e fora de Israel contra o genocídio em Gaza.

“Como palestinos, nos fortalecemos com essa ampla solidariedade internacional à nossa causa”, afirmou. Ela também reiterou “o orgulho por todos aqueles que participaram da Flotilha da Liberdade” e saudou “as forças judaicas progressistas em Israel que estão indo às ruas hoje para condenar a guerra e exigir liberdade para a Palestina”.

Único Estado democrático

Sobre o plano de paz de Trump, a sindicalista afirmou que “se trata de uma tentativa de colocar o povo palestino sob controle americano” e que “com esse plano, passaremos de um genocídio por bombas a um genocídio por isolamento”.

“Muitos acreditam que o plano de Trump e seu discurso sobre Gaza não passam de uma armadilha, destinada a semear o desânimo entre os palestinos”, destacou. No entanto, “as mais altas esferas do imperialismo mundial não conseguirão reprimir a sede de liberdade e de retorno do povo palestino”.

“Esta guerra um dia terminará, mas um novo ciclo de conflito começará, e este conflito só terminará com a solução de um único Estado democrático, onde judeus e palestinos vivam do rio ao mar, com base na igualdade e na justiça social”, afirmou.

O dia seguinte

Na sequencia, a jornalista israelense Orly Noy, presidente do Conselho Executivo de B´TSelem, trouxe uma reflexão sobre o “dia seguinte” ao cessar-fogo. Quando esse dia chegar, apontou, será preciso um profundo exame de consciência.

“Precisaremos analisar em profundidade todos os processos de desumanização dos palestinos ao longo de décadas e ser responsáveis pelo racismo, pelas leis raciais, pelo roubo de terras, pela limpeza étnica, pelos assassinatos indiscriminados, pelo cerco, pela humilhação, pelo apagamento cultural — e por tanto mais”, afirmou.

Segundo Noy, “nenhuma nova realidade será possível sem esse acerto de contas, e sem que os criminosos sejam levados à justiça e punidos”. Ela destacou que “os governos ao redor do mundo terão de prestar contas por terem permitido que Israel estabelecesse, ao longo de décadas, um regime de apartheid claro, e ainda assim o chamarem de democracia”.

Sobre o plano do presidente Donald Trump, a jornalista questionou: “por que o discurso político dominante no Ocidente hoje considera natural a exigência israelense-americana de que o Hamas não participe de nenhum acordo futuro sobre Gaza, mas nem sequer pensa em fazer a mesma exigência em relação a Netanyahu e seu governo manchado de sangue?”

E disse sobre o reconhecimento do Estado da Palestina por alguns países, que após “dois anos de aniquilação, pensar que um gesto simbólico, sem efeito real, possa ser considerado um ato suficiente é um insulto”.

Democracia em perigo

O ucraniano Andreï Konovalov, ativista do Peace From Below, relatou que, segundo o Ministério da Defesa da Ucrânia, cerca de três quartos de todos os soldados que lutam na linha de frente foram mobilizados, não se voluntariaram”. Ao contar a brutalidade do governo ucraniano, ele mencionou “torturas, espancamentos, sufocamentos e estrangulamentos usados por oficiais de recrutamento como parte do processo de mobilização”.

Sua fala foi uma contundente defesa da democracia. “O que poderia ameaçar mais a democracia do que ignorar direitos tão fundamentais quanto o direito à segurança e o direito de se recusar a matar?”, questionou.

Em sua avaliação, “o verdadeiro perigo [à democracia] está na extrema desigualdade social, no belicismo movido pelo lucro, e na aplicação seletiva dos direitos humanos básicos”. Konovalov defendeu soluções “que impeçam o avanço das forças de extrema-direita — na Rússia, na Ucrânia, em Israel, nos Estados Unidos e aqui na Europa”.

“A democracia está realmente em perigo em todo o mundo. E apenas uma rejeição global da política de confronto pode tirar dos radicais o apoio que os sustenta, proteger as democracias e transformar o mundo em um lugar onde a justiça seja mais do que uma promessa vazia”, afirmou.

O ativista comentou a militarização em curso da Europa e disse que os “envios de armas e essa guerra em si não têm nada a ver com liberdade, nem com democracia, nem com os interesses do povo ou do Estado ucraniano. Eles servem a uma única coisa: aos interesses do clã neoconservador transatlântico”.

Nenhum europeu pode estar verdadeiramente confiante em seus direitos enquanto os direitos humanos e democráticos não se aplicarem a todos. E ninguém pode jamais se sentir verdadeiramente seguro enquanto a segurança não for garantida para todos”, destacou.

‘Aprofundem o movimento’

John Rees, diretor da Stop The War, convocou os europeus a participarem no próximo sábado da 32ª manifestação nacional em solidariedade à Palestina, em Londres. Ao contar que 71% da população britânica está solidárias aos palestinos, enquanto 12% permanecem apoiando Israel, ele disse não estar satisfeito. “Não achamos que tenhamos feito tudo o que poderíamos”, apontou.

Rees comentou o crescimento das mobilizações em todo o mundo. “Este movimento é enorme — e ainda está crescendo. Há quanto tempo um militante poderia subir a um palco como este e dizer que, nas últimas duas semanas, três ou quatro greves gerais aconteceram na Europa? Há quanto tempo isso não é verdade?”, observou.

Mas ponderou: “de um extremo da Europa ao outro, os alarmes estão soando” e “os governos buscam realinhamento e guerra, impulsionados pela internacional fascista que tem Donald Trump como seu arauto”.

Rees também fez uma forte defesa do internacionalismo. “Meu país é a classe trabalhadora, onde quer que ela esteja”. E aconselhou partidos e organizações no mundo inteiro a aprofundar o movimento. “Aprofundem-no em direção à classe trabalhadora organizada, e façam isso com urgência, porque o tempo é curto”, alertou.

* Com contribuição do economista e dirigente petista Markus Sokol, que assistiu ao evento diretamente de Paris.