Via Climainfo
Para cada dólar investido em energia renovável, o setor investiu US$ 46 em produção de petróleo e gás.
Pontos principais:
- Foram investidos US$ 8,7 trilhões em petróleo e gás nos dez anos desde a assinatura do Acordo de Paris, representando um grande obstáculo ao avanço global na redução das emissões de gases de efeito estufa.
- A indústria de petróleo e gás gastou apenas cerca de US$ 113 bilhões em energia renovável desde o Acordo de Paris, apesar de seu compromisso público com um “futuro de emissões líquidas zero”. Para cada dólar investido em energia renovável, o setor investiu US$ 46 em produção de petróleo e gás.
- Mais de meio trilhão de dólares foi gasto na exploração de novas reservas de petróleo e gás, apesar de estudos mostrarem que novos campos são incompatíveis com a meta de limitar o aquecimento a 1,5°C.
- Desde a assinatura do Acordo de Paris, o investimento em energias renováveis mais que dobrou, enquanto os investimentos em combustíveis fósseis permaneceram estáveis. Atingir as metas do Acordo requer aumentar o investimento em energia renovável e eliminar gradualmente os investimentos em fósseis.
- A indústria descreve a captura, uso e armazenamento de carbono (CCUS) como um “facilitador crucial” da transição energética, mas investiu pouco mais de US$ 15 bilhões na tecnologia desde o Acordo de Paris. Para cada dólar investido em CCUS, o setor investiu US$ 32 na exploração de novas fontes de petróleo e gás.

Progresso desde Paris
Quando o Acordo de Paris foi assinado em 2015, o mundo estava a caminho de mais de 4°C de aquecimento até o fim do século. Dez anos depois, as políticas atuais projetam um aquecimento de 2,7°C, podendo chegar a 1,9°C no melhor cenário. No entanto, as emissões globais ainda não atingiram o pico, e mesmo a meta otimista de 1,9°C não cumpre o objetivo do Acordo de limitar o aquecimento a “bem abaixo” de 2°C. Um dos principais motivos para essa falta de progresso é a inação da indústria de petróleo e gás.
Investimento contínuo em combustíveis fósseis
O investimento em energia renovável, segundo definição da Agência Internacional de Energia (IEA)1, aumentou 70% desde o Acordo de Paris, com o investimento em renováveis crescendo 108%. Entretanto, nesse mesmo período, o investimento em combustíveis fósseis caiu apenas 4%, permanecendo constante em torno de US$ 1 trilhão por ano. O aumento em energia renovável não é suficiente para alcançar as metas do Acordo, os investimentos em fósseis também precisam diminuir.
Nos dez anos desde o Acordo de Paris, US$ 8,7 trilhões foram investidos na indústria de petróleo e gás. Desse total, quase dois terços (US$ 5,7 trilhões) foram destinados ao setor upstream — perfuração e extração. Mais de US$ 500 bilhões foram gastos na exploração de novos campos, apesar de múltiplos estudos indicarem que novas fontes de petróleo e gás fariam o mundo ultrapassar o limite de 1,5°C.
Figura 1

A indústria de petróleo e gás continuou a lucrar com esse investimento contínuo. Em 2022, quando os preços do petróleo e do gás estavam altos após a invasão da Ucrânia pela Rússia, a indústria como um todo obteve um lucro de US$ 4 trilhões. Desde a assinatura do Acordo de Paris, as seis maiores empresas petrolíferas e de gás de capital aberto – BP, Chevron, Eni, ExxonMobil, Shell e TotalEnergies – lucraram coletivamente US$ 621 bilhões2.
A grande maioria das empresas do setor se comprometeu com um “futuro de emissões líquidas zero, consistente com o Acordo de Paris”. Apesar dessa meta, desde 2015 o setor gastou apenas US$ 113 bilhões em energia renovável — o equivalente a 1,4% do total investido em petróleo e gás nesse período3. Somente no segmento upstream, a indústria gastou US$ 46 em petróleo e gás para cada US$ 1 em energia renovável.
Um estudo com as 250 maiores empresas de petróleo e gás — responsáveis por 88,3% da produção global — revelou que apenas 49 delas operavam projetos de energia renovável, representando cerca de 1,4% da capacidade global instalada.
O investimento em energia renovável também está desacelerando, tendo caído cerca de 25% entre 2023 e 2024, para menos de US$ 22 bilhões.
Figura 2

O setor tem promovido publicamente a captura, uso e armazenamento de carbono (CCUS) como um “facilitador crucial da transição energética”. No entanto, desde o Acordo de Paris4, as empresas investiram pouco mais de US$ 15 bilhões nessa tecnologia. Para cada dólar investido em CCUS, o setor investiu US$ 32 na exploração de novas fontes de petróleo e gás. A IEA classifica o CCUS como “fora do ritmo necessário”, com a capacidade de captura de carbono projetada para atingir apenas 40% do nível exigido em seu cenário de Emissões Líquidas Zero até 2050.
Apesar do entusiasmo da indústria, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) conclui que o CCUS é uma das opções mais caras para reduzir emissões na matriz energética, com baixo potencial de impacto no curto prazo. Além disso, mais de 80% da capacidade atual de CCUS é usada para recuperação avançada de petróleo, o que aumenta a extração de hidrocarbonetos.
- Cálculos da ZCA com base em dados do IEA World Energy Investment 2025. ↩︎
- Dados de lucros líquidos (Q1 2016 – Q2 2025), Bloomberg Terminal, acesso em 23 de outubro de 2025. ↩︎
- Cálculo com base em dados de 2016–2024 (o detalhamento de 2025 ainda não está disponível no relatório da IEA). ↩︎
- Dados de 2016–2024; a IEA ainda não publicou informações para 2025. ↩︎
