Especial COP 30: Os grandes bancos mundiais continuam a aumentar financiamento a combustíveis fósseis

No ano passado, o financiamento das empresas de combustíveis fósseis aumentou 23%. Desde a assinatura dos Acordos de Paris foram-lhes concedidos 6,9 biliões de euros.

O relatório Banking on Climate Chaos revela que em 2024 os maiores bancos mundiais aumentaram o financiamento dos combustíveis fósseis em 23% face ao ano anterior. O dinheiro lançado para estas máquinas de poluição foi assim nesse ano de 870 mil milhões de dólares (perto de 760 mil milhões de euros).

O estudo foi apresentado esta terça-feira. É promovido por oito Organizações Não Governamentais: a Rainforest Action Network, a Reclaim Finance, o BankTrack, o Center for Energy, o Development, Indigenous Environmental Networki, o Oil Change International, a Reclaim Finance, o Sierra Club, e a Urgewald e apoiado por outras 480 organizações em 69 países. Parte de dados publicados pelas próprias empresas ou de outros compilados outras fontes, entre as quais a agência financeira Bloomberg. E contabiliza ainda 6,9 biliões de euros concedidos em empréstimos, emissões de ações e obrigações a empresas produtoras de petróleo, carvão e gás desde a assinatura do acordo de Paris, em 2015, que tinha como objetivo limitar o aquecimento global a 1,5°C em relação à era pré-industrial.

Foram avaliados para esta edição do estudo 65 dos maiores bancos mundiais. Mais de dois terços deles aumentaram os valores atribuídos às empresas de combustíveis fósseis, alcançando assim um montante próximo do despendido em 2021.

No ranking dos maiores financiadores, destacam-se os gigantes bancários norte-americanos. Com o JPMorgan à cabeça, tendo atribuído em 2024 53,5 mil milhões de dólares (perto de 46,5 mil milhões de euros) a este tipo de empresas, um aumento de 39%), seguido por Bank of America e Citigroup. Os japoneses Mizuho Financial e Mitsubishi UFJ Financial também estão entre os grandes investidores na economia fóssil, assim como bancos europeus como o Barclays (35,4 mil milhões de dólares), Santander (17,3 mil milhões) e o HSBC (16,2 mil milhões). BNP Paribas e Deutsche Bank também ocupam posições de relevo.

Na lista das empresas beneficiadas com estes financiamentos surge a “portuguesa” EDP com 27,62 milhões atribuídos entre 2021 e 2024.

Também português é um dos co-autores do estudo, Diogo Silva, do BankTrack, que vinca que “ao mesmo tempo que a poluição fóssil espalha a morte, meses de chuva caem em poucas horas e outros eventos climáticos extremos tornam-se cada vez mais "normais", os bancos apostam ainda mais no caos climático”. O economista esclarece ainda que “milhões de vidas estão em jogo e os dados são claros sobre a direção a que os bancos nos estão a levar.

Outra das co-autoras, Allison Fajans-Turner, da Rainforest Action Network, destaca por seu turno que há um “manual” que estes bancos usam para “se manterem a si próprios e à indústria dos combustíveis fósseis abastecidos de dinheiro, enquanto sobrecarregam o sistema financeiro com riscos e esgotam o tempo para impedir que as temperaturas globais subam acima de 1,5°C”. Este passa por “distrair, atrasar, desviar e, finalmente, desertar. Se necessário, repetir o ciclo”, diz, ao mesmo tempo que acentua que “o poder deste relatório reside no facto de romper com estas táticas e seguir o dinheiro”. Descobre-se assim que “mesmo perante o agravamento dos desastres e os alertas cada vez mais alarmantes de cientistas e especialistas em políticas públicas, os bancos aumentaram o seu financiamento para os combustíveis fósseis entre 2023 e 2024 e ainda assim investiram milhares de milhões na expansão das infraestruturas fósseis”.

Para ela, “só uma regulamentação e supervisão governamental rápida e robusta e vinculativa pode fazer com que os bancos mudem de rumo. Sem regulamentação vinculativa, apostar no caos climático continuará a ser a estratégia de investimento dominante dos bancos, afundando a nossa economia e o nosso planeta".a”.