Via Esquerda.net
Parece haver uma decisão depois de um processo difícil no interior da Nova Frente Popular. Depois de duas semanas de braços de ferro, impasses, nomes lançados na praça pública e rejeitados, a unidade constrói-se finalmente à volta de Lucie Castets, porta-voz e fundadora do Coletivo Nos Services Publics.
Esta será a candidata da NFP ao lugar de primeira-ministra, devendo enfrentar agora a resistência de Macron e de um parlamento em que a esquerda é minoritária e os liberais e a direita manobram para tentar contrariá-la. O nome, aliás, é apresentado em contra-relógio, momentos antes de uma comunicação do presidente da República marcada para a noite desta terça-feira
Lucie Castets tem 37 anos, é desconhecida do grande público e integra os escalões de topo da Função Pública francesa. Foi formada por faculdades como a Sciences Po e a London School of Economics, e é ex-aluna da famosa École Nationale d'Administration. Integrou a Direção Geral do Tesouro antes de se juntar à Tracfin, a unidade de combate ao branqueamento de capitais. Atualmente era diretora financeira e de compras da cidade de Paris.
O Libération apresenta-a como próxima da "ala esquerda" do Partido Socialista, tendo o seu nome chegado à mesa das negociações por via de Olivier Faure, o seu secretário-geral, apoiado também por elementos da gestão de Anne Hidalgo na Câmara da capital.
No breve comunicado em que é apresentada pela NFP justifica-se a escolha apresentando-a como estando “envolvida nas lutas associativas pela defesa e promoção dos serviços públicos”.
Nas primeiras declarações depois de ser conhecida a notícia do acordo, à AFP, Castets, diz que aceitou a proposta "com toda a humildade mas com muita convicção", vincando algumas das propostas essenciais da esquerda francesa para governar: revogar a reforma das pensões de Macron, fazer "uma grande reforma fiscal para que cada um, indivíduos e multinacionais, paguem a sua justa parte, trabalhar para "melhoria do poder de compra", para a revalorização dos salários e o "fim da regressão dos serviços públicos".
Este último ponto tem sido o principal cavalo de batalha do seu movimento, o Nos Services Publics, que, segundo a própria, nasceu da consciência de que “faltava uma entidade que assuma a palavra a partir do interior para mostrar os disfuncionamentos e fazer propostas” sobre os serviços públicos.
Trata-se de um coletivo de diferentes tipos de trabalhadores da Função Pública que pretende salientar o “sentido de serviço público” contra a falta de meios, a desconexão com os interesses dos cidadãos, a ausência de uma visão a longo prazo. Defende-se um serviço público que “deveria ser universal e um fator de emancipação”, contra uma realidade em que é muitas vezes “maltratante, violento e desigual”. Contra as tendências liberalizantes para a destruição dos serviços públicos, este movimento pretende transformá-los e reinventá-los para “fazer face às urgências climática, social e democrática”.