Multidões nas ruas de Paris e Roma para acabar com impunidade da violência machista

 

Em Paris, agradeceu-se a Gisèle Pelicot pela sua coragem e reivindicou-se uma “lei-quadro integral” que inverta o ciclo de promessas não cumpridas sobre violência machista. Em Roma, 150.000 pessoas juntaram-se para “desarmar o patriarcado”, criticando o Governo de Meloni.

 

O Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres foi assinalado este sábado com manifestações por toda a França. Em Paris, 80.000 pessoas corresponderam ao apelo de 400 organizações de um autêntico sobressalto feminista.

A violação coletiva de Gisèle Pelicot estava na mente de todas. Como uma manifestante declarou à Euronews: “Com o julgamento de Mazan, vemos que a vergonha deve mudar de lado”. Amandine Cormier, da Greve Feminista, tinha já antes dito, em conferência de imprensa mencionada pela France 24, que o caso “mostra que a cultura da violação está ancorada na sociedade, assim como a violência contra as mulheres. A violência patriarcal exerce-se em todo o lado: nas casas, nos locais de trabalho, nos locais de estudo, na rua, nos transportes, nos estabelecimentos de cuidados, absolutamente em todo o lado na sociedade”.

A jovem Nina Sibi levou à manifestação uma pancarta que também resumia um sentimento geral “Obrigada Gisèle”, explicando ao mesmo canal que o que Pelicot viveu foi “terrível” e que ela “teve uma coragem imensa ao vir a público falar” porque poderia ter escolhido “calar” ou “ficar anónima” mas “escolheu bater-se”.

Por tudo isto, as palavras e a coreografia do hino feminista chileno “um violador no teu caminho” marcaram o desfile:

“A culpa não era minha

nem de onde estava

nem de como vestia.”

Outro som marcante foi o do alarme para lembrar, como esclarecia uma militante do coletivo #NousToutes, que “a cada dois minutos e meio” ocorre uma violação ou uma tentativa de violação em França.

Entre as reivindicações das organizações que convocaram a jornada de luta estão estão um investimento de 2,6 mil milhões de euros, 344 milhões dos quais especificamente para intervir sobre a violência contra as mulheres, e uma “lei-quadro integral” sobre o tema, propondo-se 140 medidas que vão desde a educação, a formação das forças de segurança, o acompanhamento das vítimas e as políticas de prevenção. Consideram que “governos sucessivos multiplicaram as promessas mas os meios são irrisórios e em baixa, a ação política é quase inexistente”.

 

150.000 em Roma para desarmar o patriarcado

Em Roma, a manifestação juntou 150.000 pessoas contra um Governo que, dizem, não cumpriu as promessas de lutar contra as mulheres, antes pelo contrário. Aqui a manifestação foi convocada pelo movimento Non Una di Meno com a palavra de ordem “desarme-mos o patriarcado”.

À RFI, Teresa, de 47 anos, explica que “o Governo de Meloni e o aumento do autoritarismo conduzem a uma neutralização da violência de género”, a “não ver nem nomear as raízes da violência que estão estreitamente ligadas às dinâmicas do poder patriarcal.”

Os números da Organização das Nações Unidas apontam para que cerca de uma em cada três mulheres tenha sido vítima de violência física e/ou sexual ao longo da sua vida. Em 2023, pelo menos 51.100 mulheres foram vítimas mortais da violência de género. Ou seja, uma mulher foi morta a cada dez minutos no mundo por esta causa.