Nakba: palestinos lembram êxodo forçado em 1948 para a criação de Israel

O dia 15 de maio de 1948 marca a chamada "Nakba" (catástrofe, em árabe), que representa o êxodo forçado de 750 mil palestinos e a destruição de cerca de 500 vilarejos, segundo o historiador israelense Ilan Pappé. A "Nakba", associada a outros eventos historicos, possibilitou a criação do Estado de Israel em 78% das terras da chamada Palestina histórica.

Por Alice Froussard

Via RFI

A Nakba afetou a vida de milhares de palestinos, que foram enviados para campos de refugiados no Líbano, Síria, Jordânia, Cisjordânia e Faixa de Gaza. Para os palestinos, 75 anos depois, a Nakba ainda é um traumatismo presente. Este é o caso dos habitantes do vilarejo de Beit Iksa, deslocados em 1948 e 1967.

Dos 35 mil moradores, restam apenas 2 mil pessoas, que decidiram voltar, apesar dos assentamentos israelenses, dos controles nas fronteiras e das estradas construídas em torno da região. "Até as linhas de trem foram construídas nas nossas terras. Eram terras cultiváveis, que agora não podemos mais usar. Alguns agricultores tentam ir a pé, mas sempre são parados pelas autoridades israelenses, que exigem a verificação dos títulos de propriedade e nos recusam sistematicamente o acesso", diz o prefeito Murad Kiswani.

Na cidade de Lifta, em frente de Beit Iksa, ainda sobram algumas casas do período anterior à ocupação israelense. Ali perto, Deir Yassin é palco de um dos piores e mais conhecidos massacres na região. No vilarejo, situado perto do oeste de Jerusalém, a estimativa é de que a matança, perpetrada por radicais judeus de extrema direita, tenha deixado cerca de 254 vítimas.   

"Catástrofe"

"A Nakba é um problema constante e o deslocamento dos palestinos continua. Veja as casas lá atrás: isso é o que sobra do vilarejo Beit Iksa. Mesmo hoje, obter permissão para construir neste vilarejo é extremamente complicado", lembra o escritor Jalal Abukhater, natural da região, em entrevista à RFI.

"Não sou palestino, mas acredito que a identidade palestina mudou bastante depois da Nakba. Todos os palestinos sofreram ou sofrem até hoje as consequências de 1948. A guerra de 1967 foi apenas a segunda etapa das expulsões, da conquista das terras de toda a Palestina histórica", avalia.

A palavra Nakba foi usada pela primeira vez em 1948 por militares israelenses, que falavam árabe perfeitamente. Eles distribuíram panfletos aos palestinos os alertando de que, para evitar um desastre, ou uma catástrofe, eles deveriam deixar o vilarejo o mais rápido possível.

"Desde a Nakba, a maioria dos palestinos são considerados refugiados, e aqueles que não são refugiados, são cidadãos israelenses de segunda categoria em relação aos judeus", explicou à RFI Eitan Bronstein, fundador da ONG Zochrot, fundada em 2001 e que significa "Lembrança" em hebreu. O objetivo da organização é sensibilizar os israelenses à ideia da expulsão dos palestinos, que ainda encontra resistência na opinião pública. "Esse evento mudou a identidade palestina", acrescenta Bronstei.n.