O resultado do primeiro turno das eleições legislativas na França acabou confirmando o enorme crescimento da extrema-direita, que já tinha se expressado nas eleições europeias de 9 de junho - embora nelas a soma da extrema-direita chegasse a 40% e, na atual eleição, o Reagrupamento Nacional (Rassemblement National, RN) está com 34%, apesar de que, dadas as particularidades do sistema eleitoral francês, não deixa dúvidas de que obtenha a maioria absoluta no próximo dia 7. Também se confirmou o colapso do macronismo e da direita tradicional, sem que a união da esquerda, a Nova Frente Popular (Nouveau Front populaire, NFP), apesar de seu crescimento, pudesse contrariar essa tendência majoritária. Levando em conta que o resultado definitivo será conhecido apenas no próximo dia 7, publicamos a seguir o comunicado do Novo Partido Anticapitalista (Nouveau Parti Anticapitaliste, NPA).
Estas eleições legislativas confirmam o terrível perigo da extrema-direita, que conseguiu resultados historicamente elevados. Esse resultados são uma combinação do desenvolvimento do nacionalismo e do racismo em certas camadas da população, do crescente apoio da classe dominante à extrema-direita, veiculada por alguns meios de comunicação, e do colapso da direita (os macronistas e a direita tradicional dos Les Républicains), cujas políticas revoltaram a população. Com apossível chegada ao poder do RN e seus aliados e apoiadores, o perigo do neofascismo cresce um pouco mais na França.
A boa notícia dessas eleições é o ressurgimento da esquerda. O aumento de seus votos foram alcançados graças à unidade das forças políticas, associativas e sindicais, que mobilizou milhões de pessoas para se manifestar e fazer campanha. Esta unidade não pinta ninguém de vermelho, não esquece a responsabilidade das políticas liberais aplicadas por governos que alegam ser de esquerda, desde Mitterrand até Hollande, causando desorientação e raiva na classe trabalhadora, que sofreu com elas. Essa unidade está baseada na urgente necessidade de implementar o programa da NFP. Mas esta unidade em torno da NFP não está, no momento, suficientemente forte para compensar a perigosa pressão do extrema-direita, as campanhas de acusação caluniosas de antisseminismo e terrorismo, a falsa e insultuosa simetria entre os “extremos” promovida pelos macronistas, mas também as crescentes dúvidas que surgem das derrotas sociais e sobre a solidez da unidade de esquerda, prejudicada pelos conflitos internos das recentes semanas.
Na situação de profunda crise no capitalismo, para fazer retroceder a extrema-direita e impulsionar a esquerda combativa, precisamos fortalecer a unidade de ação de toda a esquerda. De baixo para cima, necessitamos estar juntos e lutar lado a lado: nos manifestando contra a extrema-direita e nos defendendo dos ataques de grupos fascistas, resistindo à medidas antissociais, discriminatórias ou autoritárias, à violência policial e racista, à violência sexista e sexual, defendendo o aumento dos salários e benefícios sociais, o retorno à aposentadoria completa aos 60 anos, dando vida à solidariedade internacionalista e anticolonial com a Palestina, Ucrânia, Kanaky e, de modo mais geral, com todas os povos que são vítimas do imperialismo francês. É por meio da mobilização conjunta para mudar a relação de forças que podemos mudar a vida.
O NPA-L’Anticapitaliste convoca a toda as organizações políticas, sindicais e comunitárias de esquerda - a começar com as forças políticas que compõem a NFP - a se unirem o mais rápido possível, em nível local e nacional, para implementar ações conjuntas sempre que possível. Antes e depois das eleições, nas urnas e nas lutas, o fortalecimento da esquerda nas ações é o caminho para restaurar a confiança da classe trabalhadora em suas próprias forças.
Ao longo dos próximos dias, necessitamos de uma ascensão popular contra o perigoso
crescimento da extrema-direita e precisamos construir as maiores mobilizações e manifestações de rua possíveis.
Em relação ao segundo turno das eleições legislativas no próximo domingo, sabemos que, o que quer que aconteça, necessitaremos de um bloco sólido da esquerda social e política para resistir. Onde quer que as condições sejam benéficas para que os candidatos vençam, precisamos confirmar e ampliar os votos expressos no primeiro turno em favor da NFP e seus aliados.
O principal desafio desse segundo turno é, ainda, impedir que a extrema-direita tome posse em poucos dias e esse é um objetivo essencial para nosso campo social. Sabemos que as políticas defendidas ou postas em prática pela direita, particularmente pelo macronismo ainda no poder, amplamente ajudaram a pavimentar o caminho para a RN, ao adotar algumas de suas medidas e ajudando a lhes dar legitimidade, ao mesmo tempo em que atacam cada vez amplos setores da esquerda. No entanto, entre dois perigos, devemos fazer tudo o que podemos para elimitar o maior e mais imediato.
No próximo domingo, diante dos interesses imediatos das pessoas imigrantes, de todo o mundo do trabalho, da defesa dos direitos e liberdades públicas, é imperativo derrotar o RN, seus aliados e seus apoiadores, de preferência com uma boa esquerda.
Para além do segundo turno, o que foi construído no centro dessa campanha, uma esquerda unida e militante, deve continuar: confirmar um programa para romper com o passado, alimentar e nutrir as mobilizações que são mais necessárias do que nunca, permitir que o maior número de pessoas permeneça organizada para além dessas eleições, um prerriquisito para reviver uma verdadeira esquerda combativa.
Nesse contexto, a NFP e todas as organizações envolvidas na luta, sindicatos e associações têm uma enorme responsabilidade no período à frente: construir coletivos e mobilizações mais amplos possíveis diante da extrema-direita e do macronismo (caso sobreviva a essas eleições), para transmitir as aspirações da classe trabalhadora e impor as medidas do programa do NFP. Nas urnas e nas ruas, derrotar o RN, retomar a luta pelo progresso social, pelo planeta, por uma sociedade diferente!
Domingo, 30 de junho de 2024
Montreuil
Originalmente publicadoem https://internationalviewpoint.org/spip.php?article8577. Tradução de Paulo Duque, da equipe doEsquerda Online.