Por Pedro Augusto
Via Esquerda Online
Novembro é o mês da Consciência Negra, em referência ao líder quilombola Zumbi dos Palmares. Só foi necessário atribuir esse simbolismo porque a história do povo negro é de resistência e protesto contra a desigualdade racial, que ocorre em todo o mundo e estrutura o capitalismo desde os seus primórdios, o que para o movimento negro configura um verdadeiro genocídio.
Tanto a Revolução Haitiana no final do século XVIII; as rebeliões negras abolicionistas no Brasil no século XIX; a luta pelos direitos civis nos EUA nos anos 1960; as lutas de libertação nacional na África nos anos 1970; a construção do MNU no Brasil no final dos anos 1970, quanto o movimento atual Vidas Negras Importam; são parte da luta do povo negro pela liberdade, pelo direito de existir com dignidade, em toda a sua plenitude humana, e pelo bem viver.
Por isso, é impossível não identificar como uma luta antirracista a causa Palestina, que ganha contornos ainda mais dramáticos em 2023. O povo palestino vive um verdadeiro apartheid desde a criação do Estado de Israel, em 1947, fruto da aliança entre o movimento sionista e os países imperialistas, em especial os Estados Unidos da América. O Estado de Israel foi criado a partir de um projeto colonialista no território onde já vivia o povo palestino há séculos, provocando a Nakba, que é o êxodo iniciado em 1948, e que expulsou só naquele ano mais de 700 mil palestinos de suas terras.
O sionismo sempre teve como objetivo alcançar uma maioria demográfica judaica na Palestina, pró-Estado de Israel. E esse objetivo tem sido alcançado através de ações militares e políticas que discriminam os palestinos árabes e os impedem de exercerem os mesmo direitos civis dos israelenses judeus. São como cidadãos de segunda classe, limitados a viverem dentro de limites territoriais cada vez mais restritos, como é o caso de Gaza e Cisjordânia.
Uma história com contornos similares à diáspora negra provocada pelo colonialismo europeu na África e nas Américas ou às políticas de segregação racial ocorridas nos EUA e na África do Sul, ou mesmo com a política de encarceramento em massa, extermínio de jovens negros e controle territorial das periferias provocada pela política de guerra às drogas no Brasil. Se não bastassem tais similaridades, o Estado israelense lucra através da venda de tecnologia militar e armas, desenvolvidas nos laboratórios a céu aberto contra a população palestina, sendo o Brasil um dos seus maiores clientes.
Desde o último dia 07 de Outubro, quando o Hamas atacou civis israelenses de forma indiscriminada em ataques terroristas, assistimos a uma reação completamente desproporcional do governo Netanyahu, de extrema-direita, no triste massacre de palestinos que estamos assistindo em Gaza. Não deixa de serem também ataques terroristas praticados pelo exército de Israel, contra moradias e hospitais, mas com contornos de limpeza étnica e genocídio, onde mais de 5 mil crianças palestinas já foram assassinadas, dentre os mais de 10 mil mortos. Nas palavras do ministro da defesa de Israel, Yoav Gallant: “estamos lutando contra animais e agindo de acordo”, para que não restem dúvidas do caráter supremacista do atual massacre contra o povo palestino em Gaza.
Defender um cessar-fogo imediato em Gaza, com o fim do deslocamento forçado de palestinos, é o mesmo que dizer que a vida dos israelenses ceifada injustamente vale tanto quanto a vida dos palestinos, mas sem criar uma falsa-simetria entre os ataques do Hamas em 07 de Outubro e os ataques do exército de Israel ao longo do último mês e meio ou, mais precisamente, ao longo dos últimos 75 anos.
Em outras palavras: vidas palestinas importam!