Oposição vence eleições municipais na Turquia

 

Com a contagem dos votos quase terminada nas eleições municipais da Turquia, o principal partido da oposição, o CHP, surgia à frente com um ponto de diferença face ao AKP de Erdogan, o que acontece pela primeira vez nos últimos 35 anos.

As sondagens previam um empate técnico em Istambul, governada pelo CHP, além de perdas para este partido noutras cidades importantes. Mas os resultados ditaram o contrário. Além de conservar Istambul e Ankara com vantagem maior que a obtida em 2019, quando concorreu em aliança com outros partidos, o CHP conquistou cidades importantes como Bursa e Balikesir.

"Os eleitores escolheram mudar o rosto da Turquia", afirmou Ozgur Ozel, o líder do CHP, concluindo que os turcos querem "abrir a porta a um novo clima político no nosso país".

“Infelizmente não obtivemos os resultados que queríamos”, assumiu Recep Tayyip Erdogan, prometendo "respeitar a decisão da nação". No discurso aos apoiantes em Ancara, face ao pior resultado desde que chegou ao poder, Erdogan assumiu a "viragem" que os resultados traduzem no mapa político local. "Se errámos, iremos emendar", prometeu o presidente turco que em campanha tinha dito que era a última eleição em que participava.

 

DEM vence nas regiões curdas, apesar da repressão e tentativas de fraude eleitoral

Nas regiões do leste, de maioria curda, o partido DEM conseguiu resistir à vaga repressiva do regime de Erdogan e também às tentativas de fraude eleitoral, como o deslocamento de dezenas de milhares de militares e polícias para mais de 30 círculos eleitorais que tinham sido ganhos por margens mais curtas pela esquerda curda. Em muitas das cidades onde venceram em 2019, os autarcas acabaram por ser alvo da vaga repressova do regime e substituídos por figuras nomeadas pelo governo de Erdogan. Mas este domingo o DEM - que substituiu o HDP devido à ameaça de ilegalização deste partido - voltou a vencer um pouco por toda a região. Na noite eleitoral, a sua co-presidente, Tülay Hatimoğulları, celebrou a vitória mas alertou os militantes que ainda decorriam tentativas para reverter os resultados nalgumas cidades, com detenções de dirigentes e delegados do DEM.

"A vontade do Curdistão deve ser ouvida em Ancara e no Palácio", afirmou Hatimoğulları, considerando o resultado uma vitória da paz sobre a "aliança de guerra". "O povo curdo não quer guerra, o povo curdo quer ver os seus direitos reconhecidos, quer a paz", prosseguiu, esperando que deste resultado saia a força para uma solução dialogada.