Peronismo e oposição oficializam pré-candidaturas à Presidência da Argentina

Por VICTOR FARINELLI

Pelo lado governista, disputa será entre ministro da Economia, Sergio Massa, e o ativista Juan Grabois; direita escolherá entre prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, e ex-ministra de Macri, Patricia Bullrich

A Argentina conheceu, neste sábado (24/06), as 13 pré-candidaturas que disputarão as Prévias Abertas Simultâneas e Obrigatórias (PASO), processo que escolherá os candidatos que concorrerão nas eleições presidenciais do país.

As PASO, como são chamadas essas eleições prévias, estão programadas para o dia 13 de agosto, e terão como principais atrações as disputas dentro dos dois principais conglomerados: a coalizão governista União pela Pátria (peronismo, de centro-esquerda) e a opositora Juntos pela Mudança (direita, ligada ao ex-presidente Mauricio Macri).

Confira abaixo os nomes que tentarão superar essa etapa, para chegar ao primeiro turno, marcado para dia 22 de outubro (se for necessário um segundo turno, ele acontecerá em 19 de novembro).

Peronismo

As pré-candidaturas governistas estão divididas entre um grupo mais moderado, liderado pelo ministro da Economia, Sergio Massa, e o setor mais progressista, que será encabeçado pelo ativista Juan Grabois.

Massa é um ex-dissidente do peronismo que agora tenta liderar o setor moderado e centrista do Partido Justicialista (legenda tradicional fundada pelo próprio Juan Domingo Perón), e que também é mais próximo ao presidente Alberto Fernández.

Advogado de 51 anos, ele despontou na política como chefe de gabinete da então presidente Cristina Kirchner, entre 2008 e 2009, e depois como prefeito da cidade de Tigre, no Norte da Província de Buenos Aires, entre 2009 e 2013.

Em 2015, criou seu próprio partido, a Frente Renovadora, e foi candidato presidencial apresentando-se como “terceira via” entre o kirchnerista Daniel Scioli e o neoliberal Mauricio Macri (que acabou sendo eleito naquele então), mas ficou em terceiro lugar no pleito.

Se reconciliou com o peronismo quatro anos depois, apoiando a chapa de Alberto e Cristina, que venceu as eleições, enquanto ele encabeçou a lista de candidatos a deputado, o que lhe valeu a maior votação na disputa legislativa e, posteriormente, o cargo de presidente da Câmara, que exerceu até julho de 2022, quando assumiu o Ministério da Economia.

Seu adversário será o também advogado e ativista social Juan Grabois, fundador e líder da União dos Trabalhadores da Economia Popular (UTEP).

Aos 40 anos, Grabois jamais disputou um cargo de eleição popular, embora seja uma das mais relevantes figuras políticas da Argentina há vários anos, especialmente por sua atuação em ações sociais e em defesa de sindicatos e grupos excluídos.

Seu ativismo o levou a ser uma figura muito próxima ao então cardeal arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio, que depois se tornaria o papa Francisco.

A amizade com o pontífice o transformou em enviado deste em algumas ocasiões: por exemplo, foi ele quem levou um rosário abençoado pelo papa a Luiz Inácio Lula da Silva em 2018, quando o atual presidente brasileiro estava na prisão em Curitiba.

Direita

A principal coalizão opositora da Argentina também estará dividida entre um setor mais moderado e outro mais distante do centro.

No caso, a candidatura que tenta passar uma imagem menos conservadora é a do prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, um economista de 57 anos que, no passado, foi um dos principais assessores do ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), mas que tem buscado se distanciar deste nos últimos anos para se levantar como principal líder da direita na Argentina.

Larreta tem a seu favor seus oito anos de governo na capital, com níveis de aprovação acima dos 50%, apesar de algumas polêmicas envolvendo a privatização de serviços públicos.

Justamente, o que diferencia o discurso do prefeito portenho de outros candidatos da direita nessa eleição é uma postura menos agressiva somente na questão de direitos civis, ou seja, sem posições homofóbicas ou contrárias ao feminismo, por exemplo. Em termos econômicos, ele defende uma agenda ultraliberal.

No entanto, Larreta terá como possível ponto fraco o seu vice: Gerardo Morales, governador da província de Jujuy e alvo da polêmica que surgiu esta semana pelas medidas de repressão contra movimentos sociais dessa região, o que gerou uma onda de solidariedade em toda a Argentina, com massivas marchas de apoio às vítimas em várias cidades.

A adversária de Larreta na disputa interna será alguém também marcada pela violência.

Patricia Bullrich é presidente do partido macrista Proposta Republicana (PRO), fundado pelo próprio Macri. A imprensa argentina a considera como figura importante dentro do círculo de confiança do ex-mandatário – do qual Larreta também fazia parte até 2019, mas não mais.

Cientista política de 67 anos, Bullrich foi ministra de Segurança Pública durante os quatro anos da gestão macrista, período em que se destacou como defensora de um discurso de fortalecimento das atribuições policiais e militares, e de negação de crimes cometidos pela última ditadura argentina (1976-1083) – o que causou forte polêmica, já que ela mesma foi presa e torturada pelo regime, já que foi militante peronista durante a juventude.

O governo de Macri não foi a única experiência ministerial de Bullrich. Entre outubro e novembro de 2001, durante o governo de Fernando de la Rúa e em meio à grave crise econômica que levaria à renúncia do então presidente, ela chegou a liderar brevemente dois ministérios: o do Trabalho e o da Seguridade Social.

Outras candidaturas

Mas a Argentina não terá apenas as candidaturas das coalizões peronista e macrista presentes nas PASO. Outras nove fotos estarão na cédula do dia 13 de agosto.

O governador da província de Córdoba, Juan Schiaretti, será candidato pela coalizão nacionalista Fazemos por Nosso País, de centro-direita – embora mais de direita que de centro, mesmo tendo como vice o ex-kirchnerista Florencio Randazzo (hoje desafeto de Cristina).

O partido de extrema direita Liberdade Avança formalizou, sem surpresas, a candidatura do economista e influencer Javier Milei, considerado o Bolsonaro argentino.

A Frente de Esquerda terá duas pré-candidaturas, a da socióloga Myriam Bregman e a do ativista Gabriel Solano.

Outra coalizão de esquerda, Novo Mais, lançou a líder feminista Manuela Castañeira. Já o partido Política Operária será representado por Marcelo Ramal.

O partido regionalista Livres do Sul terá como candidato Jesús Escobar. A Frente Patriota Federal será encabeçada por Cesar Biondini. Finalmente, a Frente Princípios e Valores será representada por Guillermo Moreno.

Com informações de Télam.