O parlamento de Israel (Knesset) aprovou nesta quarta-feira (23) uma nova moção não-vinculativa para reivindicar do governo a anexação ilegal da Cisjordânia ocupada, assim como o Vale do Jordão.
A proposta foi apoiada por 71 dos 120 deputados, frente a apenas 13 votos contrários, reportou o jornal Yedioth Ahronoth. A reportagem confirmou que a moção não é legal ou politicamente vinculativa, mas sim “declaração do Knesset”.
Os partidos Kahol Lavan — ou aliança Azul e Branco, do ex-chefe militar Benny Gantz — e Yesh Atid — centrista-liberal, do ex-premiê Yair Lapid — se abstiveram.
O texto insiste que a Cisjordânia ocupada é “parte integral da pátria histórica, cultural e espiritual do povo judeu [sic]” e que cidades palestinas, como Hebron e Nablus, ao lado de assentamentos ilegais, como Shiloh e Beit El, expressam a “continuidade histórica da presença judaica na Terra de Israel [sic]”.
Para a moção, as ações transfronteiriças de 7 de outubro de 2023 demonstraram que o estabelecimento de um Estado palestino — conforme a lei internacional — “incorreria em uma ameaça existencial a Israel e prejudicaria a estabilidade regional [sic]”.
De acordo com a peça, anexar a Cisjordânia “fortalecerá o Estado de Israel, assim como sua segurança, e impedirá quaisquer questionamentos do direito fundamental do povo judeu [sic] a paz e segurança em suas terras [sic]”.
O Knesset ressaltou ainda que a ideia de discutir um Estado da Palestina — mesmo em fronteiras reduzidas e bantustões — “foi removida da agenda”.
Ao governo do foragido internacional Benjamin Netanyahu, o Knesset instou “estender imediatamente a soberania israelense [sic] — a lei, a justiça, a administração — a todas as áreas de assentamento judaico”.
A proposta foi apresentada ao plenário pelos legisladores Simcha Rothman, do partido fundamentalista Sionismo Religioso, Dan Illouz, do governista Likud, e Oded Forer, do suposto opositor Yisrael Beytenu.
Após a votação, alegou o presidente do Knesset Amir Ohana: “Essa terra é nossa. Essa é nossa casa [sic]. A Terra de Israel pertence ao povo de Israel [sic]. Em 1967, a ocupação não começou; ela terminou e nossa terra voltou a seus donos [sic]. Judeus não podem ser ‘ocupantes’ de uma terra chamada de Judeia [sic]”.
A sessão de quarta-feira antecede o fim do ano legislativo de Israel, com um recesso de quase três meses, ao passo que a coalizão de Netanyahu luta para não implodir.
A legislação, somada ao portfólio supremacista de apartheid do Estado de Israel, ignora a presença contínua e milenar do povo palestino na Palestina histórica, na tentativa de apagamento colonial.
Israel ocupou a Cisjordânia, assim como Gaza e Jerusalém Oriental, durante a chamada Guerra dos Seis Dias em 1967, em avanço jamais reconhecido internacionalmente. A lei internacional entende como ilegal a conquista de terras por via armada.
No contexto do genocídio israelense na Faixa de Gaza, desde outubro de 2023, colonos e soldados intensificaram violações, incluindo pogroms, aos palestinos da Cisjordânia e Jerusalém, com quase mil mortos e sete mil feridos.
Outros dez mil seguem detidos arbitrariamente, sob abuso, tortura, negligência médica e mesmo violência sexual, muitos dos quais sem sequer acusação ou julgamento — isto é, reféns por definição. Os índices excluem, porém, os sequestrados em Gaza.
A resolução do Knesset desrespeita ainda uma determinação consultiva, convertida em resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas, do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), em Haia, deferida em julho de 2024.
Conforme a corte, é urgente a evacuação de colonos e soldados da Cisjordânia, além de reparações aos nativos. A resolução da ONU, com maioria absoluta dos votos, deferida em setembro, prevê um ano para ser implementada..