Por: Brett Wilkins.
Publicado em Viento Sur, em 20 de fevereiro de 2024.*
Tradução: André Freire
Imagem reprodução Fepal
Os oficiais das Forças de Defesa de Israel (FDI) tem permitido a entrada de civis israelenses nos centros de detenções e permitem que eles observem e filmem os presos palestinos quando são torturados, segundo testemunho de sobreviventes, publicados esta semana pelo Observatório Euromediterrâneo dos Direitos Humanos, com sede em Genebra.
Os presos detidos nos centros de detenção de Zikim, na fronteira norte da Faixa de Gaza, e em um lugar do sul de Israel próximo a prisão de Naqab (Negev) “disseram a Euro-Med Monitor que os soldados israelenses os havia exibido deliberadamente na frente de civis israelenses, afirmando falsamente que eram combatentes ligados a facções armadas palestinas e que haviam participado no ataque de 7 de outubro contra os localidades israelitas”, segundo os testemunhos.
Os ex-presos declararam que trouxeram grupos de 10 a 20 civis israelense e os permitiram gravar sessões de tortura em que os homens, quase despidos, foram golpeados com porretes de metal, eletrocutados e lhes jogaram água quente nas suas cabeças. Os ex-presos disseram que alguns israelenses riam enquanto filmavam a tortura.
“Fui preso no posto de controle estabelecido próximo a rotunda de Kuwait, que separa a cidade de Gaza da região central, como parte das campanhas de prisões aleatórias de Israel. Fui submetido a todo tipo de torturas e abusos durante 52 dias”, declarou Omar Abu Mudallala, de 43 anos, a Euro-Med Monitor, e acrescentou que seus captores das FDI “trouxeram civis israelenses para que eles presenciassem nossas torturas”.
Abu Mudallala acrescenta:
“O exército israelense levou vários civis israelenses aos centros que estávamos detidos enquanto lutamos e disseram: “Estes são terroristas do Hamas que os mataram e violaram suas mulheres no 7 de outubro”, enquanto os civis israelenses nos filmavam quando estávamos sendo golpeados, maltratados e torturados, enquanto se divertiam de nossa situação. Isto aconteceu cinco vezes durante minha detenção. A primeira vez foi em Barkasat Zikim, onde nos vendaram os olhos. Sem dúvida, um dos detentos que fala hebreu nos disse que os soldados interagiam com os civis israelenses fingindo que éramos combatentes armados. Os outros quatros incidentes aconteceram no centro de detenção de Negev, onde sucessivos grupos de israelenses foram levados ao interior de tendas de campanha para presenciar nossos maus tratos e registrar os métodos de tortura a que fomos submetidos, sem nos permitir falar ou interagir com eles. Como neste momento não nos levaram de olhos vendados, os vi quatros vezes com meus próprios olhos”.
Abu Mudallala completa:
“Um dos detentos que fala hebreu tentou explicar aos civis israelenses que éramos civis e que não tínhamos nada que ver com atividades militares, porém isso não adiantou. Sem dúvida, fui submetido a graves torturas físicas e psicológicas. Foi verdadeiramente indignante que cidadãos israelenses viessem presenciar torturas com o pretexto de que supostamente estávamos envolvidos em assassinatos e violações”.
Outro ex-preso, identificado apenas como DH, de 42 anos, declarou a Euro-Med Monitor que:
“se convidou civis israelenses para presenciar os abusos e torturas que sofremos, que o exército iniciou deliberadamente quantos estavam presentes. Estes israelenses às vezes traziam seus cães para latir para nós. Também tiraram fotos e as publicaram em redes sociais, especialmente TikTok. Os soldados fizeram o mesmo.”
Euro-Med Monitor afirma que:
“a grande maioria das pessoas detidas na Faixa de Gaza têm sido submetidas a detenções arbitrárias sem que tenham sido acusadas e nem levadas perante a justiça, sem que se tenha empreendido nenhuma ação legal contra elas. Não têm direito a um julgamento justo e são submetidas a desaparecimentos forçados, torturas e tratamentos desumanos. As práticas israelenses contra os presos palestinos constituem violações flagrantes dos convênios e normas internacionais, em particular o Quarto Convênio de Genebra de 1949, que proíbe que uma autoridade ocupante transfira prisioneiros do território ocupado a centros de detenção localizados em seu território, assim como torturar, agredir ou degradar de todo o modo a dignidade humana das pessoas detidas”.
As forças israelenses, que têm um longo histórico de torturar prisioneiros palestinos, têm sido acusadas na atual guerra contra Gaza de torturar pessoas civis detidas antes de executá-las *. As fotografias e os vídeos dos soldados israelenses maltratando palestino, tanto vivos como mortos, tem sido publicadas pelos autores destes atos nas redes sociais. Os defensores dos direitos humanos consideram que estas imagens e o orgulho que inspiram são evidências do genocídio israelense em uma guerra em que mais de 100.000 palestinos e palestinas tem sido assassinados, multilados e desaparecidos.
No mês passado, a Corte Internacional de Justiça determinou, em uma decisão preliminar, que Israel “provavelmente” estivesse cometendo um genocídio em Gaza, ao mesmo tempo que ordenou às forças israelenses que “tomassem todas as medidas” para evitar o uso de atos genocidas.
Notas:
* Clothilde Mraffko, no Le Monde de 17 de fevereiro, escreve: “ O hospital Nasser de Khan Younés foi atingido por fogo de artilharia no início desta manhã, enquanto o exército israelenses havia anunciado ao pessoal médico e aos pacientes que podiam permanecer no hospital”, foi informado para a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) sobre X. O jornalista continua: “ A mensagem “Fora animais” se transmitiu pela primeira vez em árabe com um megafone. O jornalista Mohammed Al-Helou dice que os soldados enviaram um jovem palestino que acabavam de soltar para transmitir sua ordem a umas 10 mil pessoas deslocadas, assim como a centenas de pacientes e cuidados presentes no hospital. Um vídeo mostra este jovem, com um traje de proteção branco, com as mãos atadas e olhos vendados, conversando com as e os deslocados. Quando regressou com os soldados, com lhe haviam ordenado, “o executaram a sangue frio, com três balas, dentro do recinto”, explica Mohammed Al-Heloi no Instagram (Red.).
Publicação anterior: A l’Encontre, 14/2/2024. Artículo original en Common Dreams, 13/2/2024.