Reacionário vence a presidência da Polônia

Por Bruno Alves




No centro de Varsóvia uma pedra com letras em bronze indica a distância das principais capitais. Indicando a mesma distância de 1122 km tanto para Bruxelas quanto para Moscou. Por este motivo os poloneses não gostam de ser chamados de leste europeu, pois estariam geograficamente no centro da Europa. Entretanto, Varsóvia ficou mais distante de Bruxelas, capital da União Europeia, por uma margem de 0,89%, como resultado das eleições de 1 de junho de 2025. Karol Nawrocki venceu com 50,89% dos votos (10.606.877) na eleição presidencial no segundo turno. Vencendo Rafał Trzaskowski, que obteve 49,11% dos votos (10.237.286).

O Partido de Nawrocki é o Prawo i Sprawiedliwość - PiS (Lei e Justiça), um partido reacionário, nacional chauvinista. Como historiador foi presidente do Instituto Nacional de Memória. Mas no segundo turno vieram a tona outras histórias, com denúncias contra Nawrocki por envolvimento em brigas de hooligan, torcidas organizadas. Mas ao contrário de surtir um efeito negativo, seus apoiadores passaram a ir aos comícios carregando luvas de boxe, como ele próprio gravou vídeos com tais luvas. Surgiram diversas outras denúncias sobre seu comportamento, mas tudo isto reforçou a imagem de “valentão”.

Nawrocki tem como pautas principais temas como aborto e campanhas homofóbicas. Na Polônia existem muitas restrições contra o aborto, mas também métodos contraceptivos em geral. A pressão católica é muito forte. Sendo proibido fazer qualquer forma de laqueadura, bem como existem fortes restrições contra a venda de anticoncepcionais. Nawrocki faz campanha contra pessoas LGBT, alegando que um livro da temática “Gender Queer” seria uma perversão que sexualiza as crianças. Tendo jogado uma revista em quadrinhos no triturador.

Trump se envolveu diretamente, enviado assessores aos comícios de campanha. Viktor Orban da Hungria também se pronunciou. Nawrocki é uma candidatura abertamente a favor do imperialismo dos EUA, contrário ao imperialismo da União Europeia. Na Polônia a disputa ocorre entre dois setores imperialistas principais. De modo adjacente não se pode esquecer a ameaça do imperialismo russo, que tem fronteira com a Polônia e já invadiu o país por diversas vezes na história.

O candidato derrotado foi Rafał Trzaskowski, do Platforma Obywatelska (Plataforma Cívica), é o prefeito de Varsóvia. Do mesmo partido do Primeiro-Ministro Donald Tusk, que é um partido liberal, pró-União Europeia. O governo de Tusk está convivendo com um presidente do PiS, Andrea Duda. Havia uma expectativa de que com a eleição unificando no mesmo partido presidente e primeiro ministro fosse sanada uma contradição. Jogando o PiS definitivamente para o passado. Entretanto, o resultado da eleição revitaliza o PiS. Demonstrando que o governo Tusk não conseguiu superar a forte divisão existente na Polônia. Bem como é uma alerta para a ameaça da extrema-direita.

No campo da Esquerda: Neutralidade e suas consequências.

No campo da esquerda, em 2024, houve um racha no partido “Esquerda” (Lewica) saindo o grupo Razem (Juntos). A Esquerda compõe o governo de Donald Tusk, até mesmo com ministérios. O Juntos mantinha uma posição de independência frente ao governo. Mas até então estava no mesmo bloco parlamentar da Esquerda. Mas o Juntos terminou rachando com a Esquerda, pois entendeu que o nível de integração com o governo estava demasiado. Sendo um racha pela esquerda. Em 2023 o bloco Lewica e Razem (Esquerda e Juntos) obteve 8,6% dos votos na eleição parlamentar. No primeiro turno de 2025, separadamente, o candidato do Juntos, Adrian Zandberg, obteve 4,86% dos votos e a candidata da Esquerda Magdalena Biejat obteve 4,23%. No segundo turno Biejat declarou que ela só tem um voto e este voto é pela vitória de Rafał Trzaskowski.

Entretanto, o Juntos adotou uma postura de não fazer campanha por Rafał Trzaskowski. Adotando a neutralidade no segundo turno. Evidentemente que em uma eleição que foi decidida por menos que 1% dos votos, a postura de um candidato que teve quase 5% dos votos terá impacto. Os atos surtem efeitos na realidade. Adrian Zandberg obteve 952 832 no primeiro turno. Uma pesquisa indicou que dentre os seus eleitores 16,2% votaram em Nawrocki. O que parece pouco, mas isto representa cerca de 154 mil votos. Entretanto, Nawrocki obteve a maioria com apenas 184.796 votos a mais que os 50%. Ademais, sendo o voto facultativo, ter os candidatos do primeiro turno conclamando os seus eleitores a votarem no segundo turno pode mudar o panorama da eleição. Portanto, pode-se afirmar taxativamente que a postura do Juntos (Razem), de Zandberg, foi decisiva para a vitória da extrema direita na Polônia.