Territórios indígenas demarcados podem evitar ao menos 15 milhões de casos de infecções respiratórias e cardiovasculares por ano, aponta estudo*

Estudo aponta que territórios indígenas conservados são eficientes em filtrar poluição por queimadas, devido a absorção de partículas nocivas pelas folhas das árvores.

*Com informações do DW Brasil.

Foto: Reprodução Brasil de Fato

Além de serem cruciais para a preservação da Amazônia, as terras indígenas demarcadas podem ajudar a evitar 15 milhões de casos de infecções respiratórias e cardiovasculares por ano, o que levaria a uma economia de R$ 10 bilhões nos cofres públicos. E o que mostra estudo publicado na revista Communications, Earth & Environment no dia 06/04 deste ano.

Os territórios indígenas cumprem um papel vital para filtrar o resquício da fumaça preta liberada pelas queimadas, principal fonte de poluição na Amazônia. Essa fumaça entra nos pulmões, pode passar para o sistema sanguíneo e provocar doenças respiratórias, cardíacas, acidente vascular cerebral, enfisema, câncer de pulmão, bronquite, asma, dor no peito, problemas cardíacos, além de aumentar o risco de morte.

Para Dinaman Tuxá, coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), a ciência comprova o conhecimento tradicional dessas populações. "Os estudos têm demonstrado que nossas contribuições são benéficas para toda a humanidade; mostra a importância das terras indígenas para conter inúmeras enfermidades globais, como as mudanças climáticas e o efeito na saúde gerado pelas queimadas", afirmou ele à DW.

Fogo na Amazônia corrói a saúde

Durante o período considerado no estudo (entre 2010 e 2019), 1,68 tonelada de material particulado de pequeno porte (MP2,5) foi lançado na atmosfera devido ao fogo na floresta. Na mesma época, foram registrados nos 772 municípios que compõem a Amazônia Legal 1,4 milhão de casos de doenças respiratórias e cardiovasculares relacionadas aos incêndios florestais – o que equivale a uma média de 143 mil casos por ano.

A região com maior incidência média de infecções foi a do chamado arco do desmatamento, de acordo com autores da pesquisa. A cada ano, a área queimada acompanha a tendência da taxa de desmatamento, já que o fogo é o método usado para destruir o que sobrou da mata – e a principal via de transferência de carbono contido na vegetação para a atmosfera.

Apesar de surpreenderem, os números encontrados no estudo ainda podem estar subestimados, pois a fumaça tóxica liberada pelas queimadas pode viajar por muitos quilômetros, e a análise só considerou o efeito dela no município onde o fogo foi detectado pelos satélites.

De acordo com dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DataSUS), divulgados pelo Ministério da Saúde, doenças do aparelho respiratório e circulatório estão entre as principais causas de internação hospitalar no Brasil. Idosos, crianças, mulheres grávidas e pacientes com doenças cardiorrespiratórias ou doenças crônicas prévias são mais expostos ao risco.

Um levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que a poluição do ar é a causa da morte de mais de 50 mil pessoas por ano no Brasil. Segundo estudo do Ministério da Saúde brasileiro, em 2016, mais de 44 mil mortes foram causadas por doenças crônicas atribuídas à poluição.

Árvores filtram poluição

A barreira de proteção que as terras indígenas na Amazônia exercem deve-se à atuação das folhas das árvores como um biofiltro que remove a poluição, principalmente pela absorção das partículas nocivas pelos estômatos e, com isso, melhora a qualidade do ar.

O estudo mostrou que os territórios indígenas têm uma capacidade de absorção de poluentes maior que sua área correspondente. Embora cubram quase 22% de toda a Amazônia, eles podem filtrar até 27% dos poluentes lançados no ar pelas queimadas.

Os pesquisadores estimam que, ao todo, a Floresta Amazônica poderia absorver uma média de 26 mil toneladas de MP2,5, sendo que 7.192 toneladas são "filtradas" em terras indígenas. Em destaque nessa função aparecem as TIs Vale do Javari, Yanomami, Alto Rio Negro, Mekragnoti e Trombetas.

A pesquisa mostrou também que um número menor de infecções foi encontrado em municípios com áreas mais florestadas e com baixo nível de fragmentação, o que provavelmente está relacionado à capacidade potencial da Floresta Amazônica em absorver MP2,5.

Uma das sugestões do estudo é que o dinheiro que o Estado economiza em internações ao manter a Floresta Amazônica seja usado para promover ações de conservação e garantir os direitos dos povos indígenas.