Frente Ampla lidera a corrida presidencial contra o atual governo, alinhado às oligarquias e direita da região. Num país em que a diplomacia é vista como expressão da identidade e valores nacionais, é possível isso tenha contribuído para o seu desgaste.
Desde que pisei em Montevidéu, capital uruguaia reconhecida por sua alta qualidade de vida e segurança, mas também pelo elevado custo de vida, fui imediatamente cativado pela intensa participação política e pela presença marcante dos sindicatos espalhados pela cidade. Esse engajamento se torna ainda mais notável à medida que o país se aproxima de eleições presidenciais e legislativas que prometem ser cruciais para o futuro político do país.
A eleição presidencial, marcada para 27 de outubro de 2024, terá como principais candidatos Álvaro Delgado, Yamandú Orsi e Andrés Ojeda, representantes dos três maiores partidos do país, que têm uma longa e significativa história na política uruguaia.
Álvaro Delgado, candidato do Partido Nacional ou Partido Blanco, representa a continuidade da atual administração, já que seu partido é o mesmo do atual presidente, Luis Lacalle Pou, que governa o país desde 2020. Delgado, com 55 anos, é um veterano da política uruguaia, tendo servido como secretário da presidência no governo de Lacalle Pou e como senador entre 2015 e 2020. Sua candidatura reflete a força de uma direita que tem consolidado seu espaço nos últimos anos, especialmente após o desgaste da Frente Ampla, que governou o país por 15 anos consecutivos antes do atual governo.
Por outro lado, Yamandú Orsi, da Frente Ampla, é o principal nome da oposição. Orsi, de 57 anos, traz a experiência de dois mandatos como prefeito de Canelones, uma das regiões mais populosas do país. A Frente Ampla, historicamente associada a políticas progressistas e de inclusão social, tem raízes profundas no cenário político uruguaio, com figuras icônicas como os ex-presidentes Pepe Mujica e Tabaré Vázquez. A popularidade de Orsi, refletida nas pesquisas, mostra que a esquerda ainda mantém um apoio significativo no país.
Andrés Ojeda, o candidato do Partido Colorado, completa a tríade dos principais concorrentes. Aos 40 anos, Ojeda traz uma nova geração para a política uruguaia. Seu partido, historicamente um dos pilares da política uruguaia, teve um papel central na história do país, governando por longos períodos no século XX. Nos últimos anos, o Partido Colorado tem buscado redefinir sua identidade e recuperar o terreno perdido para seus rivais, especialmente após se tornar parte da coalizão governista de Lacalle Pou.
Com a Frente Ampla liderando as pesquisas com 47% das intenções de voto, segundo um levantamento do Instituto Cifra realizado em maio, e o Partido Nacional vindo em segundo com 32%, a eleição deste ano promete ser acirrada. Além da escolha do novo presidente, os eleitores uruguaios também elegerão 30 senadores e 99 deputados, o que poderá determinar a direção das políticas públicas nos próximos anos.
Essas eleições ocorrem em um momento crucial para o Uruguai, com debates que vão desde a economia até a segurança, passando por questões sociais e ambientais. O resultado será fundamental para definir o rumo do país na próxima década, especialmente em um contexto regional e global em constante mudança.
E a política externa?
A política externa tem desempenhado um papel crucial nos resultados políticos do Uruguai, refletindo as prioridades e valores do governo vigente. Um exemplo recente dessa influência pode ser observado na decisão do presidente Lacalle Pou de reconhecer a vitória de Edmundo González Urrutia nas eleições venezuelanas deste ano, desafiando o resultado oficial que proclamava Nicolás Maduro como vencedor. Essa postura alinhada com países como Argentina, Estados Unidos e Peru, que também reconheceram González Urrutia, destaca a importância das relações internacionais na definição da política doméstica uruguaia.
Lacalle Pou, conhecido por sua postura crítica em relação ao governo de Maduro, não hesitou em classificar o regime venezuelano como uma “ditadura” e em pressionar por uma transição democrática na Venezuela. Essa atitude reflete uma política externa que busca alinhar o Uruguai com democracias liberais que supostamente desejam promover a defesa dos direitos humanos no continente, influenciando, consequentemente, o cenário político interno e a percepção pública sobre a administração governamental.
Historicamente, a política externa uruguaia tem sido marcada por uma tradição de neutralidade e diplomacia ativa, especialmente durante os períodos de governos da Frente Ampla. Contudo, com a chegada de Lacalle Pou ao poder, houve uma mudança significativa em direção a uma política ideologicamente alinhada com governos de direita da região. Essa nova abordagem tem se refletido tanto nas relações bilaterais quanto na participação do Uruguai em organismos internacionais.
As eleições de 2024 ocorrem em um contexto onde a política externa é um tema central, tanto pelo impacto que pode ter na economia, através de acordos comerciais e cooperação internacional, quanto pela influência nas políticas internas, ao definir o posicionamento do país em relação a crises regionais como a da Venezuela. O resultado das eleições pode, portanto, não apenas moldar o futuro do Uruguai, mas também determinar seu papel e influência no cenário internacional.
A gênese da política externa uruguaia e o longo século XIX (1830-1914)
A política externa do Uruguai, desde sua gênese como Estado-nação, tem sido uma busca constante por equilíbrio e autonomia em um contexto geopolítico complexo e mutável. O país, situado estrategicamente na confluência do Rio da Prata, tem navegado por diferentes conjunturas históricas, adaptando-se a novas realidades e desafios. A trajetória da política externa uruguaia pode ser analisada através de diferentes períodos, cada um com suas nuances e peculiaridades, mas todos marcados pela busca por preservar a soberania e os interesses nacionais em um cenário internacional em constante transformação.
O “longo século XIX” uruguaio foi um período de formação e consolidação do Estado, marcado pela instabilidade política, conflitos regionais e a busca por autonomia em um contexto internacional desafiador. A herança colonial, a violência fundante do processo de independência e a formação dos partidos políticos moldaram a política externa do país desde seus primórdios.
A região do Rio da Prata, palco de uma intrincada dinâmica geopolítica, moldou a política externa do Uruguai desde sua gênese. A presença de potências como o Império Britânico e o Império do Brasil, com seus interesses estratégicos e econômicos na região, impôs desafios e condicionantes à jovem nação uruguaia. O país se viu envolvido em conflitos regionais e disputas territoriais, como a Guerra da Cisplatina (1825-1828), que definiu sua independência em relação ao Brasil, e a Guerra Grande (1839-1851), um conflito civil com profundas implicações internacionais, com a participação de Argentina, Brasil e até mesmo potências europeias.
Essa constante interferência estrangeira nos assuntos internos do Uruguai evidenciava sua fragilidade e a necessidade de buscar um delicado equilíbrio entre os interesses regionais e a preservação de sua autonomia nacional. O país se viu obrigado a navegar por um campo minado de alianças e rivalidades, buscando garantir sua sobrevivência e integridade territorial em um ambiente marcado pela instabilidade e pela disputa por poder. A formação dos partidos políticos, Blancos e Colorados, também refletiu essa dinâmica regional, com cada grupo buscando apoio externo para fortalecer sua posição interna e influenciar a condução da política externa.
O Uruguai emergiu como um Estado-nação em um contexto de grandes desafios, buscando afirmar sua soberania e construir sua identidade em meio a um jogo de forças complexo e desigual. A busca por equilíbrio e autonomia tornou-se uma marca registrada da política externa uruguaia, moldando suas ações e decisões ao longo de sua história.
O papel dos partidos políticos
Os partidos políticos uruguaios, os Blancos (1836) e Colorados (1836), emergiram como atores centrais na definição da política externa desde antes da consolidação do Uruguai como Estado. Segundo a análise histórica, os partidos existiam e desenvolviam políticas internacionais antes mesmo do Estado uruguaio formalizar sua política exterior. Com visões de mundo distintas e projetos de país divergentes, disputaram a condução da política externa, utilizando-a como um campo para fortalecer suas posições internas. Essa disputa não se limitava à política doméstica, mas também se estendia ao cenário internacional, onde ambos buscavam alianças e apoios externos, refletindo suas conexões históricas com movimentos sociais, câmaras empresariais, sindicatos, e suas respectivas tradições ideológicas.
A formação do Estado uruguaio foi profundamente influenciada por essas dinâmicas partidárias. A centralidade dos partidos na política externa resultou em uma “partidocracia”, onde as disputas ideológicas e partidárias moldavam as decisões internacionais. Embora a política externa tenha sido, em alguns momentos, um espaço para consensos suprapartidários ou acordos interpartidários, ela não estava imune às disputas ideológicas, e a existência de uma política de Estado consistente era frequentemente questionada.
Durante o “longo século XIX”, marcado por guerras civis regionais e a formação dos partidos políticos, os Blancos e Colorados desenvolveram suas políticas externas como verdadeiras extensões de suas agendas internas e regionais. Os Blancos, com uma tradição mais ibérica e protecionista, alinhavam-se aos federais na Argentina e aos farroupilhas no Brasil, enquanto os Colorados, com uma visão liberal e pró-europeia, especialmente conectada à França e à Grã-Bretanha, defendiam o livre comércio e a modernização. Esse período também foi marcado pela Guerra Grande, onde as alianças internacionais, como as dos Colorados com os unitários argentinos e os Blancos com os federais, evidenciam como os partidos se projetavam no exterior com objetivos precisos e estratégias bem definidas.
A política externa uruguaia, portanto, refletia não apenas as necessidades e pressões internas, mas também a posição geopolítica única do país, situado como um território fronteiriço entre o Brasil e as antigas possessões espanholas. Ao longo do século XIX, essa geopolítica levou o Uruguai a ser um campo de disputa entre potências regionais e europeias, moldando sua política externa e sua própria formação como Estado. A inter-relação entre partidos políticos e política externa no Uruguai é um exemplo claro de como as disputas internas podem transbordar para o cenário internacional, conferindo à política externa um caráter dinâmico e, por vezes, instável.
Durante esse período, o Uruguai também desenvolveu uma tradição de resistência às pressões externas, buscando preservar sua autonomia e seus interesses nacionais. Essa tradição se manifestou na recusa em aceitar tratados desiguais com potências estrangeiras, como o Tratado de Comércio com a Grã-Bretanha em 1835, e na defesa da neutralidade em conflitos regionais. O nacionalismo emergiu como uma força política importante, defendendo a soberania e a independência do Uruguai em relação às potências estrangeiras.
A era da inserção e o internacionalismo Batllista (1870-1930)
A partir de 1870, o Uruguai se inseriu no sistema internacional como um país agroexportador, dependente do mercado britânico e do capital estrangeiro. Essa nova realidade econômica impulsionou a modernização do país e a consolidação do Estado, mas também trouxe desafios e vulnerabilidades. O país se viu cada vez mais integrado à economia mundial, com crescente dependência do comércio exterior e do investimento estrangeiro.
No campo internacional, o batllismo adotou uma postura de inserção ativa e autônoma, refletindo a visão do presidente José Batlle y Ordóñez (1903-1907 e 1911-1915) de que o Uruguai deveria desempenhar um papel relevante nas questões globais, mesmo sendo um país pequeno. O internacionalismo batllista se manifestou na defesa do multilateralismo como princípio orientador das relações internacionais. O Uruguai foi um dos primeiros países a apoiar e participar ativamente da Liga das Nações (1919), a primeira organização internacional dedicada a manter a paz e promover a cooperação global após a Primeira Guerra Mundial. Além disso, Batlle y Ordóñez defendia a criação de uma organização regional hemisférica que pudesse fortalecer a posição dos países latino-americanos no cenário global, promovendo a solidariedade entre as nações do continente e resistindo à influência imperialista das grandes potências.
Sob a liderança batllista, o Uruguai se destacou como um ator relevante no cenário internacional, não apenas pela sua defesa da paz e da justiça, mas também por sua postura firme em prol dos direitos humanos e da democracia. Batlle y Ordóñez promoveu o Uruguai como um modelo de democracia progressista, onde o Estado assumia a responsabilidade de garantir o bem-estar de seus cidadãos e de atuar como um defensor da cooperação entre as nações. Esse compromisso com a paz e a justiça internacional fez com que o Uruguai ganhasse respeito e reconhecimento em fóruns internacionais, consolidando sua imagem como um país comprometido com os valores universais e a construção de uma ordem mundial mais justa e equilibrada.
A proposta de arbitragem obrigatória e ilimitada apresentada por José Batlle y Ordóñez na Conferência de Haia em 1907 foi um marco na política externa uruguaia, refletindo a visão idealista e progressista que caracterizava o batllismo. Batlle y Ordóñez sugeriu que todas as nações, independentemente de seu poder ou influência, fossem obrigadas a resolver suas disputas internacionais por meio da arbitragem, evitando, assim, o recurso à guerra. Embora a proposta não tenha sido implementada, ela destacou a postura ativa do Uruguai em promover a paz e a justiça internacional, baseando-se na crença de que a razão pública e o progresso poderiam superar a violência e os conflitos.
Essa abordagem proativa e idealista da política externa uruguaia também estava enraizada na convicção de Batlle y Ordóñez na superioridade moral dos países americanos em relação às nações europeias, que, na sua visão, estavam mais propensas a conflitos bélicos e interesses imperialistas. O Uruguai, sob sua liderança, buscou se posicionar como um mediador internacional e um defensor da cooperação pacífica entre as nações, promovendo soluções que priorizassem o diálogo e a arbitragem como meios de resolução de conflitos, podemos dizer que a ideia é predecessora da Organização das Nações Unidas (ONU) criada em 1945. Essa postura fez com que o país ganhasse reconhecimento internacional como um exemplo de nação que, mesmo pequena, tinha um compromisso inabalável com a paz e a justiça no cenário global.
O batllismo também se destacou pela sua defesa do pan-americanismo e pela busca por uma organização multilateral a escala regional, capaz de contrabalançar a política de poder das grandes potências. Essa política se chocou com a orientação bilateralista dos Estados Unidos e com suas intervenções na América Latina. O Uruguai buscou construir um espaço de cooperação e integração regional, baseado nos princípios da não intervenção e da autodeterminação dos povos.
A transição e a ditadura cívico-militar: um período de alinhamento e isolamento (1930-1985)
A crise econômica mundial de 1929 e a ascensão de regimes totalitários na Europa marcaram um período de transição e desafios para a política externa uruguaia. O país se viu dividido entre o apoio aos Aliados e a defesa da neutralidade na Segunda Guerra Mundial, refletindo as diferentes correntes ideológicas que disputavam a condução da política externa.
A crise e a Grande Depressão que se seguiu tiveram um impacto profundo na economia uruguaia, levando o país a buscar novos parceiros comerciais e a diversificar suas relações exteriores. O Uruguai se aproximou de países como a Alemanha e a Itália, buscando ampliar seus mercados e reduzir sua dependência do comércio com a Grã-Bretanha. Essa diversificação, no entanto, foi interrompida com a guerra e a ascensão dos regimes nazi-fascistas.
A turbulência do período colocou o Uruguai diante do dilema entre manter a neutralidade ou se alinhar com os Aliados. O governo optou por uma política de neutralidade inicial, mas acabou se aproximando dos Estados Unidos e rompendo relações com as potências do Eixo em 1942. Posteriormente, essa decisão gerou um intenso debate interno, com a oposição de setores nacionalistas e de esquerda, que defendiam a neutralidade e a autonomia do país em relação aos blocos da Guerra Fria.
Já a ditadura cívico-militar (1973-1985) representou um período de ruptura com a tradição democrática e de alinhamento com os Estados Unidos e os regimes autoritários do Cone Sul. A política externa se caracterizou pelo isolamento internacional, pela repressão aos opositores e pela violação dos direitos humanos. O Uruguai se afastou dos organismos multilaterais e se isolou da comunidade internacional, sofrendo sanções e condenações por suas práticas autoritárias.
A redemocratização e a busca por um novo papel regional (1985-2019)
Com a redemocratização em 1985, o Uruguai buscou se reinserir no cenário internacional e reconstruir sua imagem como um país democrático e defensor dos direitos humanos. A política externa se concentrou na promoção da democracia, na defesa dos direitos humanos, na integração regional e na diversificação das relações comerciais. O país se tornou um ator ativo nos organismos multilaterais, como a ONU e a OEA, e buscou fortalecer seus laços com seus vizinhos sul-americanos.
A criação do Mercosul em 1991 representou um marco importante na política externa uruguaia, consolidando a inserção regional do país e abrindo novas oportunidades de comércio e investimento. O país se tornou um defensor ativo da integração regional, buscando aprofundar os laços econômicos e políticos com seus vizinhos e promover a cooperação em áreas como infraestrutura, energia e educação.
O Uruguai também buscou diversificar suas relações comerciais, reduzindo sua dependência do mercado brasileiro e buscando novos parceiros na Ásia, África e Europa. O país negociou acordos comerciais com diversos países e blocos econômicos, buscando ampliar suas exportações e atrair investimentos estrangeiros.
A política externa uruguaia também se destacou pela defesa da democracia e dos direitos humanos em todo o mundo. O Uruguai tem sido uma voz ativa na promoção desses valores, tanto em fóruns multilaterais como nas relações bilaterais. O país tem condenado violações de direitos humanos e apoiado iniciativas para fortalecer a democracia em diferentes regiões do mundo. Essa postura reflete o compromisso histórico do Uruguai com a liberdade e a justiça, e contribui para sua imagem positiva na comunidade internacional.
Os governos Vázquez e Mujica
No início dos anos 2000, o Uruguai experimentou uma mudança política significativa com a eleição de Tabaré Vázquez, do partido de esquerda Frente Ampla, em 2004. Essa vitória marcou o fim de décadas de domínio dos partidos tradicionais de centro-direita, o Partido Blanco e o Partido Colorado, e inaugurou um período de governos progressistas que duraria 15 anos.
A eleição de Vázquez coincidiu com a chamada “onda rosa” na América Latina, um período em que vários países da região elegeram líderes de esquerda que prometiam combater a desigualdade e promover a justiça social. Durante seus dois mandatos, Vázquez implementou uma série de políticas sociais progressistas, incluindo a expansão do acesso à saúde e à educação e o aumento do salário mínimo.
Em 2009, Vázquez foi sucedido por José “Pepe” Mujica, outro membro da Frente Ampla, que se destacou por seu estilo de vida austero e por sua defesa da agricultura sustentável, da legalização da maconha e do aborto durante seu mandato. Mujica deu continuidade a muitas das políticas sociais de Vázquez, enquanto promovia uma agenda ambientalista e buscava fortalecer os laços do Uruguai com outros países da região.
Os governos de Vázquez e Mujica foram amplamente elogiados por suas políticas sociais progressistas e seu compromisso com a democracia e os direitos humanos. No entanto, eles também enfrentaram críticas de alguns setores da sociedade, que argumentavam que suas políticas eram economicamente insustentáveis e prejudicavam o crescimento econômico.
A atual guinada à direita
Em 2020, a Frente Ampla foi derrotada nas eleições por uma coalizão de centro-direita liderada por Luis Lacalle Pou, do Partido Nacional. Essa mudança de governo marcou o fim da “onda rosa” no Uruguai e o início de um novo capítulo na história política do país.
Embora o atual governo tenha se afastado de algumas das políticas sociais dos governos anteriores, ele manteve muitas das conquistas alcançadas durante os 15 anos de governos progressistas. O Uruguai continua sendo um país com um forte compromisso com a democracia, os direitos humanos e a justiça social, e os legados de Vázquez e Mujica continuam a influenciar o debate político no país.
A centralidade da política externa
A política externa sempre desempenhou um papel crucial na história e na política uruguaia, moldando sua identidade, desenvolvimento econômico e relações com o mundo. Desde a sua independência, o Uruguai buscou equilibrar sua posição entre seus vizinhos maiores, Argentina e Brasil, e construir uma política externa independente e multilateralista.
Independentemente da orientação ideológica do governo, a política externa continuará sendo um elemento central na construção do futuro do Uruguai. A busca por um equilíbrio entre os interesses nacionais, a integração regional e a inserção global será um desafio constante para os futuros governos uruguaios, que precisarão navegar em um cenário internacional cada vez mais complexo e incerto.
A história e a política uruguaia demonstram que a política externa não é apenas um instrumento para alcançar objetivos econômicos ou políticos, mas também uma expressão da identidade e dos valores de um país. A capacidade do Uruguai de construir uma política externa coerente, independente e comprometida com seus princípios será fundamental para garantir seu desenvolvimento e sua posição no mundo.
Referências Bibliográficas
Clemente, Isabel (2005). Política exterior de Uruguay, 1830-1985. Tendencias, problemas, actores, agenda. Documento de Trabajo Nº 69. Montevideo: Facultad de Ciencias Sociales.
López Burian, Camilo y Carlos Luján (2021). “Los colorados: mirada internacional y la política exterior”. En José Rilla y Jaime Yaffé (coords). Partidos y movimientos políticos en Uruguay. Historia y Presente. Tomo: Colorados. Daniel Buquet, Daniel Chasquetti y Felipe Monestier (eds.). Editorial Crítica, Montevideo. Págs. 149-155.
López Burian, Camilo y Diego Hernández Nilson (2021). “Los blancos y la política internacional: entre el pragmatismo y la búsqueda de autonomía”. En José Rilla y Jaime Yaffé (coords). Partidos y movimientos políticos en Uruguay. Historia y Presente. Tomo: Blancos. Gabriel Bucheli y Adolfo Garcé (eds.). Editorial Crítica, Montevideo. Págs. 147-159.
ROCHA-CARPUIC, C.; LÓPEZ BURIAN, C.; HERNÁNDEZ NILSON, D. A guinada à direita no Uruguai, sua economia política e política externa (2020-2023): Impulsos e freios. Teoria & Pesquisa Revista de Ciência Política, São Carlos, v. 32, n. esp.3, p. e023029, 2023. DOI: 10.14244/tp.v32iesp.3.1037. Disponível em: < https://www.teoriaepesquisa.ufscar.br/index.php/tp/article/view/1037> . Acesso em: 15 ago. 2024.