Por Katrien Demuynck
Via Rebelión
Tradução: Equipe Radar Internacional
Nos grandes meios de comunicação não se escuta nada sobre, mas no Mar do Caribe está havendo uma escalada militar dos Estados Unidos contra a Venezuela. Segundo Washington, toda a operação está dirigida contra o narcotráfico. Porém , contra os cartéis de droga faz pouco sentido utilizar grandes navios de guerra e um submarino de ataque nuclear.
A escalada militar começou há algumas semanas, mas desde os últimos dias a situação se acelerou. A frota de guerra dos EUA está composta por sete navios de guerra, entre os que se encontram destruidores de mísseis AEGIS, ao menos um cruzeiro lança-mísseis e um submarino de ataque de propulsão nuclear. Além disso, foram mobilizados três navios de transporte que carregam, 4.500 militares.
A agressão dos Estados Unidos contra a Venezuela, não é nada nova. Desde que o povo venezuelano elegeu, em 1999 Hugo Chávez, estas ofensivas do Império têm sido algo constante. A razão para isso não é preciso buscar muito longe. A Venezuela tem as maiores reservas de petróleo do mundo. Segundo a OPEP mais de 303.000 milhões de barris (2024). O país conta ainda com importantes reservas de ouro. Somado a isso existe um gigantesco potencial de minério na faixa de Orinoco, onde informações venezuelanas calculam o valor dos minerais estratégicos, incluindo o coltan e as terras raras, a enorme cifra de 2.000.000 milhões de dólares.
Chávez rompeu com a tradicional política da Venezuela de ser um “quintal” dos Estados Unidos, que mantinha as enormes reservas de petróleo e minerais do país à disposição do grande país do Norte, e isso foi visto como inaceitável.
Não foi a primeira vez que um país latinoamericano tentava se libertar do controle imperialista. Em 1959 tentou Cuba, em 1979 a Nicarágua e logo, em 1999, Venezuela. Os dois primeiros países levam décadas lidando com um bloqueio econômico, financeiro e diplomático por parte dos Estados Unidos e com a frequente incitação a distúrbios internos.
Na Nicarágua inclusive os Estados Unidos estabeleceu e financiou uma verdadeira guerra contra revolucionária, gerando uma situação de terror contra a população. A política de agressão se interrompeu entre 1990 e 2006, quando foi imposto um governo neoliberal aliado dos Yankees. Eu mesmo vivi e trabalhei entre 1986 e o outono de 1991 na Nicarágua e fui prova de tudo que ocorreu ali.
Onda Progressista
Em 2004 Venezuela e Cuba fundaram conjuntamente a ALBA, a Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América. Era um acordo de cooperação entre países centrado na colaboração e solidariedade mútua, e um contraponto direto à ALCA, a Área de Livre Comércio das Américas, planejada pelos EUA. Esse projeto neoliberal liderado por Estados Unidos foi enterrado em 2005 em uma cúpula feita em Mar del Plata, Argentina.
América Latina navegava em uma onda progressista, com um de seus pontos culminantes em uma fundação da CELAC, a Comunidade de Estados Latinoamericanos e Caribenhos em 2011. Era um mecanismo de cooperação entre os 33 países independentes de América Latina e o Caribe, uma resposta a OEA (Organização de Estados Americanos), de caráter neocolonial e dominada por EUA e Canadá.
Na primeira década dos anos 2000 a corrente bolivariana na América Latina, nomeada assim em homenagem a Simón Bolívar, libertador e líder das revoluções nacionais para descolonizar o continente, ia ganhando terreno diante da Doutrina Monroe. Esta última tem como lema “América para os americanos”, ainda que fosse mais correto dizer “América para os Estados Unidos”. a Doutrina Monroe é a pedra angular da política imperialista de fazer a América Latina quintal estadunidense.
A mudança de rumo na América Latina
Na segunda década do século XXI começamos a ver uma mudança de rota. Em 5 de março de 2013, morreu Hugo Chávez, vítima de uma doença em situações que ainda não foram esclarecidas. Em 2014, o presidente estadunidense Obama impôs as primeiras sanções à Venezuela, que são fortalecidas em 2015.
Em 2016, a presidenta progressista do Brasil, Dilma Rousseff, foi derrubada por meio de uma lawfare (guerra jurídica). Em 2017 Lenín Moreno, sucessor do progressista presidente equatoriano Rafael Correa, dá um giro completo rumo ao campo neoliberal. Esses são alguns exemplos da mudança de tendência na América Latina, sob uma direção direta e indireta dos Estados Unidos.
Venezuela na mira do Império
Como resultado das sanções económicas dos EUA, a Venezuela entra numa grave crise económica que causa emigração em massa. No entanto, o governo bolivariano do presidente Maduro conseguiu estabilizar o país e recuperar o crescimento econômico, hoje o maior da América Latina. Isto leva à reeleição de Maduro no verão de 2024. Estas eleições acontecem com grande tensão e com forte interferência de Washington. Após a reeleição, grupos de oposição de extrema direita, dirigidos pelos EUA, tentam semear o caos. Mas eles falham.
Em 10 de janeiro de 2025 começa o novo mandato presidencial de Maduro. Em 26 de março de 2020, Trump ofereceu, através do Departamento de Estado dos EUA e do seu Programa de Recompensas de Narcóticos, uma recompensa de 15 milhões de dólares por informações que possam levar à prisão ou condenação de Maduro por tráfico de drogas.
É acima de tudo uma medida simbólica e política para isolá-lo e criminalizá-lo internacionalmente. Em 10 de fevereiro de 2025, os EUA aumentaram a recompensa para US$ 25 milhões. Obviamente, não há provas da participação de Maduro no tráfico de drogas. O tão mencionado cartel Tren de Aragua foi bastante desmantelado na Venezuela em 2023. Mesmo assim, em Fevereiro de 2025, os EUA declararam esta organização uma “organização terrorista”.
Isso, por sua vez, estabelece as bases para o início de uma caçada contra imigrantes venezuelanos nos EUA, supostamente por serem membros do Cartel de Aragua e deporta-los aos campos prisionais em El Salvador do fascista Bukele. Depois de difíceis negociações Venezuela chega a repatriar 252 venezuelanos.
Mobilização Popular como resposta
No início de Agosto, na preparação das atuais ameaças militares, os EUA declaram outra organização, o Cartel de los Soles, uma organização terrorista. Declaram unilateralmente Maduro um dos líderes dessa organização e aumentam a recompensa pela sua captura para 50 milhões de dólares. A ONU, por sua vez, em 2007 já estabeleceu que a Venezuela é um país livre do cultivo de drogas ilegais. A mesma ONU salienta ainda que 87% das drogas produzidas no Equador e na Colômbia saem desses países pelas suas costas. Apenas 5% fazem através dos mais de 2.000 km de fronteira com a Venezuela.
Em 28 de agosto de 2025, o representante permanente da Venezuela junto à ONU entregou uma comunicação ao secretário-geral António Guterres na qual denunciou a escalada agressiva e perigosa do governo dos EUA contra a Venezuela.
A Venezuela, por sua vez, mobilizou a sua população para demonstrar força militar em resposta à ameaça que estava navegando em suas águas. Mais de 4 milhões de homens e mulheres venezuelanos já se registaram para defender o projeto bolivariano através de milícias populares. Em qualquer caso, se os EUA levarem até o fim sua ameaça militar de guerra, encontrarão uma resistência generalizada e bem organizada.
É preciso máxima atenção
Não é a primeira vez que os EUA divulgam mentiras para poder invadir um país. Basta lembrar das supostas armas de destruição em massa de Saddam Hussein. A ameaça de uma invasão estadunidense, não põe em perigo apenas a Venezuela, mas sim toda a América Latina. Que passará a correr o risco de sofrer uma nova onda de guerras, caos e desestabilização política regional. O que está acontecendo agora, nas fronteiras marítimas da Venezuela é algo que deve nos deixar atento, e complemente grave. Devemos acompanhar com máxima atenção.
Katrien Demuynck, coordenadora da sessão belga da Red en Defensa de la Humanidad (REDH).