A Sardenha derrotou Meloni

 

Os resultados finais das eleições regionais na ilha italiana da Sardenha, conhecidos esta terça-feira, resultaram na primeira derrota eleitoral significativa da primeira-ministra de extrema-direita, Giorgia Meloni.

Paolo Truzzu, o candidato por si imposto pessoalmente, presidente da Câmara de Cagliari e que liderava o bloco das direitas, obteve 45%, ficando apenas quatro décimas abaixo de Alessandra Todde que, sendo do Movimento 5 Estrelas, era apoiada também pelo social-liberal Partido Democrata.

O resultado é visto como atingindo particularmente os dois membros da coligação governamental que se situam na extrema-direita. Por um lado, Meloni tinha insistido que o anterior governador, Christian Salinas, que é da Liga de Matteo Salvini e está a ser alvo de uma investigação por corrupção, fosse substituído por um candidato do seu partido. Por outro a própria Liga, em queda nas sondagens nacionais, ficou ainda mais fragilizada ao obter apenas 3,7% dos votos, descendo significativamente a partir dos 11,4% que tinha tido em 2019.

Os líderes das três forças da coligação governamental, que integra também o Força Itália, fundado pelo antigo primeiro-ministro Silvio Berlusconi, assinaram uma breve nota conjunta lamentando que “o excelente resultado das listas da coligação de centro-direita [sic], que se aproximaram dos 50 por cento dos votos, não se tenha traduzido também numa vitória do candidato presidencial”, manifestando esperança de que “destas eleições não resulte um declínio do consenso” desta área política e prometendo uma reflexão “em conjunto para avaliar os eventuais erros cometidos”.

A primeira-ministra, poucos minutos depois de ser conhecida esta mensagem, publicou no X uma mensagem sua em que assume que “as derrotas são sempre uma tristeza mas também uma oportunidade para refletir e melhorar”.

 

Uma coligação abrangente, uma vitória estreita para uma "ilha feliz" e uma candidata que teve mais do que a soma das partes

Em 2023, a coligação governamental tinha ganho as quatro eleições regionais. Este ano haverá ainda mais quatro eleições regionais para além das europeias. As próximas serão em Abruzzo, a 10 de março, e o PD e o Movimento 5 Estrelas vão voltar a juntar-se.

Para já, a oposição celebrou junta a derrota do candidato de Meloni. Elly Schlein, dirigente do PD, declarou então que “os ventos estão a mudar”. Ao seu lado, o ex-primeiro-ministro Giuseppe Conte, que atualmente lidera o 5 Estrelas, também salienta que “o ar mudou” e que “os cidadãos da Sardenha fecharam a porta a Meloni e companhia e abriram-na à alternativa”. Apesar de ter tido pouco mais de metade dos votos do Partido Democrata, tem motivos para celebrar uma vez que é a primeira presidente regional eleita pelo seu partido.

Já a nova presidente regional, que obteve mais 40.000 votos do que o total das listas que a apoiaram, destacou ser a primeira mulher no cargo afirmando: “depois de 75 anos, quebrámos o teto de vidro”.

Alessandra Todde estudou informática e ciências da informação. Empresária e gestora, passou vários anos fora do seu país a trabalhar em várias empresas. Em 2018, regressou a Itália e tornou-se administradora da empresa Olidata.

Pouco depois enveredou pela política, candidatou-se ao Parlamento Europeu pelo Movimento 5 Estrelas, sem sucesso, e imediatamente a seguir integrou o governo como subsecretária de Estado do Desenvolvimento Económico no governo de Giuseppe Conte e depois vice-ministra do Desenvolvimento Económico no Governo Draghi. Sob a direção do primeiro, tornou-se em 2021 vice-presidente do seu partido e era atualmente deputada.

Para além daqueles partidos, a coligação vencedora integrava forças políticas diversas como os independentistas do A Innantis!, a Alleanza Verdi e Sinistra, o DemoS, o PSI, o Fortza Paris, Progressisti de Massimo Zedda e outros movimentos autonomistas e de esquerda como Orizzonte Comune e Sinistra Futura, Italia in Comune, Centro Democratico, Insieme e Partito Gay.

Em campanha, a candidata fez questão de quebrar com o habitual credo do 5 Estrelas de não ser “nem de direita nem de esquerda”, tendo-se afirmado à esquerda. E é à esquerda que a sua eleição tem causado esperança com o jornal Il Manifesto, por exemplo, a ter ido para as bancas antes ainda da confirmação final do resultado com o título “Ilha Feliz”.