Argentina: direita moderada anuncia apoio a nada moderado Javier Milei e racha coalizão

Imagem: Reprodução Página 12

Vamos por partes: se ainda faltavam motivos para acreditar numa virada de jogo da coalizão governista, liderada pelo ‘superministro’ da Economia Sergio Massa, não faltaram mais. Na noite de domingo (22), de forma bastante surpreendente e bem diferente do que se viu nas primárias obrigatórias de agosto, o peronista venceu o primeiro turno das eleições presidenciais – ficando, inclusive, relativamente perto de vencer o páreo no primeiro turno. Com a apuração virtualmente completa, Massa terminou com 36,68% dos votos, uma vantagem considerável frente aos 29,98% conquistados pelo libertário de extrema-direita Javier Milei – de acordo com a lei eleitoral argentina, o pleito poderia ter sido encerrado logo de cara caso o líder Massa obtivesse 40%, mantendo uma distância de 10 pontos percentuais do candidato mais próximo. Como isso não aconteceu, os dois políticos agora medem força outra vez em 19/11, em busca de um mandato de quatro anos que se inicia em dezembro.

Virada a página da conquista parcial, o peronismo sabe que não tem nada garantido e voltou a ligar as luzes de alerta dois dias depois do pleito: isso porque a ex-ministra de Segurança Patricia Bullrich, terceira mais votada no domingo e dona de mais de 6 milhões de votos, quebrou o silêncio e anunciou apoio a Javier Milei. A decisão, é bem verdade, não é lá surpreendente. Mesmo antes de sair de cima do muro, Bullrich já havia descartado qualquer chance de apoiar os governistas, classificando-os de “máfias populistas”. Agora a coisa mudou de tom: com direito a abraços constrangedores, Pato Bullrich disse ter “perdoado” Milei pelos ataques feitos durante a campanha, mas descartou já ter encaminhado uma vaga num eventual governo do extremista. Toda a trégua entre as direitas foi costurada pelo ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), que retirou sua candidatura em março para atuar nos bastidores da coalizão Juntos por el Cambio (JxC).

Mas, se para Milei o apoio vem em boa hora, o mesmo não vale para uma ala da coalizão conservadora que pregava neutralidade no segundo turno. Entre os incomodados com a decisão da ex-ministra está Horacio Larreta, prefeito de Buenos Aires. Derrotado por Bullrich nas primárias que definiram o representante da JxC, Larreta era considerado o nome menos radical entre os favoritos do grupo – na quarta-feira (25), o prefeito disse à imprensa que sequer ficou sabendo da reunião “secreta” entre Bullrich e Milei, deixando nas entrelinhas que já há uma ruptura total entre diferentes correntes dentro da coalizão. Em outra oportunidade, Larreta chegou a dizer que “ambas as opções [do segundo turno] são ruins”. Analistas também apontam que a atual guinada de Macri e seus aliados poderia bagunçar totalmente as entranhas da política argentina. Resta ver quem se beneficiará disso no mês que vem.