Por Manuela D'ávila
As eleições alemãs despertaram muita atenção no mundo. É mesmo impressionante e assustador perceber o crescimento da extrema-direita por lá, algo impensável desde o fim do nazismo.
São muitas as reflexões. Quero trazer mais uma: A Die Linke, partido de esquerda, vivia uma situação muito complexa. Depois de uma divisão interna que culminou na formação de outro partido, a tendência era que eles não alcançassem o mínimo de votos para contarem com representação parlamentar.
O resultado da eleição mostra que eles conseguiram conter a derrocada e alcançar o melhor resultado. Como?
Quero falar sobre Heidi Reichinnek e sobre como o Die Linke alcançou surpreendentes 8,77% (O racha deles - BSW - alcançou 4,77%, não superando a cláusula de barreira).
A resposta passa por essa guria de 35 anos, isto é, pelo partido ter se permitido renovar de verdade.
* passa pelo uso do TikTok e das demais redes não como simples ferramentas de comunicação (atentem a isso!!!) mas como o espaço no qual é feita a disputa de ideias, a disputa da política na atualidade. E passa pela política propriamente dita, isto é, pelo “programa” apresentada nessas redes.
A juventude apostou na esquerda radical. 20% votaram na extrema direita mas 25% escolheu a esperança da transformação proposta pelo Die Linke.
Quando olhamos o cruzamento entre gênero e idade, temos a confirmação de um fenômeno global: as mulheres jovens votaram massivamente na esperança do DIE LINKE (34% das mulheres x 15% dos jovens tomaram essa decisão). Já Os homens jovens aderiram as ideias violentas da AFD (25% x 14%).
Alice Evans tem se dedicado ao estudo do chamado "gender gap". Alice nos traz elementos para pensarmos sobre as razões de mulheres e homens estarem se tornando crescentemente diferentes. Essa diferença, é claro, aparece na política. Apareceu no Brasil, na Argentina, nos Estados Unidos. Apareceu agora na Alemanha.
Há anos tenho pesquisado esse tema. E confesso que fico atônita com setores da esquerda que ignoram algo que pode ser parte determinante da resposta para a derrota da extrema direita. Não apenas o voto das mulheres. Mas a compreensão mais profunda das razões para tanto.
Alice vem ao festival mulheres em lutas em abril. Lá a gente vai tentar encontrar respostas. As saídas panfletárias não vão responder com verdade aos nossos dilemas. O carimbo de identitários serve para frear mas não contribui com o debate mais profundo. Quem quer encontrar saídas, precisa olhar de frente para a realidade. Ela é assustadora. Mas também tem sinais de luz.