Em França, o povo saiu à rua contra o “golpe” de Macron

 

Largos milhares encheram as ruas de França este sábado contra a nomeação de Michel Barnier para primeiro-ministro. Os manifestantes acusam Macron de fazer um “golpe à força” e de “negar a democracia”.

Os números ainda não serão claros. A França Insubmissa indica mais de 300 milhares de pessoas na rua por todo o país. O ministério do Interior falta em cerca de 160 mil. Uma coisa é certa, o povo saiu à rua para se fazer ouvir e para se mostrar insatisfeito com o autoritarismo de Emmanuel Macron.

Passados dois meses das eleições que deram como vencedora a Nova Frente Popular (NFP), Emmanuel Macron decidiu criar um candidato comum desde o centro-direita à extrema-direita, repescando um dos negociadores do Brexit e membro dos Republicanos. Esse mesmo partido não conseguiu sequer obter 50 deputados nas eleições, tendo ficado em quarto lugar, atrás da Nova Frente Popular, do partido de extrema-direita Rassemblement National e do Ensemble de Macron.

Para protestar a nomeação, que os eleitores de esquerda consideram anti-democrática uma vez que ignora a candidata da NFP, mais de cem mil pessoas saíram à rua por toda a França, convocados pela França Insubmissa.

Para além da França Insubmissa, dos seus militantes e deputados, também marcaram presença nas manifestações os ecologistas e os comunistas, que participam na Nova Frente Popular. No entanto, o Partido Socialista, a força mais ao centro dentro da coligação, fez questão de não marcar presença, e isso foi suficiente para desencorajar a presença de Lucie Castets, a candidata da NFP a primeira-ministra, que admitiu participar na manifestação apenas se as quatro forças políticas que compõem a frente de esquerda estivessem presentes.

As manifestações desdobraram-se por quase 130 cidades francesas, de acordo com a Mediapart. A convocatória tinha sido feita pela União Estudantil e pela União Sindical dos Liceus no final de agosto e foi acolhida pelos movimentos e partidos de esquerda em massa, especialmente depois da nomeação de Barnier. Só o Partido Socialista ficou de fora.

Em discurso à multidão, Jean-Luc Mélenchon afirmou que “a democracia não é só a arte de aceitar a vitória, é também a humildade de saber perder”. O líder da França Insubmissa seguiu numa carrinha na vanguarda da manifestação e foi galvanizando os manifestantes durante a manifestação. “Não haverá trégua diante da violência que [Macron] exerce. Não haverá pausa nem trégua. Convoco toda a gente para uma batalha e uma luta duradoura”, disse.

Já antes da manifestação, a Nova Frente Popular tinha prometido apresentar uma moção de censura contra o governo de Michel Barnier. Ao mesmo tempo, a França Insubmissa propôs a destituição de Emmanuel Macron enquanto presidente, por contornar o regime democrático.