Grandes jornais do mundo se manifestam pelo fim da perseguição de Julian Assange 

 

Redação Radar Internacional  

Foto: Reprodução Gazeta do Povo

 

Os jornais The New York Times (EUA), The Guardian (Grã-Bretanha), Le Monde (França), o Die Spiegel(Alemanha) e o El País (Espanha), publicaram nessa segunda-feira, 28 de novembro, um documento conjunto defendendo Julian Assange das investidas dos
Estados Unidos contra o Wikileaks. 

O processo contra o editor do portal foi enquadrado na Lei de Espionagem de 1917, em uma ofensiva da administração Donald Trump. Na nota conjunta os portais defendem que: 

"Obter e divulgar informações sigilosas quando necessário para o interesse público é parte essencial do trabalho diário dos jornalistas. Se esse trabalho for criminalizado, nosso discurso público e nossas democracias ficarão significativamente mais fracos. 

Doze anos após a publicação de "Cablegate", é hora de o governo dos EUA encerrar o processo contra Julian Assange por publicar segredos. 

Publicar não é crime. "

 

A publicação da nota vem em conjunto com um processo de ofensiva dos atuais editores do Wikileaks, em prol da libertação de Assange. Na semana passada, os representantes do portal se encontraram com o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, que defendeu a liberdade para Assange, e se comprometeu a articular outros presidentes latino-americanos e solicitar a Joe Biden para “não acusar um jornalista apenas por dizer a verdade”.  

Nessa quarta feira os representantes da Wikileaks reúnem uma série de entidades jornalísticas na Associação Brasileira de Imprensa (ABI). 

 

Leia a carta na íntegra: 

Publicar não é crime: o governo dos Estados Unidos deveria encerrar o processo contra Julian Assange por publicar segredos. 

“Doze anos atrás, em 28 de novembro de 2010, cinco meios de comunicação internacionais – The New York Times, The Guardian, Le Monde, El País e Der Spiegel – publicaram uma série de revelações em cooperação com o Wikileaks que chegaram às manchetes em todo o mundo. 

“Cablegate”, um conjunto de 251 mil telegramas confidenciais do Departamento de Estado dos EUA revelou corrupção, escândalos diplomáticos e assuntos de espionagem em escala internacional. 

Nas palavras do The New York Times, os documentos contavam “a história nua e crua
de como o governo toma suas maiores decisões, as decisões que mais custam ao país em vidas e dinheiro”.
 

Mesmo agora em 2022, jornalistas e historiadores continuam a publicar novas revelações, usando a joia única que são documentos. 

Para Julian Assange, editor do Wikileaks, a publicação de “Cablegate” e vários outros vazamentos relacionados tiveram as consequências mais graves. 

Em 12 de abril de 2019, Assange foi preso em Londres com um mandado dos EUA e
agora está detido há três anos e meio em uma prisão britânica de alta segurança
geralmente usada para terroristas e membros de grupos do crime organizado. Ele
enfrenta risco extradição para os EUA e de uma sentença de até 175 anos em uma
prisão de segurança máxima americana.
 

Este grupo de editores e empresas jornalísticas, todos tendo trabalhado com Assange,
sentiram a necessidade de criticar publicamente sua conduta em 2011, quando
cópias não editadas dos telegramas foram divulgadas.
 E alguns de nós estão preocupados com as alegações na acusação deque ele tentou ajudar na invasão de computador de um banco de dados classificado. 

Mas nos reunimos agora para expressar nossas sérias preocupações sobre o processo
contínuo de Julian Assange por obter e publicar materiais classificados.
 A administração Obama-Biden, no cargo durante a publicação do Wikileaks em 2010, absteve-se de indiciar Assange, explicando que teria de indiciar também jornalistas de grandes veículos de notícias. 

A posição deles valorizava a liberdade de imprensa, apesar de suas consequências
desconfortáveis.
 

Sob Donald Trump, no entanto, a posição mudou. O DOJ baseou-se em uma lei antiga, a Lei de Espionagem de 1917 (projetada para processar espiões em potencial durante a Primeira Guerra Mundial), que nunca foi usada para processar uma editora ou emissora. Esta acusação estabelece umprecedente perigoso e ameaça minar a Primeira Emenda dos Estados Unidos e a liberdade de imprensa. 

Responsabilizaros governos faz parte da missão central de uma imprensa livre em uma
democracia.
 

Obter e divulgar informações sigilosas quando necessário para o interesse público é
parte essencial do trabalho diário dos jornalistas. Se esse trabalho for criminalizado, nosso discurso público e nossas democracias ficarão significativamente mais fracos.
 

Doze anos após a publicação de “Cablegate”, é hora de o governo dos EUA encerrar o
processo contra Julian Assange por publicar segredos.
 

Publicar não é crime.”