Via Esquerda.net
Imagem: Reprodução Brasil de Fato
Protestos irromperam no início desta semana, sobretudo no sul do país, depois de cerca de 170.000 pessoas terem recebido um sms a dizer que em agosto já não receberiam o “rendimento de cidadania”. A oposição fala numa “guerra contra os pobres”.
A primeira-ministra italiana tinha aproveitado o 1º de Maio para anunciar o corte no “rendimento de cidadania”, um esquema de apoio às famílias vulneráveis introduzido em 2019, atribuído atualmente a perto de 3,6 milhões de pessoas de baixos rendimentos sob a condição de não recusarem nenhuma oferta de emprego.
Apesar desta condicionalidade, o governo de Meloni utilizou o habitual argumento da “subsidiodepência” para substitui-lo por outro esquema menos abrangente que chegaria a 436.000 famílias. Está previsto um sistema que implica um forte corte nos rendimentos atribuídos, que aumenta as regras da condicionalidade para a necessidade de frequência de formação profissional e que tem um prazo de apenas um ano. Este deveria iniciar-se em setembro mas ainda nem se conhecem os formulários de candidatura. Para além dele, está previsto ainda um “subsídio de inclusão” para famílias com pelos menos um menor de idade, um idoso ou uma pessoa com deficiência a começar em janeiro.
Com o início do mês de agosto, a primeira parte da supressão do rendimento de cidadania começou imediatamente com a Segurança Social a enviar uma mensagem sms a perto de 170.000 pessoas a informá-las que deixariam de receber a verba este mês.
A líder do maior partido da oposição o social-liberal Partido Democrata, Elly Schlein, considerou esta forma de comunicar a perda do rendimento como “brutal”, dirigida a “pessoas que têm dificuldades em preparar o almoço e o jantar”, e disse estarmos perante uma bomba social e uma “guerra contra os pobres”. Também Giuseppe Conte do Movimento Cinco Estrelas, o grande impulsionador da medida, criticou o sucedido utilizando a mesma fórmula: estamos perante uma “guerra ideológica” contra os pobres.
O Partido Democrata chamou a ministra do Trabalho, Elvira Calderone, ao Senado para prestar esclarecimentos sobre a confusão instalada no processo de transição para os novos sistemas. Nos próximos dois meses espera-se que mais 80.000 pessoas recebam semelhante notificação ficando sem qualquer rede de apoio social. A central sindical CGIL estima que centenas de milhares de pessoas percam direito a qualquer tipo de apoio com o qual tinham vindo a subsistir e critica também o carácter não justificado do corte e que, para além das consequências a longo prazo, faz desde já com que pessoas nas mesmas condições tenham já deixado de receber o valor que outras se mantém ao abrigo do “rendimento de cidadania”. Acusa-se ainda o governo de “ganhar dinheiro com a pobreza, cortando 2,7 mil milhões de euros até agora destinados às famílias em dificuldade”.
No sul do país, de onde a maior parte das pessoas excluídas são, perto de 43.000, por exemplo residem na região da Campânia, várias manifestações foram organizadas como em Nápoles, logo na segunda-feira à frente do INPS, o Instituto Nacional de Previdência Social, muitas delas espontâneas mas contando com o apoio de partidos de esquerda e sindicatos. Esta quarta-feira novas manifestações estão a decorrer.