A revolução que mudou o equilíbrio geopolítico no Oriente Médio é mais relevante do que nunca.
Muito pouco se sabe no Ocidente sobre a Revolução Iraniana de 1979 — e o que se sabe frequentemente está envolto em propaganda, simplificações ou distorções. A visão ocidental muitas vezes retrata esse momento histórico apenas como o surgimento de um regime teocrático autoritário, deixando de lado as causas profundas, a complexidade do movimento e o impacto duradouro dessa revolução.
É comum ver imagens do "antes e depois" da Revolução Iraniana circulando, sendo o "antes" mulheres andando nas ruas de Teerã de minissaias e o "depois" mulheres cobertas da cabeça aos pés com o véu. Há uma tentativa de julgar a revolução como um retrocesso nos direitos humanos do Irã, mas pouco se discute sobre o apoio massivo da população iraniana à revolução.
Um país em transformação forçada
Antes da revolução, o Irã era governado pelo xá Mohammad Reza Pahlavi, fortemente apoiado pelos Estados Unidos e outras potências ocidentais. Sob o xá, o país passou por uma modernização acelerada e uma ocidentalização forçada, conhecida como a "Revolução Branca". Apesar dos avanços em infraestrutura, saúde e educação, essa transformação ignorou as tradições culturais e religiosas da população iraniana, gerando profundas desigualdades sociais.
Além disso, o regime do xá era marcado pela repressão política, censura e tortura de opositores, promovida pela temida polícia secreta SAVAK. O descontentamento crescia entre intelectuais, religiosos, estudantes e a população em geral.
O surgimento de um movimento popular
A Revolução Iraniana não foi apenas um levante religioso — ela foi, acima de tudo, um movimento popular e multifacetado. Diversos setores da sociedade iraniana, incluindo liberais, marxistas, nacionalistas e religiosos, uniram-se contra a ditadura do xá. O aiatolá Ruhollah Khomeini, um clérigo xiita exilado, emergiu como uma das figuras centrais da oposição, conquistando enorme apoio popular com seus discursos contra a tirania, o imperialismo e a corrupção moral do regime.
Em 1979, após meses de protestos massivos, greves gerais e crescente insatisfação popular, o xá deixou o Irã. Pouco tempo depois, Khomeini retornou triunfalmente ao país, sendo recebido por milhões de pessoas. Em abril daquele ano, foi proclamada a República Islâmica do Irã, após um referendo popular no qual a maioria optou pela mudança do sistema monárquico para um modelo baseado na jurisprudência islâmica (Wilayat al-Faqih).
O pós-revolução
A Revolução Iraniana teve efeitos profundos, tanto no Irã quanto no cenário internacional. Internamente, instaurou-se um regime teocrático liderado por clérigos xiitas, com um sistema político singular que mistura eleições com autoridade religiosa. Muitos dos antigos aliados revolucionários de Khomeini foram perseguidos ou eliminados. Por outro lado, o novo governo fortaleceu a identidade nacional iraniana e rompeu com a dominação ocidental.
No plano internacional, a revolução gerou tensões com os Estados Unidos, especialmente após a crise dos reféns na embaixada americana em Teerã. Ela também inspirou movimentos islâmicos em outras partes do mundo e alterou o equilíbrio geopolítico no Oriente Médio.
A Revolução Iraniana é muito mais do que uma simples substituição de regime. Ela representa uma profunda transformação política, cultural e religiosa, cujos ecos ainda ressoam hoje. Compreender esse episódio exige ir além das narrativas simplificadas e analisar os diversos fatores sociais, históricos e ideológicos que o moldaram. Trata-se de um capítulo crucial da história moderna — e ainda pouco compreendido no Ocidente.