Avanço da crise climática pode desencadear em breve danos perigosos e abrangentes às pessoas e à Natureza que não poderiam ser desfeitos.
Cincos pontos de inflexão dos sistemas terrestres, como o colapso de grandes camadas de gelo e a mortalidade de recifes de corais de águas quentes, estão sob risco de serem ultrapassados em função do aquecimento global. Outros três estarão ameaçados na década de 2030, se o aumento da temperatura ultrapassar os 1,5°C determinados pelo Acordo de Paris. Assim, o mundo se aproxima rapidamente de pontos de não retorno (tipping points) de alto impacto, que podem ocasionar uma sequência de desastres ambientais pelo planeta.
Essa é a mensagem do “Global Tipping Points Report 2023”. Trata-se da maior avaliação do gênero já feita e que envolveu o trabalho de mais de 200 cientistas de 25 instituições internacionais, destaca Daniela Chiaretti no Valor. O relatório foi liderado por Timothy Lenton, do Global Systems Institute, da Universidade de Exeter, e financiado pelo Bezos Earth Fund, do bilionário Jeff Bezos, CEO da Amazon.
O relatório aponta 26 pontos de não retorno, identificados a partir de evidências de mudanças, registros observacionais e modelos computacionais. Há diversos elementos que impactam e desestabilizam os sistemas em risco, mas, para a maioria deles, a crise climática é um importante elemento. Assim, mesmo que a temperatura global parasse de subir agora – o planeta está 1,2°C mais quente em relação ao período pré-industrial –, o colapso de alguns sistemas pode já estar contratado, destaca a Folha.
O desencadeamento dessas mudanças planetárias não fará com que as temperaturas fiquem fora de controle nos próximos séculos. Mas, desencadeará danos perigosos e abrangentes às pessoas e à Natureza que não poderiam ser desfeitos, reforça o Guardian.
“Os pontos de não retorno no sistema terrestre representam ameaças de uma magnitude nunca enfrentada pela Humanidade. Podem desencadear efeitos-dominó devastadores, incluindo a perda de ecossistemas inteiros e da capacidade de cultivo de culturas básicas, com impactos sociais que incluem deslocações em massa, instabilidade política e colapso financeiro”, explica Lenton.
O perigo mais imediato, diz o estudo, é para os recifes de coral ao redor do mundo, que estão ameaçados mesmo nos níveis atuais de aquecimento. As camadas de gelo na Groenlândia e na Antártica Ocidental também correm o risco de colapso irreversível, o que poderia aumentar os níveis do mar neste século e além, relata a Nature.
Com 1,5°C de aquecimento acima dos níveis pré-industriais, as florestas do norte estão em risco, assim como os manguezais e outros ecossistemas costeiros, alerta o relatório. E grandes partes da Floresta Amazônica podem ser substituídas por savanas degradadas com 2°C de aquecimento, perturbando a vida em toda a América do Sul, reduzindo fortemente a produtividade da agricultura na região central do Brasil e resultando em ainda mais carbono sendo lançado na atmosfera.
Bloomberg, France24 e New Scientist também destacaram o estudo.