Via Esquerda.net
Trump destacou os fuzileiros para intervirem na California, respondendo com violência. Portugueses que vivem em Los Angeles sentem "terror" de deportação.
As ações de protesto contra a política migratória de Trump e os raids que estavam detendo e deportando imigrantes, muitas vezes regularizados, alastraram-se já para várias cidades dos Estados Unidos da América. Seattle, Las Vegas e Spokane foram palcos de tensões entre os manifestantes e a polícia. Os protestos têm como principal alvo o departamento de Imigração e Controlo Aduaneiro (sigla ICE, em inglês).
A resposta de Trump às manifestações tem sido marcada pela repressão e pela intervenção de corpos militares. Segundo o Guardian, a Guarda Nacional estadunidense já estava no terreno e agora juntam-se também os Marines, a classe militar de fuzileiros navais nos Estados Unidos da América. A escalada para a militarização do conflito foi feita em desacordo com o governador da Califórnia, Gavin Newsom. A tensão entre o governador e Trump gerou uma discussão nacional sobre o uso de forças militares em solo estadunidense.
A passada quarta-feira foi o sexto dia de protestos em Los Angeles, que foram na sua maioria pacíficos. O procurador distrital do distrito de Los Angeles, Nathan Hochman, disse que a comunicação social está a distorcer a escala da violência dos protestos. No entanto, os conflitos com a polícia na baixa da cidade levaram a que entrasse em efeito um recolher obrigatório nessa área, com a polícia a usar a violência para dispersar as multidões.
Em Spokane, no estado de Washington, mais de 30 pessoas foram detidas por tentar impedir que um veículo da ICE transportasse detidos para serem deportados. A cidade também implementou um recolher obrigatório. Já em Seattle, milhares de pessoas marcharam e bloquearam uma das principais interseções da baixa da cidade, sem confronto com a polícia, segundo o New York Times. Em Las Vegas, a polícia ordenou aos manifestantes que dispersassem a manifestação, resultando em confrontos diretos com quem estava no local. Também em Nova Iorque e noutras cidades estadunidenses se saiu à rua, sobretudo em concentrações à frente de gabinetes da ICE, para protestar contra a atual política contra migrantes.
Cidadãos portugueses com medo de deportação
O Jornal de Notícias dá conta de um sentimento “de terror” dos imigrantes portugueses face às deportações em massa que o Governo de Donald Trump está a executar. Ana Rita Guerra, jornalista residente em Los Angeles, diz ao jornal que “os emigrantes, inclusive os que possuem autorização de residência e que, por isso, estão em situação legal, podem ser detidos a qualquer momento e reenviados para Portugal. Basta que seja encontrado um pequeno pretexto, como uma simples multa antiga de trânsito, para a ordem ser dada”.
“O sentimento dentro da comunidade é de terror. Já ninguém escapa, mesmo quem é cumpridor da lei”, diz a jornalista. “Audiências normais terminam em situações de risco, com as pessoas inesperadamente expulsas para o país de origem ou enviadas para presídios durante dois ou três meses”.
Uma outra imigrante portuguesa que vive em Los Angeles, Ana Rocha, fala em “rusgas sem regra, ao estilo militar, muitas vezes com carrinhas e agentes à paisana” que decorrem “em locais de trabalho e, inclusive, em escolas”. “Não apenas são detidos os ilegais, basta que não apresentem na hora prova de cidadania”, explica. “Sou residente legal e passei a andar sempre com o meu Green Card, para o caso de ser abordada”.
Muitas pessoas acabam por adiar ou cancelar férias e viagens a Portugal por temerem que no regresso lhes seja impedida a entrada nos Estados Unidos da América.
Segundo o Guardian, a experiência dos imigrantes detidos em Los Angeles passa por serem presos em caves durante dias, sem água ou comida suficiente. As denúncias são feitas por advogados especializados em imigração, que dão o exemplo de uma família que foi detida num edifício administrativo durante 48 horas, sendo alimentadas a batatas fritas e pacotes individuais de leite..