Uma multidão manifestou-se contra o governo polaco de extrema-direita

A manifestação deste domingo foi convocada pela Plataforma Cívica, de direita, mas toda a oposição se juntou. A promulgação a semana passada de uma lei sobre a “influência russa” que poderá permitir afastar opositores ao governo trouxe ainda mais gente para as ruas.

Terão sido mais de 500 mil as pessoas que saíram às ruas da Varsóvia este domingo contra o governo de extrema-direita do PiS, segundo os números da Câmara Municipal local. Muitas outras nas várias cidades da Polónia para onde estavam marcadas marchas. Um mar de gente que trouxe cartazes e palavras de ordem como “estamos fartos”, “PiS deixa-nos em paz”, “União Europeia sim, PiS não”, “Polónia livre”, “era melhor a democracia” ou “se quisesse viver na Bielorrússia, mudava-me”.

Os manifestantes criticam a incapacidade do governo polaco em reagir à subida da inflação, mas também a sua ofensiva ultra-conservadora contra os direitos das mulheres e da comunidade LGBTI+. Outra das suas preocupações é com os vários ataques ao estado de direito. O Partido da Lei e da Justiça tem atacado a independência do sistema judicial e as vozes dissonantes na academia e a sua última ofensiva é a lei sobre a “comissão sobre a influência russa”, um órgão extra-judicial com poderes amplos. A oposição teme que o expediente da acusação de estar sob a alçada do Kremlin e o carácter vago do princípio nela consignado de “agir em detrimento dos interesses da República da Polónia” sejam utilizados para cercear liberdades e impedir candidatos de concorrer nas eleições que se avizinham ou afastar quem já esteja eleito em vários órgãos. As críticas internacionais fizeram-se sentir e Andrzej Duda, o presidente da República, acabou por promulgar a lei, mas anunciou na passada sexta-feira que seria preciso emendá-la.

A jornada deste domingo tinha sido convocada pelo partido Plataforma Cívica, de direita, e pretendia assinalar o aniversário das eleições ganhas pelo Solidariedade em 1989. Mas ultrapassou em muito esse âmbito, com os vários partidos da oposição e muitos sindicatos a juntaren-se. À esquerda, a coligação Lewica Razem foi uma das formações que marcou presença, vendo no protesto sinais de esperança na mudança dos destinos do país.

O líder da Plataforma Cívica, Donald Tusk, ex-primeiro-ministro e ex-presidente do Conselho da Europa, procura assumir-se como a figura principal da oposição e os seus apoiantes dizem que a lei sobre a “influência russa” se lhe dirige, procurando torná-la conhecida como a “lei Tusk”. Este aproveitou o sucesso da mobilização para se apresentar como o campeão da luta democrática, declarando que “estamos prontos para lutar pela democracia e liberdade outra vez, como fizemos há 30, 40 anos”.

Do lado do atual poder, o PiS declarou tratar-se de uma “marcha do ódio”. O primeiro-ministro, Mateusz Morawiecki, disse que “as velhas raposas estão a organizar uma marcha antigovernamental e a apresentá-la como uma manifestação espontânea”. E o presidente do partido do governo dramatiza as próximas eleições, afirmando que uma vitória da oposição nas próximas eleições seria “o fim da Polónia”.