Victor Farinelli
Via Outras Palavras
A coalizão governista Contigo Chile Melhor, que apoio o presidente Gabriel Boric, teve uma vitória relativa nas eleições municipais chilenas, realizadas neste fim de semana – no país andino, tanto o sábado (26/10) quanto o domingo (27/10) foram dias de votação.
A aliança de centro-esquerda foi a mais votada deste pleito, com 30,1% das preferências, com as quais conseguiu vencer em 110 municípios. Além disso, a coalizão manteve a hegemonia em comunas importantes como Recoleta, La Pintana, Viña del Mar e sobretudo Maipú, a região com maior número de eleitores do país, além de conquistar vitórias em outras cidades importantes, como Valparaíso.
No entanto, o resultado foi ofuscado por uma direita que, mesmo conseguindo menos votos, cerca de 27,3%, acabou elegendo um maior número de prefeituras, com um total de 118.
Além disso, a direita obteve um triunfo simbólico ao conquistar a prefeitura de Santiago, com a vitória do conservador Mario Desbordes contra a comunista Irací Hassler, que tentava a reeleição.
Além disso, a eleição registrou 29,9% dos votos depositados em candidatos que concorreram sem nenhum partido, e que são classificados pelo Serviço Eleitoral do Chile (Servel) como “independentes”.
No, total 101 prefeitos sem partido foram eleitos nas municipais chilenas deste ano, mas não é possível identificar uma tendência ideológica nesse grupo, já que há candidaturas “independentes” com viés mais progressista, outras com viés mais conservador, e um terceiro grupo que se identifica como “regionalista” – que costumam vencer eleições especialmente no extremo norte e extremo sul do país, com discurso baseado na retórica de que os grandes partidos, de esquerda e de direita, os menosprezam.
Vitórias importantes da esquerda
Entre as vitórias mais importantes da esquerda nestas eleições municipais está a que foi conquistada na comuna de Recoleta, com Fares Jadue, aliado do ex-prefeito Daniel Jadue, ambos do Partido Comunista. Apesar de compartilharem o mesmo sobrenome, Fares e Daniel não são parentes, embora ambos pertençam à comunidade palestina residente no Chile.
Daniel Jadue administra Recoleta desde 2012 e a boa avaliação sobre a sua gestão o impulsionou a ser pré-candidato presidencial em 2021. Em junho deste ano, porém, a Justiça determinou sua prisão preventiva, acusado de supostos crimes de suborno, administração desleal e fraude contábil durante sua gestão na pandemia. A medida foi revogada em setembro, após ele passar três meses no cárcere – ainda assim, ele continua sob regime de prisão domiciliar.
A defesa de Jadue afirma que a acusação carece de provas e que busca criminalizar as chamadas “Farmácias Populares”, um programa que vence medicamentos a preço de custo e cujo sucesso a nível nacional – tem sido copiado por centenas de prefeituras desde seu lançamento, em 2014 – foi um dos fatores que catapultou sua carreira política.
Curiosamente, o autor da ação contra o ex-prefeito, Mauricio Smok, foi o candidato da direita nas eleições municipais de Recoleta.
Fares Jadue, candidato do Partido Comunista, obteve 35,4% dos votos, contra 28,9% de Smok, que ficou em segundo lugar. Nas eleições municipais do Chile não há segundo turno.
Outro resultado importante foi o de Tomás Vodanovic, da Frente Ampla, que venceu em Maipu, a comuna com maior número de eleitores do Chile, com 70% dos votos válidos, resultado que fez com que alguns meios de comunicação chilenos passassem a especulá-lo como possível pré-candidato presidencial do setor em 2025.