Como Harris perdeu a classe trabalhadora

Por David Sirota

Tradução Paulo Duque

Publicado em Jacobin Magazine

 


Os trabalhadores rejeitaram Kamala Harris porque ela escolheu fazer campanha em um mundo de fantasia, em que vilões como Trump são raramente nomeados, e que ninguém precisa escolher se o poder será exercido por pessoas comuns ou por bilionários.

Para os liberais, a vitória de Donald Trump provoca adjetivos como “assustadora”, “aterrorizante”, “deprimente” e “desmoralizante”. Mas uma palavra que não deveria ser usada é esta: “surpreendente”. Em um país com mobilidade social descendente [1], a rejeição das políticas para a classe trabalhadora pelos democratas - e sua hostilidade partidária aberta a políticos populistas em seu meio - sempre acabou criando as condições políticas perfeitas para um fortalecido homem conservador prometendo “tornar a América grande novamente”.

Trump e seus aliados elaboraram narrativas sobre burocratas prepotentes [2], guerreiros do DEI [Diversity, Equity, and Inclusion - Diversidade, Equidade e Inclusão] [3] e gangues de imigrantes [4] para construir uma narrativa de que o governo das elites está desconectado da realidade —ou focado em políticas de identidade — que não se importa com a crise de econômica que destrói a vida cotidiana. Os democratas contra-atacaram trazendo estrelas de Hollywood, os Cheneys [5] e o bilionário Mark Cuban para contar uma história sobre a ameaça às normas estabelecidas, colocando em risco o brunch [6] e comprometendo o reinício da WestWing.

Surpresa: a classe trabalhadora respondeu dando a Trump uma vitória decisiva no voto
popular.

Passei boa parte de minha vida adulta tentando evitar isso — tanto no trabalho árduo das campanhas quanto em artigos publicados, livros [7] e séries de áudio [8]. Um desses artigos [9] foi publicado há vinte anos, no que parecia ser um momento muito parecido da história estadunidense, quando um republicano buscando a reeleição conquistou grandes segmentos da classe trabalhadora [10]. Mude os nomes e isso parece uma descrição do momento atual.

A defesa [dessa previsão] não é uma consolação. Estou zangado com o que aconteceu e com o fato de tudo isso ser previsível. Eu me sinto como Randall Mindy no filme Não olhe para cima — especificamente nacena [11] em que ele está gritando e chorando em direção ao céu, dizendo que tentou alertar a todos. E estou furioso com aqueles que ainda fingem estar surpresos, sejam os liberais viciados em TV a cabo, personificando o provérbio sobre a cegueira [12], ou os comentaristas e políticos que encarnam o famoso aforismo de Upton Sinclair [13].

No entanto, talvez exista aqui um lado positivo. Talvez a derrota provoque um despertar. Talvez finalmente todos ignorem os comentaristas que continuar a dizer que os democratas fizeram uma campanha “impecável” [14]. Talvez as pessoas finalmente reconheçam, aceitem e internalizem os acontecimentos que estavam óbvios há tanto tempo. E talvez, a partir disso, as coisas possam melhorar.

O que segue são algumas das grandes perguntas que muitas pessoas têm me feito e minhas respostas preliminares. Pense nisso como um FAQ [Perguntas Frequentes] sobre o que acabou de acontecer — um manual proverbial para os politicamente derrotados [15].

Qual é a teoria do Partido Democrata para vencer eleições?

Pouco antes da eleição de 2016, o senador democrata Chuck Schumer afirmou [16]: “Para cada democrata operário que perdermos no oeste da Pensilvânia, ganharemos dois [ou] três republicanos moderados nos subúrbios da Filadélfia, e podemos repetir isso em Ohio, Illinois e Wisconsin”. Os principais eleitores indecisos, ele afirmou, “não são democratas operários; são os republicanos com formação universitária”.

Apesar desse ponto de vista ter sido repudiado pelos resultados das eleições de 2016,
Schumer foi nomeado para liderar seu partido como líder da maioria no Senado e
os democratas conduziram sua campanha de 2024 com a mesma teoria operacional
nas semanas finais da corrida eleitoral.

“Ao apresentar seu argumento final este mês, Harris fez campanha quatro vezes com Liz Cheney, a ex-congressista republicana, aparecendo mais com ela do que com qualquer outro aliado”, como descreveu o New YorkTimes [17]. “Ela apareceu mais vezes em outubro com o bilionário Mark Cubando que com Shawn Fain, presidente do UnitedAuto Workers e um dos líderes sindicais com mais visibilidade do país”.

A estratégia não produziu um movimento significativo de eleitores republicanos [18], mas sim uma enorme migração de eleitores da classe trabalhadora para os republicanos.

 

Por que os democratas parecem não querer enfocar no convencimento dos eleitores da classe trabalhadora?

No Diagrama de Venn do Partido Democrata, existe um círculo cheio de políticas que seus doadores corporativos e os bilionários desejam ou podem aceitar, e existe outro círculo cheio de iniciativas que os eleitores querem.

Durante as campanhas, o partido frequentemente evita questões que os eleitores da classe trabalhadora realmente desejam, que poderiam irritar os doadores que lucram com o status quo — coisas como habitação, saúde, salários mais altos e outras iniciativas que impeçam as empresas de transformar os não ricos em Soylent Green. Ao invés disso, o partidogeralmente escolhe fazer campanha sobre questões que atingem ambos os públicos - como os direitos reprodutivos, os elogios à democracia, os discursos de Michelle Obama e as “boas vibrações”.

O centro desse Diagrama de Venn teoricamente recorre aos republicanos Rockefeller, que tinham posições socialmente liberais e economicamente conservadores. Os líderes democratas querem acreditar que estes são os eleitores-chave porque isso não perturba sua fórmula de apaziguamento dos doadores.

Para que os democratas aceitem que os republicanos Rockefeller ou os que se opõem a Trump realmente não existam como um significativo bloco eleitoral com influência - e que aceitem ainda que um eleitorado muito maior (e crescente) da classe trabalhadora é o verdadeiro voto devirada - exigiria centralizar um programa econômico populista que ofenderia os grandes doadores democratas.

Mas, como o partido está atualmente orientado, existe uma situação que impede essa virada, o que explica as semanas finais autodestrutivas da campanha democrata de 2024.

 

Por que os eleitores da classe trabalhadora tem abandonado o Partido Democrata há anos?

Quando Bill Clinton forçou o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) para passar em um Congresso Democrata no início dos anos 1990, os distritos mais democratas afetados pelo comércio nos EUA rapidamente se tornaram os distritos mais republicanos do país. Como mostra um estudo detalhado [19], os eleitores da classe trabalhadora, culturalmente conservadores, que aderiram ao Partido Democrata devido a suas políticas econômicas, viram o acordo comercial como uma prova de que não havia razão para continuar o apoiando.

Depois, veio a campanha populista do ex-presidente Barack Obama em 2008, sustentando a perspectiva de verdadeiras medidas severas contra os vilões de Wall Street que pilharam a classe trabalhadora durante a crise financeira. O apelo causou um mandato eleitoral massivo, que fez com que Obama, então, o utilizasse para continuar resgatando seus doadores bancários [20], distribuindo cartões de saída da prisão aos executivos de Wall Street [21], enquanto fazia muito pouco [22] para ajudar milhões de eleitores da classe trabalhadora que estavam sendo despejados de suas casas.

Essa traição provocou uma onda da classe trabalhadora [23] em direção a Trump em sua primeira candidatura presidencial e um ressurgimento do populismo de direita (seguindo um padrão semelhante ao de muitos países depois de uma crise financeira) [24]. Mais tarde, Obama escreveu [25] de seu castelo em Martha’s Vineyard [26] que fazer algo diferente “teria exigido uma violência contra a ordem social, uma ruptura nas normas políticas e econômicas”. Apenas agora, dezesseis anos depois [27], os apoiadores de Obama parecem ter uma espécie de suspeita de que suas decisões, quando converteram um mandato eleitoral populista em um resgate aos banqueiros, podem ter abalado a fé dos eleitores da classe trabalhadora nos democratas — e na democracia.

De fato, os democratas tiveram uma terceira chance de conter o sangramento com o Plano de Resgate Americano de Joe Biden em 2021, que foi um enorme e incrivelmente popular investimento na classe trabalhadora [28]. No entanto, a legislação expirou e milhões de famílias da classe trabalhadora viram benefícios populares serem arrancados [29], enquanto ainflação e a pobreza disparavam. Então, veio a reação do dia das eleições. Novamente.

 

Como tudo isso se relaciona às lutas internas do Partido Democrata ao longo dos últimos anos?

Os democratas tiveram um pior desempenho [30] entre os eleitores da classe trabalhadora, os jovens [31], os homens [32] e os latinos [33] — os blocos de eleitores específicos [34] em que Bernie Sanders teve um bom desempenho em suas campanhas presidenciais.

Como observa Krystal Ball, do programa Breaking Points [35], uma conclusão lógica [36] é que as pesquisas de boca de urna em 2024 refletem a ostracização vingativa da instituição democrata em relação a Sanders e seu movimento nos últimos oito anos.

De fato, marginalizar os apoiadores de Sanders na mídia alinhada ao Partido Democrata, mantendo as figuras associadas a Sanders fora do governo Biden, classificando pejorativamente os apoiadores de sua agenda de classe como “Bernie Bros”, o vaiando [37] por defender programas sociais universais ao invés de ceder às políticas de identidade - tudo isso antecedeu Trump ao construir a coalizão multirracial da classe trabalhadora, que deveria ser a razão de ser do Partido Democrata.

A hostilidade dos líderes democratas ao estilo populista de Sanders também chegou nos temas da campanha de Kamala Harris. Apesar de alguns de seus anúncios televisivos focassem na economia, essa não foi a questão central de sua campanha — e isso se deve, como relatado, à pressão de seus doadores [38] e de seu time de oligarcas.

“Harris começou a campanha retratando Trump como um fantoche dos interesses corporativos - e se promoveu como uma inimiga implacável das grandes empresas”, relatou Franklin Foer, da revista TheAtlantic [39]. “Então, subitamente, esse tom populista desapareceu. Um assessor de Biden me disse que Harris se afastou de mensagens tão duras a pedido de seu cunhado, Tony West, diretor jurídico da Uber. Para ganhar o apoio dos CEOs, Harris abandonou um forte argumento que desviou a atenção de um de seus pontos mais fracos”.

 

Mas os democratas não estão sendo espertos ao tentar ser um partido de grande alcance?

A questão central em todas as campanhas políticas — e a questão pela qual os eleitores acabam julgando os candidatos — é aquela da música de Pete Seeger [40]: De que lado você está?

Não importa o quão desonesta e fraudulenta foi sua resposta a essa pergunta, Donald Trump pelo menos fingiu oferecer uma resposta clara — sua resposta foi a “América em primeiro lugar”.

Os democratas, por outro lado, se recusaram a considerar seriamente a questão. Sob a bandeira de serem “grande alcance”, o partido escolheu, ao contrário, retratar um mundo fantasioso, em que vilões além de Trump são raramente nomeados e que ninguém tem que escolher quem possui poder, dinheiro, autoridade e credibilidade - e quem não tem.

Em sua narrativa, não existem escolhas de soma zero, mas sempre terceiras vias. É um mundo em que um presidente pode “unir trabalhadores, pequenos empresários, empreendedores e empresas estadunidenses”, como Harris prometeu [41] - sem nunca ter de escolher um lado.

É um mundo no qual o belicista Dick Cheney, a cantora pop Taylor Swift e Sanders possuem méritos igualmente validadores, como o candidato à vice-presidência Tim Walz insinuou [42] - e nenhum julgamento moral deveria ser feito.

É um mundo no qual os democratas destacam um discurso de Bernie Sanders [43] na convenção em que ataca os bilionários, imediatamente seguido [44] por uma fala de um bilionário se gabando de ser bilionário e, então, uma fala de um ex-CEO de uma empresa de cartão de crédito declarando que o candidato presidencial dos democratas “compreende que o governo deve trabalhar em parceria com a comunidade empresarial”.

Resumindo, é um mundo no qual os democratas nunca terão que escolher entre enriquecer seus doadores e auxiliar os eleitores que estão sendo enganados por esses doadores.

Os estadunidenses sabem que esse mundo não existe porque os candidatos e os
partidos que fingem isso perdem tão frequentemente, mesmo para charlatões de
direita.

 

Quais foram as táticas mais eficazes dos republicanos para conquistar os eleitores da classe trabalhadora?

Trump fez como Ross Perot e fez campanhas para tarifas - uma ideia popular [45] concebida como uma proposta de política e como um retorno à traição original dos democratas com o NAFTA. E - é claro - os democratas morderam a isca ao criticar a iniciativa [46] ao invés de contrapor com algo mais inteligente.

Trump e sua máquina republicana também gastaram toneladas de dinheiro [47] em propagandas antitrans moralmente repugnantes. Sem dúvida, esse foi o objetivo específico de atrair transfóbicos, mas sua concepção também foi projetada para retratar Harris e os democratas (usando seus termos [48]) como “estranhos” - ou seja, muito focado em causas sociais e políticas identitárias ao invés de questões práticas, como a inflação.

O slogan cínico das propagandas reiterou a mensagem da campanha de Trump sobre o lado em que se está: “Kamala é para elus. Trump é para você.”

 

Por que os democratas não conseguiram convencer os eleitores da classe trabalhadora sobre seu histórico econômico?

O desempenho macroeconômico dos EUA permanece forte. Muitas das políticas de Joe Biden contribuíram para esse desempenho [49] e também — pela primeira vez em décadas — realmente desafiaram alguns dos piores predadores corporativos na economia [50]. Então, por que isso não convenceu mais eleitores da classe trabalhadora a continuarem com os democratas?

Alguns comentaristas retratam a classe trabalhadora como uma massa irracional, enganada por uma mídia pessimista [52] que se recusa a comunicar boas notícias econômicas. Provavelmente existe uma verdade na crítica à mídia, mas os estadunidenses não são estúpidos - o macroeconômico pode estar robusto, mas a experiência diária dessa economia é brutal para os não ricos [53]. Após mais de quarenta anos de um plano mestre [54] que destruiu o New Deal e o contrato social, [o sistema] se tornou um pântano de custos crescentes [55] e uma burocracia para obter as necessidades mais básicas da vida.

Em quatro das últimas seis eleições presidenciais - e nas três últimas - os estadunidenses tem expressado sua raiva compreensível dessa realidade exercendo um dos poucos poderes democráticos que ainda lhes resta: votar para retirar o partido no exercício do poder da Casa Branca. Desta vez, o partido era o Partido Democrata.

Somando-se a esse problema estrutural estavam as limitações do próprio Biden. No início deste ano, os assessores da Casa Branca retrataram [56] os problemas cognitivos de Biden como se não fosse interferir em sua capacidade de trabalhar - mas isso distorceu o que o trabalho realmente é. Ser presidente é muito menos sobre tomar decisões no Salão Oval e muito mais sobre vender as políticas de uma administração. Biden provou que um partido político não pode vender uma agenda econômica sem um vendedor. Os democratas também provaram que, apensar da repreensão de Obama em dizer o contrário [57], não existe honra em recusar deliberadamente a vender as realizações do partido.

 

Por que os estadunidenses decidiram votar contra a “salvação da democracia”?

Trump conquistou [58] a maioria dos votos daqueles que disseram na boca de urna que a democracia está ameaçada. Portanto, mesmo quando o Partido Democrata tentou se colocou como o Único Verdadeiro Defensorda Democracia, muitos estadunidenses acreditaram no oposto - o quedificilmente surpreende, considerando que o candidato presidencial do partido se tornou o indicado sem que um único voto fosse registrado e sem sequnem mesmo uma convenção aberta.

Tendências autoritárias antidemocráticas certamente existem em partes do eleitorado [59]. E se a experiência econômica dos estadunidenses piorar e o governo for visto como cúmplice, tais tendências provavelmente se intensificarão, como alertou o presidente Franklin D. Roosevelt.

“A democracia tem desaparecido em várias outras grandes nações, não porque o povo dessas nações não gostem da democracia, mas porque estavam cansados do desemprego e da insegurança, de verem seus filhos com fome enquanto permaneciam impotentes diante da confusão e fraqueza do governo pela falta de liderança”, disse em um discurso de rádio em 1938. “Finalmente, em desespero, escolheriam sacrificar a liberdade na esperança de conseguir algo para comer”.

 

O que os democratas podiam ter feito para vencer a eleição?

Harris deliberadamente concorreu como uma democrata genérica, apostando que evitar riscos seria suficiente para derrotar um Trump impopular. Mas evitar riscos é, por si só, arriscado para um partido incumbente no poder em meio a um descontentamento latente [60].

Uma alternativa poderia ter sido Harris apostar a campanha em uma ou duas propostas importantes, fáceis de entender, cujos benefícios poderiam ser inegavelmente claros para os eleitores da classe trabalhadora. Por exemplo: um pouco antes de ser colocado na chapa, o governador Tim Walz disse [61] que a principal prioridade dos democratas deveria ser a licença familiar universal paga - uma ideia amplamente popular [62]. Mas, como Walz foi o candidato a vice-candidato, foi a última vez que alguém ouviu falar disso.

Outra estratégia poderia ter sido Harris canalizar a campanha presidencial de John McCain em 2000 e apostando tudo em uma cruzada anticorrupção. Aproveitando sua imagem de lei e ordem, poderia ter prometido aumentar os processos por corrupção pública e aprovar novas leis de ética e financiamento de campanhas - todas destacando implicitamente a corrupção de Trump. Mas em uma campanha cujo maior doador [63] era um grupo de dinheiro obscuro, decidiu não seguir esse caminho.

Ainda outra estratégia poderia ter sido Harris apostar toda a campanha em uma promessa de enfrentar e superar a Suprema Corte impopular e flagrantemente corrupta, moldada por Trump. Estamos falando da expansão do tribunal, limites de mandato para juízes, regras de ética — qualquer coisa que destacasse o uso da corte como uma arma do plano mestre corporativo e da extrema-direita. Mas, novamente, isso não aconteceu.

Essas são todas contrafactuais, então não podemos saber com certeza se teriam feito uma diferença. Mas, considerando quão acirrada foi a eleição nos principais estados decisivos [64], é inteiramente possível que uma estratégia diferente teria levado a um resultado bem diferente.

 

Como ambos os partidos abordaram a mídia durante a eleição?

Os conservadores construíram um ecossistema midiático independente e robusto, com o qual os republicanos frequentemente utilizam e que Trump explorou [65] para alcançar grandes públicos de eleitores descontentes.

Os liberais, ao contrário, confiam [66] e fetichizam a mídia corporativa tradicional, deixando a mídia independente não alinhada ao MAGA com poucos recursos (enquanto os grandes doadores democratas financiam [67] grupos políticos que fingiam ser veículos de notícias independentes). Os políticos democratas não gostam de se engajar ou cultivar uma mídia independente que lhes possa fazer perguntas desconfortáveis. Ao invés disso, enfocam em conseguir espaço na MSNBC para se comunicar com eleitores liberais ricos que já votam nos democratas. Consequentemente, Harris passou grande parte da campanha se escondendo [68] da mídia em geral e evitando a mídia independente especificamente.

Essa assimetria entre republicanos e democratas provavelmente se tornará uma desvantagem política ainda maior para estes últimos, à medida que a mídia corporativa perde audiência em meio à sua crise de credibilidade.

 

O que faremos agora?

Essa é semprea grande questão após eleições [69]. Respire fundo. Medite. Abrace seus amigos e familiares. Fique calmo e lembre-se de que nada nunca esteve sob controle.

Direcione sua raiva para o alvo certo — o Partido Democrata nacional, que decidiu ser o Cheet Lock [uma barreira frágil] entrenós e o autoritarismo. Seus agentes mantiveram Biden na disputa até que fosse tarde demais para uma primária contestada e, depois, lucraram milhões perdendo mais uma campanha para Trump. Canalize sua raiva para corrigir e assumir o controle desse partido para que isso nunca aconteça novamente.

Não se desengaje. Candidate-se para cargos locais. Pressione seus representantes locais a usar todo poder e a plataforma que têm para obstruir a agenda extrema de Trump. Participe de um grupo cívico ou de um sindicato. Construa a comunidade. Olhe para as vitórias da democracia direta em Nebraska, Maine e Missouri [70] - e, então, apoie uma iniciativa eleitoral no seu próprio estado.

Diversifique suas fontes de informação para que você seja exposto a algo além da mídia oligárquica que continua parecendo uma paródia de George Orwell [71], mesmo após a eleição. Incentive sua família e amigos a pararem de se fechar dentro da bolha da mídia corporativa e de seus comentaristas, e apoie a mídia de esquerda para podermos contratar mais repórteres para fazer o jornalismo que responsabiliza os poderosos.

 

[23] https://www.nytimes.com/2016/11/10/upshot/why-trump-won-working-class-whites.html
[24] https://www.ifo.de/DocDL/dice-report-2017-4-funke-trebesch-december.pdf
[25] https://theweek.com/articles/950908/obama-pretender
[26] https://www.homesandgardens.com/news/president-obama-new-house-marthas-vineyard
[27] https://x.com/davidsirota/status/1854943377407475951
[28] https://www.dataforprogress.org/blog/2021/3/9/voters-support-american-rescue-plan-25pjp
[29] https://jacobin.com/2022/07/pandemic-aid-financial-disaster-us-census-data-biden-administration-inflation-relief programs
[30] https://www.reuters.com/world/us/trumps-return-power-fueled-by-hispanic-working-class-voter-support-2024-11-06/
[31] https://www.newsweek.com/democrats-genz-kamala-harris-trump-election-1981590
[32] https://www.vox.com/politics/383154/trump-victory-men-podcasters
[33] https://www.wsj.com/politics/elections/trump-latino-voters-election-2024-f588791b
[34] https://www.vox.com/2020/3/11/21174591/bernie-sanders-latino-young-voter-coalition-michigan e https://www.npr.org/2016/03/13/470278253/bernie-sanders-has-strength-among-white-men-pinched-by-the-economy
[35] https://www.dropsitenews.com/p/bernie-would-have-won
[36] https://www.dropsitenews.com/p/bernie-would-have-won
[37] https://www.foxnews.com/politics/bernie-sanders-visibly-frustrated-after-hecklers-unload-at-she-the-people-forum-for-women-of-color
[38] https://x.com/HeerJeet/status/1854706735815999988
[39] https://www.theatlantic.com/politics/archive/2024/11/biden-harris-2024-election/680560/
[40] https://www.youtube.com/watch?v=9XEnTxlBuGo
[41] https://www.nytimes.com/2024/08/23/us/politics/kamala-harris-speech-transcript.html
[42] https://www.foxnews.com/politics/tim-walz-boasts-about-having-support-dick-cheney-bernie-sanders-taylor-swift-during-wisconsin-rally
[43] https://x.com/davidsirota/status/1854893591987990622
[44] https://www.levernews.com/master-plan-ep-11-are-we-doomed-to-a-master-planned-future/
[45] https://www.bloomberg.com/news/articles/2024-10-17/trump-s-tariff-plans-are-dilemma-for-harris-as-she-courts-voters
[46] https://www.nbcnews.com/politics/2024-election/harris-calls-trumps-tariff-proposals-sales-tax-american-people-rcna172627
[48] https://www.pbs.org/newshour/show/why-anti-transgender-political-ads-are-dominating-the-airwaves-this-election
[49] https://www.npr.org/2024/08/13/1197958321/its-been-a-minute-weird-tim-walz-kamala-harris
[50] https://www.cbsnews.com/news/trump-anti-trans-ads-spending/
[51] https://www.thenation.com/article/economy/debate-economy-bad-media/ e https://www.latimes.com/opinion/story/2024-10-31/election-kamala-harris-donald-trump-gdp-economy
[52] https://www.stephensemler.com/p/the-economy-is-fine
[53] https://www.masterplanpodcast.com/
[54] https://www.marketwatch.com/story/only-a-tiny-fraction-of-renters-can-afford-to-become-a-homeowner-today-e3cbdfb7, https://www.shrm.org/topics-tools/news/benefits-compensation/health-care-costs-2024-growth-wtw-buck e https://www.nerdwallet.com/article/finance/price-of-food
[55] https://www.kff.org/mental-health/press-release/kff-survey-shows-complexity-red-tape-denials-confusion-rivals-affordability-as-a-problem-for-insured-consumers-with-some-saying-it-caused-them-to-go-without-or-delay-care/
[56] https://www.rollingstone.com/politics/politics-news/biden-white-house-mental-acuity-cognitive-test-1235053064/
[57] https://x.com/BarackObama/status/1851092328796045650
[58] https://edition.cnn.com/election/2024/exit-polls/national-results/general/president/0
[59] https://www.prri.org/press-release/survey-four-in-ten-americans-are-susceptible-to-authoritarianism-but-most-still-reject-political-violence/
[60] https://jacobin.com/2024/11/harris-trump-election-democrats-workers
[61] https://jacobin.com/2024/08/harris-walz-populism-neoliberalism-vibes
[62] https://navigatorresearch.org/creating-a-nationwide-paid-leave-program-and-bolstering-medicares-negotiating-power-are-overwhelmingly-popular/
[63] https://readsludge.com/2024/11/02/a-dim-milestone-for-dark-money-in-politics/
[64] https://x.com/jwdwerner/status/1854689541019324555
[65] https://www.bostonglobe.com/2024/11/07/business/trump-mainstream-media-2024-election/
[66] https://www.pewresearch.org/journalism/2020/01/24/democrats-report-much-higher-levels-of-trust-in-a-number-of-news-sources-than-republicans/
[67] https://www.cjr.org/covering_the_election/democrats-left-new-partisan-media-entrepreneurs.php
[68] https://www.axios.com/2024/09/19/harris-media-strategy-hide-election
[69] https://www.youtube.com/watch?v=myEpap3TxVs
[70] https://x.com/davidsirota/status/1854783274435961133
[71] https://www.nytimes.com/interactive/2024/11/05/us/elections/results-nebraska-initiative-436-require-paid-sick-leave.html, https://www.nytimes.com/interactive/2024/11/05/us/elections/results-maine-question-1-limit-contributions-to-super-pacs.html, https://missouriindependent.com/2024/11/05/missourians-vote-to-increase-minimum-wage-require-paid-sick-leave/ e https://www.nytimes.com/interactive/2024/11/05/us/elections/results-missouri-amendment-3-right-to-abortion.html
[72] https://x.com/davidsirota/status/1854887516047917242