Grécia vai às urnas no domingo e pode regressar em julho

Pela primeira vez em mais de 40 anos, as legislativas gregas não terão o "bónus" de 50 deputados para o partido mais votado. Se não houver maioria para governar, há nova eleição daqui a mês e meio.

O confronto entre Nova Democracia e Syriza sobre quem está em melhor posição para liderar o próximo Governo grego está agora na sua reta final. As sondagens publicadas na imprensa dão ao partido da direita liderado por Kyriakos Mitsotakis uma vantagem de sete pontos sobre o rival Alexis Tsipras. Mas o líder do Syriza apela nos comícios ao povo para não olhar para as sondagens, lembrando que no passado erraram sempre quanto à votação no seu partido, já para não lembrar o falhanço estrondoso no referendo ao memorando da troika, cujo resultado contrariou todas as sondagens publicadas.

Apesar de o Syriza reclamar mais transparência e que sejam divulgados as informações que estão na base destes inquéritos, tanto a associação das empresas de sondagens como a Nova Democracia se opõem a essa divulgação. A oposição diz estranhar que o apoio ao partido do Governo tenha crescido nas sondagens após o acidente ferroviário que deu origem a manifestações e greves contra a privatização da ferrovia ou após o escândalo de espionagem dos serviços que dependem do gabinete de Mitsotakis sobre militares, políticos e jornalistas gregos.

O portal de notícias europeias Euractiv diz que as multinacionais que operam em Atenas fazem as suas próprias sondagens, recorrendo ao tradicional método do questionário porta a porta e usam também algoritmos que têm em conta os desvios das restantes sondagens para tentar fazer uma média mais fidedigna do que se vai publicando na imprensa. O resultado da sondagem de 12 de maio a que o portal teve acesso, em números absolutos e não percentagem, diz que há um empate técnico: 1,89 milhões de votos para a Nova Democracia, 1.86 milhões para o Syriza e 510 mil para os socialistas do Pasok.

A confirmar-se este empate na noite do próximo domingo, isso tornará quase impossível a tarefa do vencedor em formar um executivo, pois desta vez quem ganhar não terá o bónus de 50 deputados que conduz à maioria no Parlamento. Uma alteração à lei eleitoral feita ainda pelo governo do Syriza e que só agora entra em vigor. Mas que foi entretanto revogada pela Nova Democracia, o que significa que em caso de novas eleições - provavelmente a realizarem-se a 2 de julho - o maior partido voltará a contar com um bónus de pelo menos 30 deputados. Ou seja, em vez dos 46% necessários para a maioria absoluta este domingo, serão necessários apenas 37% nas eleições segunites. A média das sondagens publicadas colocam a Nova Democracia com 36,6%, o Syriza com 29,5% e o Pasok com 10,3%.

Apesar de esse cenário ser visto como o mais provável, Alexis Tsipras tem insistido nos últimos dias em lançar o desafio aos socialistas para uma eventual coligação de governo, mas sublinhando sempre que isso seria "entre o partido mais votado e o terceiro partido mais votado". Ou seja, não admite abertamente vir a formar governo caso o Syriza fique atrás da Nova Democracia. Uma aliança que poderia estender-se ainda ao partido de Varoufakis, apesar da velha discórdia entre este e Tsipras e das acusações dos socialistas ao ex-ministro das Finanças de pretender tirar a Grécia do euro.

A última semana de campanha tem sido marcada pela troca de acusações sobre o programa económico, com Tsipras a defender a redução do IVA sobre os produtos alimentares e a estimar o curso das suas medidas em 5.5 mil milhões de euros anuais, o que representa menos de metade dos apoios que o atual Governo concedeu no ano passado para o pagamento da fatura da energia e que o Syriza acusa de serem ajudas aos lucros excessivos das empresas do setor. O antigo primeiro-ministro defende também a subida do salário mínimo para os 880 euros e depois ao ritmo da inflação, o aumento de 10% nos salários da função pública e de 7,5% nas pensões.

Por seu lado, Mitsotakis promete quatro anos de aceleração do crescimento económico, depois de ter gasto 50 mil milhões em medidas de apoio social desde 2020 para enfrentar a pandemia, a inflação e o aumento dos custos com energia, a par dos aumentos das pensões e também do salário mínimo, que passou para 780 euros. Quanto à redução da dívida, defende a negociação de mais tempo para o fazer enquanto promete superavites anuais de 2% nas contas públicas.