Grécia: vitória da direita sem maioria absoluta, novas eleições à porta

A Nova Democracia acabou com uma vantagem clara de cerca 20% sobre o Syriza. Só que como não chegou à maioria absoluta e não há coligações expectáveis, o país deverá voltar às urnas em cerca de um mês.

A direita venceu as eleições legislativas gregas deste domingo. Apesar da crise inflacionária, do escândalo das escutas a adversários políticos e do brutal acidente ferroviário de fevereiro que chocou o país e gerou protestos massivos, o primeiro-ministro em funções, Kyriakos Mitsotakis deverá continuar no cargo. Mas não para já.

Com mais de 92,19% dos votos contados, o partido de direita tem 40,8% dos votos (146 deputados) em contraste com a segunda força política mais votada, o Syriza, que se fica pelos 20,6% (71 deputados).

Como o patamar da maioria absoluta não foi atingido, isto significa, muito provavelmente, que o país voltará às urnas em menos de um mês para resolver o impasse. Katerina Sakellaropoulou, a presidente da República grega, tinha dito na segunda-feira que daria aos três maiores partidos três dias, a cada um, para formarem um governo de coligação. Findos os quais nomearia um governo de gestão e convocaria eleições. Nessas eleições, é esperado que o bónus de dezenas de deputados para o partido mais votado produza uma maioria absoluta e um novo governo. Sendo os resultados deste domingo um indicador do que poderá então suceder.

No parlamento grego ficarão representadas desde já cinco forças políticas. Para além da Nova Democracia e do Syriza, entram também os socialistas do Pasok (com 11,5%, 41 deputados), os comunistas do KKE (com 7,18%, 26 deputados) e a extrema-direita da Solução Grega (com 4,46%, 16 deputados) . De fora ficou o MeRa do ex-ministro das Finanças Yanis Varoufakis que não conseguiu passar o limiar mínimo de 3%, perdendo assim os nove deputados que tinha no Parlamento.

Mitsotakis, o líder da Nova Democracia, cantou vitória nas suas declarações dizendo que o resultado foi um “terremoto político”, que tem um mandato para formar um governo forte e autónomo e que “os resultados mostram que a Nova Democracia tem a aprovação do povo governar, de forma forte e autónoma”. E um governo forte é preciso porque “com um governo frágil” não poderão acontecer reformas.

Do lado dos vencedores da noite também está o partido de extrema-direita Solução Grega que ganhou mais seis deputados do que os dez que já tinha. O seu líder, Kyriakos Velopoulos, gaba-se do “sistema” ter querido afastar o partido do parlamento mas este “passou pelas chamas e saiu ileso”.

Pelo Syriza, Alexis Tsipras concedeu derrota, avaliando o resultado como "extremamente negativo" mas garantiu que “o ciclo eleitoral ainda não acabou”. Na noite eleitoral, convocou reuniões de emergência de todos os comités do partido para "fazer imediatamente todas as mudanças necessárias para lutar na "próxima batalha eleitoral crítica e final da melhor forma".

Os socialistas do Pasok não se juntam aos vencedores da noite, mas o seu resultado não é tão mau quanto a sua direção chegou a temer dadas as sondagens e corresponde a uma quase duplicação do número de deputados das eleições anteriores. Por isso, Nikos Androulaki mostrou-se relativamente contente e falou num “grande dia” para a democracia.

Os comunistas do KKE aumentaram a votação e o número de deputados (mais onze do que em 2019), o que Dimitris Koutsoubas considerou serem “mensagens de esperança”. Acusa o novo modelo eleitoral que desembocará em novas eleições e dará vantagem ao partido mais votado “não porque não se possa formar um governo, mas porque querem distorcer o voto do povo”.