12 de maio de 2025
Internacional
A nova conjuntura internacional aberta com o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos continua a se aprofundar. Longe de ser uma mera alternância de poder, Trump inaugura um novo momento do imperialismo e da extrema direita global. Já nos primeiros 100 dias de governo, uma série de medidas repercutem em caos geopolítico, choques comerciais, ataques sistemáticos aos direitos humanos e escalada militar no Oriente Médio.
Os inimigos principais também já foram delimitados, mas a lista pode continuar a crescer. De um lado, a China, que até agora não deu o braço a torcer, mas sabemos que Irã, Venezuela e possivelmente Cuba estão na mira. De outro lado, do ponto de vista interno, cresceram os ataques a imigrantes, ativistas a favor da Palestina, pessoas LGBTI+ e especialmente as trans e até mesmo às próprias universidades. Leis que remontam à segunda guerra mundial sobre imigração estão sendo usadas para calar dissidentes e o contexto é tão grave que o novo governo já tem recorrido até mesmo a ameaças e detenção pelo FBI de juízes que proferiram decisões não alinhadas a esse projeto. Esse é o projeto de poder da extrema direita: dilapidar a democracia e espalhar medo e insegurança para oferecer soluções cada vez mais autoritárias e reacionárias.
Nesse contexto, o “tarifaço” representa a imposição de um choque na economia mundial sem precedentes nos últimos quarenta anos. Para defender a supremacia de Washington no sistema de Estados mundial, essa política protecionista junto à anti globalização de direita se sustenta em uma promessa interna de volta ao passado, aos “anos dourados” do pós-guerra, buscando responder às frustrações de parte da classe trabalhadora e setores médios estadunidenses. Mas não parou por aí. A ofensiva neocolonial também se traduziu na ameaça de anexação da Groelândia, na retomada do controle do canal do Panamá, nas exigências de alinhamento incondicional da União Europeia, nas ameaças de intervenção militar no México para combater o narcotráfico e no apoio ao projeto de Israel de limpeza étnica na Faixa de Gaza.
Estamos assistindo a uma nova fase do genocídio do povo palestino que ganhou novos contornos após o último encontro de Donald Trump e Benjamin Netanyahu. Israel intensificou os bombardeios aéreos e as operações terrestres em Gaza desde que rompeu a trégua em 18 de março, mas na última semana aprovou um plano ainda mais ofensivo de expansão das operações militares em busca da conquista do território e do deslocamento da população. Essa é a principal tragédia humanitária em curso nesse momento em um mundo que tem se tornado mais perigoso. Por toda a Europa, as elites e governos anunciam o retorno a uma economia de guerra e planejam investimentos inéditos, desde a última guerra mundial, para reindustrializar o país em uma nova corrida armamentista. Com isso, ficam ainda mais para trás os serviços públicos, os direitos sociais e a transição ecológica.
Através da colaboração de Elon Musk e seu departamento de destruição do serviço público, o Governo Trump promoveu uma política de morte aos pobres e migrantes nos
EUA e fora dele. Substituindo o soft power da política de ajuda humanitária externa estadunidense por cortes abruptos de projetos sociais e ajudas humanitárias em todo o mundo. Cerca de 45% da ajuda humanitária internacional foi cortada através da política promovida por Elon Musk, causando a morte de milhares de pessoas, principalmente em países da África que dependem de ajuda internacional para tratamento de HIV/AIDS e também de refugiados das guerras da Síria e Ucrânia, dos sobreviventes de Gaza e da população do Vietnã que até hoje precisa de ajuda internacional para desativar minas terrestres colocadas pelos EUA na guerra de 1960.
Todas essas medidas também encontram um mundo mais suscetível a eventos climáticos extremos e aos perversos efeitos da crise climática. A desmoralização do Acordo de Paris e a intensificação da exploração de petróleo obedecem a essa lógica de industrializar setores estratégicos a qualquer custo. Ainda, a disputa pela superioridade entre Estados Unidos e China atravessa também o mercado militar industrial, as nanotecnologias, as big techs e a Inteligência Artificial. Sendo assim, os próximos anos vão definir não apenas o futuro sobre o uso da tecnologia, mas também o equilíbrio de poder global, com implicações econômicas, militares e sociais em escala mundial.
Frente a esses novos dilemas de um mundo cada vez mais polarizado pela extrema direita, a primeira tarefa do PSOL no plano internacional é apoiar iniciativas no terreno eleitoral, da articulação política e das mobilizações sociais que busquem combater o crescimento da extrema direita ao redor do mundo. Nos apoiamos nos bons exemplos de luta e resistência frente ao neofascismo, como vimos com a recente greve geral argentina contra Milei, os comícios de milhares contra Trump e as oligarquias nos Estados Unidos, a postura altiva da esquerda equatoriana diante das fraudes eleitorais de Daniel Noboa, a reação de governos como Claudia Sheinbaum e Gustavo Petro em defesa da soberania do México e da Colômbia e a possibilidade de desdolarizar a economia mundial através dos BRICS. É, nesse sentido, que também buscamos fortalecer as lutas e iniciativas anti-imperialistas para resistir à tentativa de Donald Trump de transformar a América Latina no “quintal dos Estados Unidos”, bem como ajudamos a construir a solidariedade ativa ao povo palestino e em defesa da paz.